SACERDOTE PARA SERVIR-14 de Julho de 2013

1. Há páginas do Evangelho que referem com uma clareza invulgar a missão confiada a quantos seguem Jesus Cristo no sacerdócio. Com estas palavras: “Não vim para ser servido, mas para servir e dar a vida”, Jesus define o caminho de quantos se dedicam a exercer o sacerdócio ministerial. Seguir Jesus Cristo supõe estar completamente disponível para a todos servir, em qualquer situação. Aliás, na Última Ceia, antes de instituir o sacerdócio, Jesus disse aos discípulos: “dei-vos o exemplo, assim como Eu fiz, façam vocês também”. Jesus acabava de lavar os pés aos Apóstolos, num serviço humilde, carregado de significado. Foi noutra circunstância que Jesus definiu a missão dos Apóstolos: “Em qualquer casa onde entrardes, dai a paz”. Pelo serviço universal, os discípulos de Jesus deveriam tornar-se em todas as circunstâncias “pacificadores”. Esta missão do serviço supõe a maior das liberdades. Por isto, Jesus Cristo pediu aos seus seguidores que deixassem tudo, para responder sem limites à missão que o Senhor lhes confiava. O sacerdócio traz consigo o apelo à entrega total.

• Na resposta à vocação – ninguém pode ficar indiferente quando o Senhor chama para a missão evangelizadora. Perante o pedido de Jesus para continuar a acção salvífica que o Pai lhe confiou, a única resposta é um sim sem condições.

• Na disponibilidade para servir – é nas 24 horas do dia que o sacerdote quer ir ao encontro dos outros. Se Jesus a ninguém recusou o que lhe era pedido, assim o sacerdote tem um coração aberto para escutar todos os problemas que lhe são trazidos. Saber acolher com simplicidade é o segredo de toda a vida pastoral.

• Na alegria serena – sentir-se continuador da missão de Jesus, saber que todos vêem nele uma certa presença do Senhor, tudo isso traz ao coração do sacerdote uma enorme paz. A serenidade perante as grandes dificuldades humanas que lhe são trazidas é para o sacerdote realização de vida.

• Na fidelidade incondicional – continuar a dizer sim, nas alegrias e nas esperanças, como nas dificuldades e nas angústias, é o maior desafio que é feito ao sacerdote, que ao longo dos anos encontra na pessoa de Jesus “aquele que lhe dá força”. Sendo humano, como todos os outros, não deixa de sentir horas de tormenta. Também isso aconteceu aos discípulos, na 4ª vigília da noite, no Lago de Genesaré. Mas Jesus está sempre perto, nunca há razão para duvidar.

• Na perseverança ao longo da vida – são muitas as tarefas que lhe são confiadas, são diferentes as comunidades de que faz parte, os carismas e os dons vão-se revelando a pouco e pouco, mas perseverar até ao fim na missão a que se é chamado é o desafio maior que é feito ao sacerdote. É continuador da acção salvífica de Cristo até ao fim dos seus dias.

Nesta época do ano a grande maioria dos sacerdotes celebra aniversários da sua ordenação sacerdotal. Recordando muitos companheiros de caminho é fácil aperceber-se de que os anos passam mas a realização no sacerdócio continua. É frequente ouvir dizer-se que os padres não se reformam. Também poderá dizer-se que só os limites fisícos poderiam impedi-los de realizarem a sua missão até ao fim dos seus dias. Não são apenas felizes no que fazem, são felizes por serem sacerdotes.

2. Estou a completar 58 anos de sacerdote e tenho gosto em partilhar com a comunidade paroquial do Campo Grande a minha peregrinação ao longo dos tempos. Quantas pessoas passaram já pela minha vida sacerdotal: crianças que foram baptizadas, outras que receberam a 1ª comunhão, jovens à procura de uma fé mais consciente, pessoas que pediam perdão das suas culpas e eram mais santas do que eu, casais a quem presidi ao sacramento do Matrimónio, famílias cuja casa abençoei, enfermos que visitei e a quem dei a Santa Unção, pessoas na etapa final da vida a quem acolhi nos últimos momentos do seu caminhar humano. O sacerdócio contém em si o mistério de proximidade, onde o acolhimento, a bondade e a ternura são uma pedra de toque, uma presença viva de Jesus. Tudo isto deve ser vivido nas mais diversas circunstâncias. São, por agora, 4 as etapas da minha vida sacerdotal:

• A cidade da Guarda em plena juventude deu-me experiência para todos os trabalhos que ao longo da vida me seriam pedidos. Coadjutor de um pároco muito exigente, colaborador de dois Bispos muito compreensivos, professor de inúmeras crianças e jovens, coordenador de várias acções na Pastoral Diocesana. Tudo foi de uma riqueza invulgar para o meu caminho futuro.

• O Movimento para um Mundo Melhor levou-me a Roma, onde acompanhei as duas últimas sessões do Concílio. Este movimento internacional pediu-me para percorrer todas as Dioceses de Portugal e muitos outros lugares do mundo, durante 6 anos, a anunciar o Concílio do Vaticano II. O meu sacerdócio ficou moldado pelas teses do Concílio, renovei-me para poder renovar o que me viesse a ser confiado.

• A pastoral de âmbito nacional desafiou a minha criatividade. Ajudar as igrejas locais a redescobrir as novas formas de iluminar o mundo constituiu um desafio: na Acção Católica, em reestruturação completa; na Pastoral Juvenil com o sofrimento que o ambiente trazia aos mais novos em perda de futuro; na Pastoral da Saúde, que convidava não apenas ao cuidar do doente, mas a estar atento ao mundo da saúde a promover. Este trabalho tem sido apaixonante.

• A comunidade paroquial do Campo Grande foi o sonho de uma vida concretizado agora, ao longo dos últimos 16 anos. O sacerdote sem uma comunidade, com quem partilha a fé, com quem celebra a Eucaristia, com quem aceita a partilha de bens, fica incompleto. Nesta comunidade de cristãos encontrei o sentido mais profundo do sacerdócio de Jesus Cristo. Quem dera que conseguíssemos a dinâmica de vida das primeiras comunidades cristãs.

Foi a 10 de Julho que recebi a ordenação sacerdotal. Todos os anos, neste dia de aniversário, agradeço ao Senhor todas as graças recebidas e peço-Lhe que proteja todos aqueles que têm passado pela minha vida.

3. O sacerdote participa na missão salvífica de Cristo através de três ministérios: profético, sacerdotal e real. Através deles o padre anuncia a Palavra de Deus, celebra a Eucaristia e confere os Sacramentos, desenvolve a pastoral da caridade. São três funções sacerdotais que apaixonam a vida de qualquer padre.

• Proclamar a Palavra permite que o mistério de Deus oferecido aos outros passe por nós e nos purifique.

• Celebrar a Eucaristia exige-nos crescer no amor universal, construir a unidade, viver em alegria pascal e em tudo ressuscitar com Cristo.

• Exercer a caridade convida-nos a ir ao encontro dos mais frágeis: pobres, deficientes, idosos ou crianças, todos quantos precisam do carinho humano na resposta aos seus problemas.

É neste tríplice ministério que o sacerdote realiza a sua vida na entrega total ao projecto de Deus a que foi associado pela ordenação sacerdotal. A vida do padre contém uma atitude permanente de comunhão com o Bispo e com todos os outros sacerdotes e fiéis.
Antes de partirmos para férias peço a todos que intercedam junto de Deus por nós, os sacerdotes.

Pe. Vítor Feytor Pinto
Prior

Comments are closed.