RENASCER – 07 Abril de 2013

1. O tempo da Páscoa coincide com a Primavera. Tudo parece renascer. As chuvas vão diminuindo, o sol torna-se mais quente, as árvores já têm rebentos, é a natureza que acompanha a alegria que a Páscoa traz consigo. Até que ponto são os cristãos capazes de celebrar o seu renascer acompanhando o maravilhoso mistério da ressurreição de Cristo? Durante três dias, no Tríduo Pascal, a Igreja foi revivendo todos os acontecimentos que levaram Jesus ao suplício da cruz e reviveu também o segredo do sepulcro vazio e as muitas aparições aos discípulos. É certo que todos duvidavam. Confirmou-se, porém, a Ressurreição. “Não procurem entre os mortos Aquele que está vivo” (Lc 24, 5), disseram dois homens vestidos de branco às mulheres que levavam perfumes para o sepulcro de Jesus. A partir daí, Madalena anunciou Jesus Ressuscitado. Pedro e João viram e acreditaram. Os discípulos de Emaús reconheceram-n’O no partir do pão. Os pescadores do Lago de Tiberíades disseram, “é o Senhor”. Os quinhentos irmãos no Monte das Oliveiras tiveram a certeza de que Jesus ressuscitara. A ressurreição de Cristo obriga a renovar tudo e todos, metendo em cada acontecimento os autênticos valores do Evangelho. Com a Ressurreição tudo se torna novo, confirmando as Escrituras e as tradições.

• No Antigo Testamento, Ezequiel pede ao Senhor que lhe dê um coração novo e um espírito novo, que tire do seu peito o coração de pedra e lhe dê um coração de carne, um coração capaz de amar (cf. Ez 36, 26).

• O Apóstolo Paulo, nas suas Cartas, insiste sempre na construção do homem novo, marcado pela novidade de Jesus Cristo. Ele sente que Cristo com a sua Ressurreição convida a deitar fora tudo o que é velho para se iniciar uma nova vida, a vida de ressuscitados.

• O Apocalipse de S. João chega a afirmar “eis que faço novas todas as coisas”. À luz da Ressurreição de Cristo tudo tem de ser diferente, tudo deve ser melhor (cf. Ap 21, 5).

• A Igreja de hoje quer também renascer. Depois dos anos de grande sofrimento, o Papa Francisco propõe-se reconstruir a Igreja a partir dos seus alicerces como o “poverello” de Assis. Não é a reconstrução de ruínas, o que se pretende é o renascer no amor para que, liberta do pecado, possa a Igreja viver um tempo de esperança e de salvação para o mundo.

O tempo da Páscoa constitui por si um convite à renovação. Deixar o homem velho e acolher o homem novo é missão pastoral indispensável às comunidades cristãs.

2. E o que é isto do homem novo? Ao ler a narrativa evangélica sobre a Ressurreição de Cristo há pormenores que nos levam a compreender o que se pretende ao falar de novidade. Os 4 evangelistas falam das inúmeras aparições. Descrevem a surpresa dos Apóstolos e focam pequenos pormenores, todos eles reveladores da mudança de atitude. Pedro e João, que estavam tristes e inertes, vêem-se a correr para o sepulcro que encontram vazio. Os discípulos de Emaús, atormentados pela desilusão, quando Jesus repartiu com eles o pão e O reconheceram, logo partiram ao encontro da comunidade de Jerusalém. Também Tomé, inicialmente incrédulo, cai de joelhos diante de Jesus e diz “meu Senhor e meu Deus”. As mulheres vindas da Galileia, bem como Madalena, que tinham perfumes para deitar no sepulcro, logo se tornaram arautos do grande acontecimento e disseram como o anjo “Ele está vivo, ressuscitou”. Cada um destes pormenores revela a novidade da ressurreição que se torna novidade na vida pessoal de cada um. O renascer pessoal implica três atitudes:

• A definitiva libertação do mal – não basta acusar os pecados e dizer-se arrependido; é essencial deixar todo o mal e passar a viver-se segundo o bem que Jesus anunciou.

• O diálogo com Deus na oração – é insuficiente a oração ritual, seja a Eucaristia dominical, a comunhão frequente, as vigílias, ou a reza do Rosário. Jesus Ressuscitado tem direito a que se lhe dê tempo numa oração de intimidade, através da qual se fala com Ele aceitando os desafios que d’Ele nos chegam pela leitura da Palavra.

• O exercício das boas obras – com Cristo Ressuscitado o cristão tem que descobri-Lo vivo em cada irmão. A partir daí o que cada um fizer ao mais pequenino dos seus, é a Jesus que o faz (cf. Mt 25, 40). Como Cristo nos amou até dar a vida pelos homens, também os cristãos têm que aprender com Ele a dar a vida pelos mais pobres e pelos que mais sofrem. O amor inventa-se para que todos os outros possam sentir-se mais felizes.

Para ser homem novo e nova criatura, o cristão tem estes três ritmos para se renovar e continuar novo para sempre. A libertação do pecado, a oração frequente e as obras de caridade tornam o homem verdadeiramente novo.

3. É necessário conseguir também a renovação das estruturas. Quando o Cardeal Bergoglio escolheu o nome de Francisco, veio à mente de todos a revelação que Francisco de Assis recebera: vai e reconstrói a Igreja. O poverello julgava tratar-se da igreja de S. Damião que estava em ruínas e, por isso, nas ruínas começou a colocar pedra sobre pedra. Veio porém, o Senhor dizer-lhe que a igreja a reconstruir era a de Cristo. Foi isto que o levou a falar com o Papa, a fundar uma ordem mendicante e a revelar ao mundo uma Igreja preocupada com os mais pobres. São as estruturas da Igreja que é preciso renovar.

• O Papa Francisco tem à sua frente um caminho muito difícil. Como renovar as estruturas da Igreja, como fazer dela um sinal de pobreza, como voltá-la definitivamente para os mais pobres? Se purificá-la não é fácil, orientá-la para um projecto novo é muito mais difícil. A renovação da Igreja não está em “varrer” o que se considera errado. Está em “redimir” todas as estruturas para que sejam eficazes no anúncio da Boa Nova.

• O nosso Bispo assume também a missão renovadora. Desde Outubro envolveu o Patriarcado na dinâmica do Ano da Fé. Convida, agora, a celebrar a Semana da Vida, para conseguir-se a sua defesa e promoção integral. E chama, ainda, todos os diocesanos para a celebração da Semana da Fé, entre 26 de Maio e 2 de Junho. Será a Diocese capaz de se renovar profundamente no seu dinamismo interior e, sobretudo, na imagem que dá de si a todos os outros?

• As estruturas da Paróquia devem estar sempre também em renovação. Redescobrir a melhor forma de anunciar o Evangelho, conseguir a participação de todos nas grandes liturgias, ter uma acção social mais coordenada e mais eficaz, tudo isto é missão renovadora da Paróquia. A colaboração é um direito e um dever. Todos estão convidados a dá-la. À sua maneira cada um é agente da renovação necessária.

A vida da Igreja, aos mais diversos níveis, está muitas vezes marcada por rotinas que matam a criatividade. É por isso que a sua renovação é necessária. Quadros novos ajudam a ultrapassar dificuldades, mas o espírito de serviço e a colegialidade na acção provocam a mais rápida renovação. Só com este permanente renascer se é capaz de acompanhar as mudanças constantes da sociedade, lugar onde é urgente anunciar o Evangelho.

4. É preciso renascer, dizia um velho cântico de intervenção. Descubra cada um como renasce a partir da Ressurreição de Cristo. Consigam as comunidades cristãs encontrar o dinamismo que as tornem mais próximas de todos os homens.

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