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admin on Jul 5, 2013 in
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Comentários fechados em AS FÉRIAS DE VERÃO – 7 de Julho de 2013
1. Ao começar o mês de Julho todas as pessoas procuram alguns dias para fazerem as suas férias. A Carta dos Direitos Humanos, no seu artº 24º, depois de afirmar o direito ao trabalho, assegura também um tempo de descanso, essencial para qualquer pessoa que quer ver resultados na sua actividade profissional. Dentro desta perspectiva pode dizer-se que, as férias não são apenas um direito, elas são sobretudo um dever, porque sem o repouso suficiente o próprio trabalho, intelectual ou braçal, não leva a parte nenhuma. Há muita gente, porém, que ainda não entendeu o sentido das férias. E, o que deveria ser repouso, torna-se agitação, em viagens cansativas, em festas até de madrugada, em programas sempre difíceis de cumprir até ao fim. Os meses de Julho, Agosto e Setembro são oportunidade para programar as férias indispensáveis para o ano de trabalho que depois se inicia. Talvez pudessem sintetizar-se as férias em cinco expressões:
- O descanso do corpo ou do espírito é indispensável para quem, durante o ano inteiro, procurou “ganhar o pão com o suor do seu rosto”. As férias exigem o parar de quanto se realiza ao longo do ano, o deixar para trás todas as preocupações, o “esvaziar a cabeça” de tudo quanto magoou a vida.
- A mudança de lugar e de actividades constitui uma forma agradável de recriar o espírito. À beira mar ou em casa de família no interior, tudo traz recordações e sugere experiências de extraordinária beleza. Há quem se dedique ao trabalho na horta ou ao cuidar das flores no jardim, alguns preferem mergulhos nas ondas, tudo isto é forma de recuperar forças para o tempo de trabalho que depois virá.
- O retiro num mosteiro ou numa casa conventual é um tempo privilegiado de oração para uma eventual mudança de vida. No diálogo com Deus, na escuta da Palavra ou, simplesmente, no recordar da vida dos santos, muitos recuperam energias para as normais dificuldades que a vida traz consigo. Há quem, sem ter fé, procure estes lugares de silêncio.
- O reencontro com familiares e amigos é redobrado motivo de alegria que ajuda a afirmar a unidade da família e a sentir que os verdadeiros amigos são os da primeira hora, que não se esquecem mais.
- O espaço para Deus é uma exigência para quem está em férias. Na roda do ano todos se queixam de não ter tempo suficiente para a oração, no turbilhão da vida. Nestes dias de Verão, longe do trabalho, meia hora de contemplação, na experiência vital de Deus, torna-se essencial para crescer na fé que marca a vida do cristão.
Todos sabem que há inúmeras dificuldades no tempo de crise que se vive. Talvez seja momento de redimensionar o “como fazer férias”. Não pode deixar-se, porém, de ter um tempo de descanso porque este é essencial para o equilíbrio psicológico de cada um, para a relação gratificante entre as pessoas, para a harmonia das comunidades de que se faz parte.
2. Conhecem-se exemplos de tempo de descanso. De facto, a vida humana está carregada de inúmeras tensões. Sem o necessário isolamento, não é possível recriar a vida, tornando-a útil para os demais. O tempo de descanso não é um tempo morto, é um indispensável “carregar de baterias” para toda a actividade que os outros têm o direito de esperar de cada um.
- Jesus, depois de despedir a multidão, isolava-se no monte, para ali, a sós com o Pai, preparar as jornadas difíceis que tinha pela frente. Foi assim que um dia, pela 4ª vigília da noite, depois de descansar, foi ao encontro dos discípulos que no Lago de Tiberíades enfrentavam a tempestade.
- Os Apóstolos, na sua tarefa de anunciar o Evangelho, iam mudando de cidade. Nas comunidades novas que fundavam tudo era diferente, porque se retemperavam com outras pessoas, outros espaços, outra sensibilidade.
- Houve santos para quem o tempo de silêncio se tornou revelação do projecto de Deus. Aliás, esta é a história de todos os que sabem responder à vocação.
- Os Papas durante séculos refugiaram-se em Castel Gandolfo para ali fazerem as suas férias. Longe do bulício do Vaticano retemperavam forças para a acção pastoral que a Igreja inteira lhes exigia.
- João Paulo II preferiu as montanhas. Em longas caminhadas a pé recordava o seu tempo de desportista, repetia passeios que tinha feito com jovens, saboreava a linguagem da natureza, sempre reveladora do mistério de Deus.
- Bento XVI, numa casa distante no Norte de Itália, deliciava-se a tocar concertos de Mozart e sonatas de Beethoven. O piano foi sempre a sua companhia predilecta quando sentia a obrigação de repousar.
Na vida de cada um, houve sempre férias que foram consideradas as melhores. Recordar tantas situações em que se foi feliz, pode permitir o discernimento para as férias que neste ano difícil, se querem viver.
3. Como fazer férias? Certamente que ao longo dos últimos meses se sonhou muito com férias gratificantes. As melhores, não precisam de muito dinheiro, requerem, porém, escolhas certas. Vale a pena a família reunir-se à volta da mesa, sabendo das disponibilidades que tem, em tempo e recursos, talvez até, pedindo a ajuda do Espírito, numa oração simples. O que vai preferir-se?
- A praia ou o campo. A escolha deve ser feita tendo em consideração as preferências, as tradições, até a saúde de todo o agregado familiar.
- Viagens para o estrangeiro ou passeios em Portugal. Há tanta coisa para ver aqui tão perto e que tem passado despercebida. As paisagens, os monumentos, as tradições constituem um desafio para a escolha a fazer.
- Leituras ou desporto. É claro que os dois não se excluem, até se complementam. Mas, os materiais a recolher são diferentes e obrigam a avaliar as disponibilidades. O surf é mais caro que o ténis, os jogos de praia são mais baratos do que as tertúlias com jantares sofisticados.
- Convívio com os amigos ou retiros com Deus. Porque as duas coisas são importantes, talvez valha a pena distribuir o tempo.
- As festas ou os ambientes de paz. Também, aqui, o tempo pode chegar para tudo. Mas a organização, com programas bem estruturados, é indispensável.
O que não pode acontecer é que ao levantar-se de manhã não se tenha já a ideia de como vai ser o dia que, então, começa. Também não pode acontecer que as férias sejam de tal forma caras que comprometam, depois, a vida económica de toda a família. Há tanta coisa bela que se pode fazer…nem é preciso inventar.
4. O Ano Pastoral está mesmo a terminar. Os cristãos, que nos reunimos na comunidade paroquial do Campo Grande, já estamos a sentir saudades do que fizemos durante os últimos meses, mas precisamos de descansar. Depois das férias reencontrar-nos-emos, em Setembro, para fazer crescer a comunidade na fé e no amor.
Para todos, boas férias.
Pe. Vítor Feytor Pinto
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