UM HINO À VIDA – 12 de Maio de 2013

1. Na proximidade do Dia Mundial da Família (15 de Maio), a Igreja celebra em Portugal a Semana da Vida. Foi uma decisão da Conferência Episcopal Portuguesa em 1994, como resposta ao apelo que o Papa João Paulo II fizera na Encíclica “Evangelho da Vida”. Esta Semana da Vida tem como objectivo “suscitar nas consciências, nas famílias, na Igreja e na sociedade o reconhecimento do sentido e valor da vida humana, em todos os momentos e condições” (EV 58). Foi dada a esta semana um tema feliz “dar mais vida à nossa vida”. É fundamental que cada pessoa ame a sua própria vida, queira dar-lhe uma maior qualidade sobretudo nas relações interpessoais, espirituais e sobrenaturais (EV 23), seja apóstolo da vida, defendendo-a em todas as circunstâncias, e lute pela promoção da vida junto dos mais frágeis e com mais sofrimento. Sendo a vida hoje tão depreciada, ameaçada ou destruída, urge parar esta cultura da morte, instaurando em seu lugar uma sólida cultura da vida. Há razões múltiplas pelas quais se deve dar mais vida à própria vida.

• A vida é um dom. Ninguém tem a vida por si mesmo. Recebeu-a dos pais pelo maravilhoso amor de um homem e de uma mulher, mas recebeu-a sobretudo de Deus, que é o Senhor da vida. Cada um tem o dever de agradecer este dom maravilhoso.

• A vida é um direito. Na Carta das Nações o artigo terceiro é claro: “Todo o ser humano tem direito à vida, à liberdade e à segurança da sua pessoa”. É por isso que a vida é inviolável, inalienável e indisponível; não se pode destruir a vida dos outros, mas também ninguém pode destruir a própria vida.

• A vida é um dever. A defesa da vida é um projecto belo, mas insuficiente. É essencial que o ser humano promova a sua própria vida, procurando atingir o máximo da sua dignidade, do seu desenvolvimento, da sua realização total. Promover a vida faz parte da responsabilidade de cada um.

• A vida é um compromisso. Se ela é um complexo bio, psico, social, cultural, espiritual e religioso, em todos estes aspectos tem que exigir-se cada um na procura de mais vida.

• A vida é fonte de alegria. Em todas as situações a comunidade se sente feliz perante o mistério da vida. No nascimento da criança, no sucesso dos jovens, no amor das famílias, na saúde dos mais velhos, em todas as circunstâncias a vida traz consigo sorrisos, conforto, esperanças, realização de todos os que à vida se referem.

São muitas as razões pelas quais é urgente procurar a cultura da vida. À cultura da morte cultivada pelos comportamentos humanos e anunciada com exagero na comunicação social, os cristãos têm o dever de proclamar a vida como nova cultura, fonte de felicidade para todos.

2. Mais do que defender a vida é fundamental promover a vida. No mundo de hoje tem-se consciência de que a vida está em risco no seu início e no seu termo. Há crianças a quem não foi dado o direito de nascer. O flagelo do aborto generalizou-se nas sociedades e acabou por ser aceite, até nos parlamentos. Por outro lado, os mais velhos tornaram-se muitas vezes um peso para aqueles que deles deveriam cuidar. Também a estes, sob a capa do alívio do sofrimento, se quer tirar o direito de viver. É o terrível drama da eutanásia. João Paulo II foi claro no Evangelho da Vida: “é preciso respeitar a vida desde a concepção até à morte natural” (cf. EV53). A única maneira de contrariar estes fenómenos que sacrificam tantos e magoam muitos outros, é promover a cultura da vida.

• O processo educativo. Educar para respeitar a própria vida e contribuir para a promoção da vida de todos os outros, é tarefa indispensável para dar mais vida à vida. Na família, na escola, nas catequeses, em toda a parte, é urgente educar para a vida.

• O respeito pela dignidade humana. Só contrariando o egoísmo, abrindo o coração aos outros, tendo consciência de que o outro é meu irmão, se conseguirá o serviço aos mais frágeis e aos que mais sofrem. O cuidado a ter com as crianças e com os mais velhos, a preocupação por acompanhar os mais pobres e os que mais sofrem, a capacidade de se esquecer de si próprio para servir o outro, são desafios maravilhosos no serviço à vida.

• A importância do trabalho. O ser humano só se realiza quando pela actividade contribui para o desenvolvimento dos povos. Contrariar o desemprego, conseguir que todos tenham um trabalho produtivo e por ele ganhem o pão de cada dia, é elemento indiscutível para uma vida com mais qualidade e de plena realização.

• A participação na vida social. Ninguém está sozinho na cidade. Intervir para melhorar a condição de todos é uma forma de dar valor à vida. Daí, a responsabilidade do cidadão em participar na vida económica e política, em ser solidário com os mais pobres e em viver em comunhão de vida e de destino com o povo de que faz parte.

• A celebração da fé. Todo o ser humano é religioso, mesmo o que se diz não crente tem referências às quais sujeita todos os seus projectos. Então, para celebrar a vida é essencial definir a própria fé, descobrir a melhor forma de a viver, e integrar-se num projecto que dê sentido à sua vida. Para os cristãos, celebrar a Ressurreição de Cristo é essencial para ter mais vida. É que a fé cristã, ao homem criado à imagem e semelhança de Deus, por Cristo e em Cristo, transforma-o em filho de Deus.

Promover a vida é mais difícil do que defendê-la. Se a defesa da vida se compreende com alguns limites, a sua promoção impõe-se para o desenvolvimento dos povos. As lições de Paulo VI na Populorum Progressio, e de João Paulo II na Laborem Exercens, indicam o caminho a seguir para a autêntica promoção da vida. Neste sentido se compreende o slogan da semana da vida “dar mais vida à nossa vida”.

3. Há estruturas onde esta promoção da vida é indispensável. A família, a escola, a empresa, o lugar de trabalho, o grupo social, os espaços culturais e, até, os lugares de oração têm de olhar a cultura da vida como o grande projecto de uma nova civilização. No mundo onde há tantas ameaças à vida, respeitar a vida, promover a vida, celebrar a vida é missão que a todos é confiada. Realizar plenamente esta missão irá transformar completamente a humanidade, tonando-a num lugar de fraternidade e de paz.

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