A COMUNHÃO NA VIDA DA IGREJA – 30 de Junho de 2013

1. Quem lê o discurso da Ceia, no Evangelho de S. João, compreende facilmente que o mais importante na vida da Igreja está em ela ser mistério de comunhão. Este discurso tem cinco capítulos, todos eles dominados pelo mandamento novo que Jesus anuncia aos seus amigos ao dizer-lhes: “dou-vos um mandamento novo, que vos ameis uns aos outros como Eu próprio vos amei, por isto vos conhecerão como meus discípulos”. Este amor fraterno proposto por Jesus passaria a constituir o elemento fundamental da vida cristã e o ponto de partida para a comunhão na Igreja. O mesmo evangelista, na sua primeira carta, afirma com total clareza “que a minha comunhão convosco seja também comunhão com o Pai e com o seu Filho, Jesus Cristo” (1 Jo 1, 3). Yves Congar, teólogo do Concílio, comentará assim este mistério de comunhão: a comunhão com Deus é o suporte da comunhão fraterna, e a comunhão fraterna é o testemunho da comunhão com Deus; uma não pode existir sem a outra. Percorrendo as páginas do Evangelho e dos Actos dos Apóstolos facilmente se compreende que esta comunhão constitui a génese de toda a Igreja.

• “Que todos sejam um como tu ó Pai és um em mim e Eu um em ti, e por isso creia o mundo que Tu me enviaste” (Jo 17, 21). É pela unidade que o mundo vai acreditar na comunidade cristã, como caminho de salvação.

• “Unidos na fracção do pão e nas orações, punham tudo em comum” (Act 2, 42). Esta união em todos os aspectos da vidaconstituía para a primeira comunidade de Jerusalém a sua razão de ser.

• “Num só coração e numa só alma” (Act 4, 32). Esta expressão revelava que a comunhão entre todos constituía a grande força que as comunidades cristãs tinham em ambientes que não lhes eram favoráveis. Por causa desta comunhão de vida, muitos outros acreditavam e aderiam à comunidade dos crentes.

• “Uma só fé, um só Baptismo, um só Deus que é Pai de todos” (Ef 4, 5). Esta foi sempre uma fórmula simples que identifica o ser Igreja na mais profunda comunhão com todos.

• “Cristo não pode nunca estar dividido” (1 Cor 1, 13). Na comunidade de Corinto, alguns tinham escolhido como referência Pedro ou Paulo ou Apolo. O Apóstolo teve que dizer-lhes que a referência para o cristão é apenas Cristo, o centro da unidade.

• “Unidade na diversidade de dons, de vocações, de funções e de carismas” (1 Cor 12, 20). A comunhão na Igreja não contraria a normal diversidade dos seres humanos. Cada um põe tudo o que tem ao serviço da comunidade viva que revela Cristo Ressuscitado.

• “Somos o Corpo de Cristo” (1 Cor 12, 12). A expressão máxima da comunhão pode estar nesta alegoria de Paulo que compara a Igreja com o Corpo Místico de Cristo em que todos estão ligados à cabeça, mas ao mesmo tempo estão de mãos dadas com os outros, sem qualquer distinção.

A identidade da Igreja está na comunhão que todos os seus membros estabelecem com Deus, vivendo-a na relação de uns com os outros. O amor de Deus e o amor aos irmãos gera a unidade de vida que permite ultrapassar as discórdias, as divisões, as quebras, na relação com Deus e na relação fraterna.

2. Esta comunhão vive-se em Igreja a todos os níveis. O Papa é referência de unidade e de comunhão para os cristãos do mundo inteiro. O Bispo constitui elemento congregador de todos os fiéis que vivem e se realizam no espaço da Igreja diocesana. O próprio sacerdote, na pequena comunidade paroquial, porque é servidor de todos, constitui também uma referência de unidade.

• O Papa pode ter vindo do fim do mundo, como acontece com Francisco, continua a ser extraordinária referência de unidade. O mesmo aconteceu com Ratzinger que veio da Alemanha, com Woytila que nasceu na Polónia, ou com Montini, um cardeal de Milão. Seja Bento XVI, João Paulo II, Paulo VI ou João XXIII, qualquer Papa é fonte de amor, unidade e comunhão para a Igreja universal. Francisco é diferente, mas a sua simplicidade, a maneira de se fazer próximo de todos, a sua preocupação pelos pobres, revela uma Igreja em comunhão sempre maior.

• O Bispo é na Diocese a referência profética, litúrgica e de caridade. Tudo se realiza em comunhão com ele. Com a sensibilidade própria de cada Bispo, assim se vai construindo a história da Igreja diocesana. D. José Policarpo tem sido ao longo dos últimos 16 anos a referência para todos os cristãos no Patriarcado de Lisboa. Doutrinador, tem revelado o
mistério de Cristo como centro de unidade. Com os mais de 100 sacerdotes que ordenou, garantiu-nos a continuidade do ministério da Palavra, do culto e do serviço. O patriarcado tem a sua marca na comunhão que insistentemente nos últimos anos a todos tem pedido. Ser emérito não o afasta da grei. O povo de Deus, aqui, continua a amá-lo e a aprofundar a comunhão na unidade que sempre nos pediu.

• O novo Patriarca traz consigo a experiência acumulada em duas dioceses diferentes, Lisboa e Porto. Tendo nascido no presbitério do patriarcado, regressa à sua diocese de origem para aprofundar laços da comunhão que constituiu sempre seu programa pastoral. Para o patriarcado este tempo não é só de esperança. Vive-se a certeza de que a comunhão de Igreja será agora ainda maior.

O mistério da comunhão na unidade continua a ser o grande desafio que é colocado a todas as comunidades cristãs. Certamente que esta continuará a ser a proposta maior que aos cristãos é feita neste tempo difícil em que vivemos.

3. A comunhão não se esgota nos limites de uma Igreja local. A relação entre comunidades cristãs, Paróquias ou Dioceses é também expressão da comunhão eclesial. A nossa comunidade Paroquial do Campo Grande teve agora um exemplo disso no momento em que o P. Arcanjo nos deixa, regressando à sua Diocese de origem. O seu Bispo escreve uma carta lindíssima que aqui com alegria se transcreve:

Quelimane, 20 de Junho de 2013

Mui Reverendo Monsenhor Vitor Feytor Pinto,
Saúde, Paz e Bem!

Tomando em referência que no fim deste mês de Junho o P. Arcanjo Sitimela deixa a Paróquia do Campo Grande, quero profundamente agradecer-lhe a bondade e a ternura com que o acolheu ao longo dos 4 anos que ai viveu. Na sua pessoa, a Paróquia do Campo Grande em Lisboa tem ajudado a nossa Diocese de Quelimane na formação dos seus sacerdotes. Além do P. Arcanjo, acolheu, por muitos anos, o P. Lázaro Messias de Carvalho. Louvamos o espírito missionário que tem imprimido na sua Paróquia ao ponto de dirigir o olhar às Igrejas irmãs de África. O P. Arcanjo tem-nos falado do grande dinamismo pastoral da sua Paróquia. Acredito que essa experiência lhe será útil para a sua missão aqui na nossa Diocese.
Estendo os meus agradecimentos à toda comunidade Paroquial do Campo Grande e imploro a bênção do Alto para si e para cada um dos membros da sua Paróquia.
Muito bem haja, Monsenhor.

†Hilário da Cruz Massinga, ofm
Bishop of Quelimane

Que estes e outros exemplos sejam um sinal claro de uma comunhão com a Igreja universal alicerçada na unidade e no amor que aqui se vive no dia-a-dia.

Pe. Vítor Feytor Pinto
Prior

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