AMOR À IGREJA – 26 de Maio de 2013

1. No domingo da Santíssima Trindade o Patriarcado de Lisboa celebra o Dia da Igreja Diocesana. É já uma velha tradição que neste ano tem especial significado. O Santo Padre acaba de aceitar a resignação do Sr. D. José Policarpo e escolheu para seu sucessor o Sr. D. Manuel Clemente. É uma oportunidade para reflectir sobre a Igreja nos dias de hoje e a relação de cada cristão com ela. Para ser cristão não basta acreditar. É pouco celebrar os sacramentos da iniciação cristã e continuar a participar normalmente na Eucaristia Dominical. Também o conhecimento dos valores cristãos exige um testemunho claro de fé em todas as situações da vida. A relação com Jesus, porém, não é meramente pessoal, tem de ser vivida na comunidade cristã com uma participação activa em toda a vida da Igreja. Tudo isto só é possível quando se ama verdadeiramente a Igreja.

• Jesus ao conversar com os discípulos sobre “o pequenino rebanho” lançava as sementes de uma comunidade que teria como missão anunciar o Reino de Deus.

• Jesus quis iniciá-los depois numa experiência comunitária. Nas 18 parábolas do Reino definia o que virira a ser mais tarde a Igreja de Deus. Comparava-a com um campo onde cresce o trigo e o joio, com uma rede que recolhe peixes bons e maus, com uma vinha onde trabalham operários vindos a horas diversas, com o pequenino grão de mostarda que se tornará árvore frondosa. Por estas parábolas os discípulos iam descobrindo a comunidade de que faziam parte.

• Paulo quis chamar à Igreja o Corpo de Cristo, em que todos os membros estão unidos à cabeça, e se relacionam constantemente entre si. O Corpo Místico de Cristo é referência forte para uma Igreja de total comunhão na diversidade.

• O Concílio de Trento afirmou que a Igreja é uma comunidade de crentes, unidos aos pastores, com mandamentos muito claros e sacramentos que são expressão de vida.

• O Vaticano II acabou por definir a Igreja como o Povo de Deus que tem como cabeça Cristo, como condição a dignidade e a liberdade dos filhos de Deus, como mandamento único o amor, e como projecto a felicidade para todos.

Nestas breves linhas descreve-se o caminho da Igreja desde o seu nascimento até aos nossos dias. Pelo Baptismo cada cristão entra oficialmente nesta comunidade. Será que se ama a Igreja ao ponto de a servir, a promover e até defendê-la se necessário?

2. A Igreja Católica tem estado nos últimos tempos a sofrer uma grande pressão que lhe pode trazer uma imagem negativa. A própria resignação de Bento XVI foi considerada um sinal de problemas graves que envolviam a comunidade cristã. Durante os últimos anos ouviram-se inúmeras queixas por problemas diversos: ser conservadora perante as ideias fracturantes que se colocam na sociedade, ser transigente com situações que atingem menores, querer afirmar-se com sistemas económicos que a protegem, querer, finalmente, manter uma estrutura de poder incompatível com a vocação de serviço que lhe vem do seu fundador. A renovação da Igreja tornou-se necessária para que ela seja fiel a si própria. Sem ceder à cultura da facilidade que domina o mundo, há muita coisa a descobrir para recolocar a Igreja no essencial que é o amor a Deus e aos irmãos. Porque a Igreja acredita no Espírito Santo, foi sem dúvida um dom de Deus a eleição do Papa Francisco. Não deixa de ser também uma graça extraordinária a escolha de D. Manuel Clemente, para sucessor de D. José Policarpo no Patriarcado de Lisboa.

• Francisco, Papa, quer uma Igreja pobre ao serviço dos pobres, quer o respeito pela natureza para reequilibrar a vida dos cidadãos num desenvolvimento sustentável, quer uma Igreja de proximidade em que até o Papa esteja “no meio da multidão”.

• D. Manuel Clemente, novo Patriarca de Lisboa, quer autêntico crescimento da fé em que todos os cristãos não tenham medo de testemunhar o Evangelho. Quer um diálogo cultural, com todos os homens de boa vontade, crentes ou não crentes, quer uma verdadeira presença dos cristãos no meio do mundo lutando pela justiça, pela verdade, pela liberdade e pelo amor.

• D. José Policarpo, Patriarca Emérito, desafia os cristãos do Patriarcado à contemplação, ficando numa pequenina comunidade orante. Quer tornar esse lugar um espaço de silêncio, de pacificação, de diálogo com Deus. É um lugar que está aberto a todos os que quiserem ali entrar para fazer oração de intimidade e experiência vital de Deus. É alguma coisa semelhante à Tenda do Encontro onde Moisés se refugiava para rezar pelo Povo de Deus.

Na consagração feita do pontificado de Francisco a Nossa Senhora de Fátima, o Sr. Patriarca dizia ser necessária muita força para a renovação da Igreja. É esta coragem que se pede também para os nossos Patriarcas na condução desta porção do Povo de Deus.

3. A Comunidade cristã do Campo Grande quer renovar-se também acompanhando a transformação da Igreja como está ser vivida com pequenos gestos pelo Papa Francisco. A comunidade cristã tem de aceitar o desafio da proximidade que a torne capaz de acolher a todos sem distinção. Deverá, também, descobrir novas formas de viver a profecia, o sacerdócio e a acção pastoral propostas por Jesus Cristo. Para isso é preciso, a partir deste Ano da Fé e deste 50º aniversário do Concílio Vaticano II:

• Aprofundar a fé descobrindo todas as formas que levem ao maior conhecimento da Pessoa de Jesus Cristo.

• Celebrar a fé conseguindo a participação de todos nas várias liturgias em que se presta a Deus o culto de adoração, de súplica, de perdão e de acção de graças.

• Testemunhar a fé vivendo com toda a intensidade, com a maior alegria o exercício da caridade na total partilha de bens, para a maior comunhão entre todos.

Quem dera que a comunidade cristã do Campo Grande pudesse viver ao ritmo da vida da primeira comunidade de Jerusalém, em que “estavam todos unidos na doutrina dos Apóstolos, na fracção do pão, na oração, e tudo punham em comum, de tal maneira que não havia necessitados entre eles” (Act 2, 42-47). É esta dinâmica de crescimento que poderá renovar a comunidade cristã ao ponto de vir a influenciar a cidade dos homens.

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