1. Setembro traz sempre consigo o tempo de recomeço. Passaram as férias, as crianças voltam à escola, os pais regressam ao trabalho, amigos e vizinhos encontram-se e contam histórias vividas em Agosto e, também, os cristãos voltam a estar juntos em cada domingo para celebrarem a Ressurreição do Senhor. O Ano Pastoral de 2013/2014, neste princípio, convida a retomar todas as actividades da comunidade paroquial.
• A acção profética concentra-se no aprofundamento da fé, o que é essencial, quer no plano da doutrina para o conhecimento profundo do mistério de Cristo, quer no plano prático para o compromisso humano-cristão em todas as situações da vida. Jesus foi muito claro ao dizer: “ide e fazei discípulos em todas as nações” (Mt 28, 18). A comunidade cristã quer crescer anunciando a todos, mesmo aos não crentes, a beleza do Evangelho.
• A acção litúrgica desenvolve-se nas diversas celebrações que a comunidade cristã organiza. As missas dominicais ou diárias, os baptismos e os matrimónios, as vigílias de oração, os ritos de reconciliação e até os ofícios fúnebres, tudo pede uma liturgia de louvor e de acção de graças. A liturgia é “o exercício da função sacerdotal de Cristo”, como diz o Vaticano II (SC 7). Na vida da Igreja há dois sacerdócios: o ministerial exercido pelos bispos, presbíteros e diáconos, e o comum, vivido por todos os fiéis. Na liturgia, como na vida, é o sacerdócio de Cristo que é importante viver.
• A acção social e caritativa realiza-se pela assistência aos irmãos, sobretudo aos mais pobres e aos que têm mais dificuldades. Não é possível ser cristão sem ser solidário com todos os que sofrem. Esta solidariedade, porém, tem de estar organizada, para ser possível assistir crianças e idosos, doentes e deficientes, desempregados, pessoas que perderam a casa, inúmeras situações de pobreza. A comunidade cristã está vocacionada para, em gestos de amor, responder a qualquer dificuldade de quantos a procuram.
É este tríplice ministério que identifica a comunidade cristã. Pela fé conhece-se Jesus Cristo, pela caridade acompanham-se os irmãos, pela esperança afirma-se a certeza da felicidade no tempo e na eternidade.
2. O tema do Ano Pastoral, no Patriarcado de Lisboa, é muito bonito: “A Fé actua pela caridade”. Foi Bento XVI que na Carta Apostólica “A Porta da Fé” diz claramente que fé e caridade têm de estar de mãos dadas: “a fé sem caridade não dá fruto e a caridade sem a fé seria um sentimento constantemente à mercê da dúvida. Fé e caridade realizam-se mutuamente, de tal modo que uma permite à outra realizar o seu caminho.” (PF 14). Há dias, alguém comentava que a fé sem caridade é um espiritualismo desencarnado sem responder aos desafios do mundo; por outro lado, a caridade sem fé é agitação com muito barulho mas sem resolver os problemas que é necessário enfrentar.
• Crescer na fé é um dever para qualquer cristão. Até os Apóstolos, conhecendo Jesus, acompanhando-O todos os dias, ouvindo a Sua Palavra, reconheciam que a sua fé estava longe de atingir a perfeição. Por isso diziam “Senhor, aumenta em nós a fé” (Lc 17, 5). Para crescerem na fé, também pediam a Jesus que os ensinasse a orar como João Baptista fizera com os seus discípulos (cf Lc 11, 1-2). Os cristãos de hoje, que tantas vezes não passam de catecúmenos, como dizia João Paulo II (cf CT 43), têm obrigação de aprofundar a sua fé para que ela seja mais do que uma simples confiança em Cristo. A fé verdadeira exige o conhecimento de Jesus e o compromisso n’Ele em todas as situações da vida. Não basta a catequese de infância, é urgente a catequese de adultos para que cada crente viva mais intensamente a sua vocação cristã.
• Testemunhar o amor é tarefa essencial para um cristão responsável. No Evangelho de João, Jesus di-lo expressamente: “Dou-vos um mandamento novo, que vos ameis uns aos outros como eu vos amei. Por isto vos conhecerão como meus discípulos” (Jo 13, 34-35). O amor fraterno é o cartão de identidade do cristão. Amar os pobres, os mais carenciados, preocupar-se com os que perderam a casa ou o emprego, estar atento aos que ficaram doentes ou já têm idade avançada e inventar soluções para todos os que sofrem é missão, não apenas da comunidade enquanto tal, mas também tarefa de cada um na medida das suas capacidades. É fácil amar com palavras, é mais difícil amar com gestos concretos que resolvam as situações limite em que alguns se encontram. Todos os cristãos estão empenhados nesta tarefa.
• Celebrar a Eucaristia é oportunidade de afirmar a comunhão total dentro da comunidade cristã. A Eucaristia é sempre “sinal de unidade, vínculo de amor, banquete de alegria pascal, memorial da paixão, morte e ressurreição de Jesus Cristo” (SC 47). Seria incompreensível que os cristãos participassem na Eucaristia Dominical somente porque é uma obrigação. A assembleia reunida, para celebrar a partilha do Corpo e do Sangue de Jesus, faz crescer a comunidade e, sobretudo, leva cada cristão a transportar para a sua realidade os valores que o Evangelho proclama. A partir da Eucaristia é lógico praticar a verdade, viver a justiça, sentir-se em liberdade, estar disponível para amar. Viver assim, será, como diz Teilhard Chardin, celebrar “a missa sobre o mundo”.
No início deste Ano Pastoral cada cristão, nesta sua comunidade, facilmente compreende os caminhos que deve percorrer para afirmar a sua fé, estar ao serviço dos irmãos e viver em acção de graças a Deus, por tudo quanto por Jesus Cristo lhe vem.
3. A Comunidade Paroquial do Campo Grande está organizada com duas grandes frentes. A primeira, a vida da Paróquia, tem como objectivo apoiar a fé de cada um. A segunda, a acção do Centro Social Paroquial, procura responder a todas as dificuldades que se colocam a quantos nos procuram. A relação entre estas duas frentes constitui a resposta ao projecto pastoral que nos é oferecido pelo Patriarcado de Lisboa e com a palavra oportuna do novo Patriarca. Diz o senhor D. Manuel Clemente: “a comprovação solidária e caritativa da fé é sobremaneira indispensável. Quase nada faremos de credível se não respondermos directamente às necessidades e urgências que se colocam nas comunidades cristãs”. O Patriarca acrescenta que vivemos numa Igreja que não se fecha sobre si própria, mas que sai de si para o átrio deste mundo que Deus ama. E o senhor D. Manuel termina pedindo que actuemos então a fé pela caridade, uma vez que Cristo não fez outra coisa.
• Para se crescer na fé a Paróquia tem catequese de crianças e de adultos, tem grupos de jovens, tem tertúlias de reflexão e ainda a liturgia da Palavra nas celebrações dominicais.
• Para se responder com caridade aos problemas sociais, a Paróquia tem o Centro Social e algumas associações como as Conferências Vicentinas, que tentam responder a todas as debilidades que estão a sofrer todos os que nos procuram.
Formula-se um voto: que possamos testemunhar a fé pelos gestos concretos de caridade.
Pe. Vítor Feytor Pinto
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