1. Cinquenta anos depois do Concílio Vaticano II sente-se que a Igreja deixou perder muita da beleza da sua imagem trazida do Concílio. “Há mesmo uma certa desafeição e quebra de ‘laços de pertença’ à Igreja, de uma parte da população portuguesa, com particular incidência nos jovens”. É isto que diz a Conferência Episcopal numa nota pastoral dirigida a todas as comunidades cristãs. Sente-se que é urgente promover a renovação pastoral para melhor poder responder-se aos grandes problemas do mundo contemporâneo. Recentemente o Papa Francisco disse que a crise que se vive na Europa e no mundo não é uma crise económica, nem uma crise de culturas, é antes uma crise do homem que, por um lado, perdeu o sentido da sua própria dignidade e da dignidade dos outros e, por outro, usou a liberdade de tal maneira que gerou novas opressões. A Igreja tem, então, o dever de renovar a sua imagem, o que só é possível numa profunda transformação na sua relação com o mundo. A nota da Conferência Episcopal refere as características que as comunidades cristãs devem ter para que o mundo entenda os desafios que os valores cristãos podem conter. No inquérito que durante três anos foi feito a todo o país pede-se:
• Uma Igreja permanentemente em estado de oração, formação, renovação e missão, cada vez mais atenta a todas as pessoas e aos sinais dos tempos.
• Uma igreja mais dinâmica e participativa, discipular e missionária, próxima e acolhedora, ao estilo de Jesus Bom Pastor.
• Uma Igreja intensamente marcada pela prática da caridade fraterna, que não fique à espera das pessoas mas vá ao seu encontro.
• Uma Igreja que se faça companheira de viagem dos jovens, sempre atenta aos seus sonhos, anseios e problemas, tendo em conta que eles procuram a Igreja para se alimentarem interiormente.
• Uma Igreja que tenha sensibilidade, partilhe as suas experiências e ajude a resolver os inúmeros problemas da família.
• Uma Igreja que busque sempre o empenho e a participação de todos, para se seguir de mãos dadas os rumos que Deus quiser indicar.
Quando as comunidades cristãs responderam ao inquérito proposto pela Universidade Católica, foi esta a Igreja que os cristãos pediram e que se torna urgente revelar ao mundo.
2. Poderá perguntar-se agora quais as linhas de força de uma Igreja tão presente no mundo que muitos querem conhecê-la, nela participar, a ponto de revelarem sem dificuldade o mistério de Cristo Salvador. Na proposta que a Conferência Episcopal faz às comunidades cristãs definem-se os rumos que é urgente seguir. A renovação não pode ser anárquica, ao sabor de cada um. A criatividade, embora necessária, não pode quebrar a unidade que a Igreja vive. Os próprios carismas, na sua originalidade, devem estar integrados em projectos comuns reveladores da redenção e salvação operada por Jesus Cristo. Pode, então, dizer-se que há seis orientações essenciais para a renovação que, gerando unidade, se torna eficaz.
• O primado da graça e nova mentalidade – as comunidades cristãs devem estar assentes nos dons de Deus, na contemplação, na comunhão fraterna e na oração. Isto implica a transformação das mentes e a conversão dos corações, o que exige a relação a Jesus Cristo que disse “sem Mim nada podeis fazer” (Jo 15, 5).
• A comunhão para a missão – as comunidades cristãs têm de ser escolas de fé e de comunhão, gerando entre todos os seus membros laços de fidelidade, de proximidade e de confiança que se traduzam no serviço humilde da caridade fraterna.
• A missão de todos e para todos – a missão é um empenho da comunidade toda. Uma comunidade que não irradia uma vida nova é estéril. É urgente acolher e compreender todos, mas também privilegiar os mais pobres e os que mais sofrem. Com razão Jesus disse que “veio para dar a Boa Nova aos pobres, a libertação aos oprimidos e a alegria aos que sofrem, instaurando o ano da reconciliação e da paz” (cf. Lc 4, 19-20).
• O testemunho da fé revitalizada – a fé dos cristãos não pode ser uma rotina, ou cresce ou se perde. Interessa, então, que todos, bispos, sacerdotes, consagrados e leigos, rezando e trabalhando lado a lado, sintam alegria para, juntos, viverem a aventura de serem discípulos de Cristo. O testemunho a dar tem de ser sem disfarces e sem estratégias, humilde, atento, comovido, próximo e acolhedor, profético e evangelizador, à imagem de Jesus Bom Pastor. A Igreja não pode fechar-se sobre si, tem de ir para o átrio deste mundo que Deus ama.
• O desenvolvimento de acções para a iniciação e formação cristã – sabendo que muitos cristãos adultos não são mais do que catecúmenos, no dizer de João Paulo II (cf. CT 43), o aprofundamento sistemático da fé torna-se uma urgência. Ninguém dá testemunho daquilo que não tem. Só uma fé esclarecida pode abrir portas a uma evangelização eficaz.
• A valorização das iniciativas pastorais em curso – não se pode acabar com uma experiência pastoral sem ter descoberto outras formas que lhe possam dar continuidade. Importa, por isso, renovar profundamente todas as acções pastorais em que se está envolvido. A verdadeira acção pastoral pode comparar-se àquela arca donde se podem tirar coisas novas e coisas velhas. Nada se pode sacrificar, mas tudo se pode renovar.
Estes são alguns dos rumos que os Bispos portugueses sugerem para a renovação das comunidades cristãs. Como diz o Papa Francisco “é impensável uma Igreja de portas fechadas”, mais ainda, todos os cristãos devem ser facilitadores da fé e não vigilantes que apenas culpabilizam e condenam.
3. Na comunidade Paroquial do Campo Grande está a terminar o ano Pastoral. É tempo de avaliação de todo o trabalho realizado, anotando o que se não fez tão bem, ou se omitiu. Depois disso, os rumos pastorais sugeridos pela nota da Conferência Episcopal podem constituir um desafio para o trabalho do próximo ano. Neste dia do Corpo e Sangue de Cristo, é tempo de agradecer todo o caminho percorrido e de pedir forças para a acção evangelizadora que, sobretudo no diálogo com o mundo, se torna uma exigência permanente.