1. Na tradição portuguesa o Dia da Mãe era vivido a 8 de Dezembro. Evocava-se assim a maternidade de Maria que trouxe à vida o Filho de Deus, Jesus. Celebrava-se também a Padroeira de Portugal que, em Vila Viçosa, fora coroada pelo rei D. João IV. Era uma festa que juntava três realidades muito belas: a maternidade de todas as mulheres, a protecção de Maria Imaculada na sua Conceição e a homenagem de Portugal à sua Rainha, Nossa Senhora. Quando esta celebração se torna universal, vivida não só na Igreja, mas no mundo todo, perdeu-se muita da espiritualidade que a relação com Maria, Mãe de Jesus, continha. Hoje, o Dia da Mãe está muito centrado nos interesses comerciais, com incentivos para comprar coisas caras como testemunho de afecto à mãe de cada um. O marketing pode ter estragado o Dia da Mãe. Para que tal não aconteça, os cristãos devem redescobrir o sentido profundo desta evocação da maternidade, celebrando-a, como em todo o mundo, no primeiro domingo de Maio. Há coincidências muito belas, nesta celebração:
• A maternidade é na mulher a sua maior nobreza. É no facto de ser mãe que se torna original, profundamente diferente do homem. Ela guarda no seu seio, durante nove meses, o filho por nascer. Depois alimenta-o ao peito, meses seguidos, num abraço único, diferente de todos os outros abraços. Acompanha também o filho ao longo de toda a vida.
• A celebração acontece na Primavera, quando todas as plantas começam a desabrochar. É a festa da vida profundamente ligada à vida que todas as mães oferecem à Humanidade.
• Maio é o mês das flores e a mulher é, sem dúvida, pela missão que Deus lhe confiou, a flor primeira que se oferece aos filhos para os fazer felizes. Pelo perfume das suas virtudes, dos seus gestos, dos seus conselhos, a mãe dá aos filhos uma alegria serena que não se apaga mesmo que sejam grandes as dificuldades ao longo da vida.
• Maio é também o mês de Maria. Na sua maternidade Nossa Senhora tornou-se modelo para todas as mulheres. Não lhe foi fácil dar à luz o seu Filho na pobreza de Belém, nem acompanhá-lo no exílio do Egipto, ou no trabalho de Nazaré, como não foi fácil também vê-lo partir para a sua missão, e depois, vê-lo morrer no alto da cruz. Toda a mulher/mãe tem em Maria uma referência para o compromisso de ternura que a leva a acompanhar os seus filhos até ao fim.
Celebra-se o Dia da Mãe no primeiro domingo de Maio. Os cristãos devem superar a tentação de uma festa de futilidades para aprofundar a espiritualidade deste dia, com testemunhos de gratidão à mãe que os trouxe à vida, quer esteja na Terra, quer tenha partido já ao encontro de Deus. Confiar a mãe à Nossa Senhora é uma forma de rezar por ela, de agradecer tudo o que deu, suplicar para ela as maiores bênçãos ou de pedir ao Senhor que a tenha na paz.
2. Afirmar a grandeza da mulher/mãe tornou-se uma urgência no mundo em que a tentação de uma radical igualdade de géneros retira muitas vezes à mulher a beleza extraordinária da maternidade. De facto, a partir da década de 60 aprofundou-se muito a ideia da igualdade entre todos os seres humanos. A mulher emancipou-se da permanente tutela do homem que lhe estava ao lado: valorizou-se culturalmente, escolheu uma profissão, preparou-se para exercê-la com competência, passou a ter independência económica, ultrapassou o homem em muitos aspectos da vida social, porém, tudo isto pode ter empobrecido a marca fundamental da sua vida, ser mãe. Resultaram daí, inúmeros fenómenos que podem ter desequilibrado a Humanidade.
• A inversão da pirâmide demográfica revela que diminuiu assustadoramente o número de crianças a nascer. O estilo de vida no mundo actual levou a mulher a ter medo da maternidade, a diferi-la para mais tarde, eventualmente, para dar garantias de mais qualidade aos filhos. Pelo menos na aparência, ser mãe passou para segundo lugar.
• Destruir a vida antes do nascimento tornou-se, infelizmente, uma prática aceite pelas leis. De facto, a mulher, mais do que pecadora é, muitas vezes, uma vítima quase num beco sem saída, porque numa gravidez surpresa, por todos foi abandonada. Há inúmeras mães “forçadas” pelas circunstâncias a não deixar nascer os seus filhos. É uma das maiores tragédias do mundo actual.
• A gravidez na adolescência marca a vida de muitas jovens surpreendidas com situações que não esperavam. Por vezes tornam-se verdadeiras heroínas, aceitando a vida dos seus filhos contra tudo e contra todos.
• Também há mães que se sentem completamente sozinhas na educação dos seus filhos. Famílias que se desmoronaram, dificuldades económicas que as atingiram, a viuvez inesperada, tudo são situações difíceis que se multiplicam amargurando a vida da mulher/mãe.
• Os lares e residências de idosos têm também muitas mulheres de idade que há muito não vêem os seus filhos. Se é certo que os afazeres ocupam um tempo imenso, é certo também que o coração de muitos filhos deixou de amar, e por isso se não compromete.
Estas e tantas outras situações tornam a maternidade difícil para muitas e muitas mulheres cujo objectivo primeiro devia ser trazer à vida os seus filhos, como forma de realização e alegria. Se alguma vez foi necessário pensar na mulher/mãe, recriar a sua imagem e responder ao seu sonho é dos maiores desafios colocados hoje à sociedade. Que todas as mulheres possam ser mães e que o envolvimento de todos as ajudem a realizar tão nobre missão.
3. A Igreja tem neste dia uma tarefa muito especial: dar ao Dia da Mãe o significado espiritual que ele comporta. A relação das mães com os seus filhos está marcada por uma afectividade profunda. A mulher sonha com a beleza do dia em que vai ser mãe, sofre a angústia de nove meses de esperanças, aceita a normal dor do parto, saboreia a ternura imensa de o ter nos braços pela primeira vez, angustia-se com o filho pequenino no medo de que ele tenha qualquer fragilidade, apoia-o na infância e na adolescência, alegra-se com o seu sucesso, e, depois, acompanha-o ao longo de toda a vida. A mulher tem uma missão única que no Dia da Mãe a Igreja celebra. Para ela, a protecção de Deus e de Maria, garantem-lhe a serenidade e a paz que leva todos a testemunhar-lhe a sua gratidão.
• É tempo de memória – hoje recordam-se todas as coisas boas que da mãe se receberam. Palavras, gestos, recomendações, pequenos castigos, histórias, tudo é importante quando veio da mãe.
• É tempo de amor – a relação com a mãe refere-se sempre a um amor único. Pode ter havido dificuldades, pode ter surgido amuos, críticas ou tensões, pode acontecer crises, incompreensões ou ofensas, mas o amor de mãe resiste a tudo e cresce sempre mais. Vencidos os momentos difíceis, a reconciliação acontece sempre, na certeza de um amor que nada e ninguém podem apagar.
• É tempo de confidências – a mãe constitui sempre um refúgio para as horas mais difíceis. Disponível, ela acolhe sempre o desabafo dos filhos, sabe escutar, sabe ficar próxima até ao fim, sabe ser presente. É o segredo da mãe quando os filhos estão em desconforto.
• É tempo de oração – quando se ama alguém fala-se dele ao Deus em que se acredita. Os filhos têm neste dia uma oportunidade única para conversarem com Deus sobre a mãe que os trouxe à vida. A oração não consistirá em repetir preces conhecidas, deverá ser, antes, uma conversa de intimidade sobre essa dádiva que Deus lhe fez, ter-lhe oferecido a mãe que é sempre única.
Reduzir o Dia da Mãe a uma questão de prendas que se oferecem, na perspectiva cristã é muito pouco. É preciso inventar a forma de cada um dizer à sua mãe como a ama. Se ela vive é tempo de dar “milhões de beijinhos”, se ela já partiu é momento de dizer ao Senhor que a tenha na alegria da sua casa.
4. Convidam-se todos os cristãos da nossa comunidade a viver o Dia da Mãe de uma forma diferente. Passar com ela o dia inteiro, cobri-la de beijos, mostrar-lhe toda a ternura, confiá-la a Deus, dar-lhe a certeza de estar sempre com ela.