1. As comunidades cristãs distinguem-se de todas as outras comunidades religiosas pela atenção dada aos mais pobres e aos que mais sofrem. É a essa prioridade que se chama acção social e caritativa, e que significa a expressão clara da própria fé. Já S. Tiago, na sua Carta, o afirmava claramente ao dizer que a fé sem obras é morta. Os últimos Papas têm-no referido até à exaustão: João Paulo II diz que os cristãos se devem caracterizar por um amor privilegiado aos mais pobres; Bento XVI refere que a fé sem caridade constitui um espiritualismo desencarnado e vazio; Francisco, Papa, desde o início do seu pontificado, afirma querer uma Igreja pobre ao serviço dos mais pobres. É dentro deste contexto que se compreende que não pode haver vida cristã, individual ou comunitária, sem o exercício da caridade. Esta orientação ficou bem clara, quando Jesus convida ao amor fraterno, acrescentando que por isso os cristãos serão considerados seus discípulos.
• O projecto de Deus está marcado pelo extraordinário amor à Humanidade. “Deus amou de tal forma o mundo que lhe deu o seu próprio Filho, não para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo” (Jo 3, 16-17).
• Ao doutor da lei que lhe perguntou qual o primeiro mandamento, Jesus respondeu-lhe que “o primeiro mandamento é amar a Deus, e o segundo, igual ao primeiro, é amar o próximo”. A relação entre o amor a Deus e o amor aos irmãos é a nota característica da proposta de Jesus.
• Uma lei nova aparece nas conversas de Jesus: “aos antigos foi dito amai os amigos e odiai os inimigos. Mas agora, eu digo-vos, amai os vossos inimigos, fazei bem àqueles que vos odeiam, protegei aqueles que vos maltratam (Mt 5, 43-44).
• O maior desafio está no perdão. Em pleno discurso da Montanha, Jesus tem a coragem de dizer “se estás diante do altar para fazer a tua oferenda e aí te lembras que o teu irmão tem qualquer coisa contra ti, deixa a oferenda em cima do altar, vai reconciliar-te primeiro com o teu irmão e vem depois fazer a tua oferta” (Mt 5, 23-24).
• A prova da verdade das palavras de Jesus e a certeza da sua divindade, está nos gestos de caridade que Ele repete: “Ide dizer a João o que vistes e ouvistes, os cegos vêem, os coxos andam, os leprosos estão curados, os mortos ressuscitam” (Lc 7, 22). Os 44 milagres que Jesus realiza são actos de amor.
• A exigência para os cristãos é grande: “o que fizeres ao mais pequenino dos teus irmãos é a mim que o fazes” (Mt 25, 40).
• Perante a fome das multidões Jesus multiplica os pães na Montanha, e todos foram saciados.
• Muitos gestos de ternura fazem a história de Jesus: acolhe os publicanos, perdoa aos pecadores, enxuga as lágrimas da viúva, aceita o beijo da mulher pecadora, abençoa as crianças, está com todos em todas as horas. Tudo isto é expressão da verdadeira caridade.
A primeira encíclica de Bento XVI é uma lição extraordinária para quem quer exercer o ministério da caridade. Depois de dizer que Deus é Amor, comenta a parábola do Bom Samaritano, que descreve as atitudes de quem quer servir os mais pobres e os que mais sofrem, para ajudá-los a tornar à vida.
2. O ministério da caridade é vivido pela Igreja desde os primeiros tempos. Dá quase a sensação de que foi a preocupação pelos outros que mais foi entendida pelos Apóstolos. De facto, quem segue Jesus Cristo de perto, é necessariamente confrontado com os problemas vividos pelos outros e, de imediato, quer dar-lhes resposta. Basta abrir os primeiros capítulos dos Actos dos Apóstolos para se compreender como era importante dar prioridade aos mais pobres.
• Pedro e João entram no templo. Vendo o paralítico que pede esmola, inventam formas novas de caridade: “Não temos ouro nem prata para dar-te mas, em nome de Jesus Cristo levanta-te e anda.” (Act 3, 6). E o paralítico entrou com eles no templo. Foi a salvação total.
• As comunidades de Jerusalém não partilhavam só a fé e a oração. Então, não havia qualquer necessitado entre eles, porque quem tinha bens, punha-os aos pés dos Apóstolos para encontrar solução para a carência dos mais necessitados (cf Act 2, 42-47 e Act 4, 32 ss). Por tudo isso eram um só coração e uma só alma.
• Porque os Apóstolos não tinham tempo para prover a todos, na comunidade de Jerusalém foram instituídos os diáconos para que em tempo fossem servidos os mais pobres.
• Paulo, nas suas viagens, desafia todos a que se tratem como iguais, a que repartam os pães e até, ao escrever a Filemon, que receba o escravo, Onésimo, como se fosse um filho.
• Na actualidade, toda a acção missionária começa pela promoção humana, procurando os bens necessários para que, libertos das dificuldades, todos possam participar da felicidade a que têm direito. O desenvolvimento é a primeira porta da fé.
• Paulo VI quer o progresso dos povos. Com o desenvolvimento na cultura, no trabalho, nos bens económicos, em última análise, na verdadeira justiça, para que todos tenham aquilo a que têm direito.
• Nas viagens de João Paulo II a sua preocupação foi sempre enfrentar os problemas de justiça, com a intenção dominante de acompanhar os mais pobres.
Guiados pelo Papa Francisco, os cristãos de todas as comunidades têm o dever de reinventar o amor com iniciativas que respondam às situações concretas vividas no terreno. O desafio é esse. Será possível responder-lhe, com gestos novos?
3. A Comunidade Paroquial do Campo Grande não pode deixar de organizar-se para exercer o ministério da caridade.
• Preocupa-se com os mais velhos, acolhendo-os no Centro de Dia.
• Está atenta aos que estão em casa sozinhos, respondendo à sua solidão com a Visita Domiciliar.
• Dá atenção aso jovens com dificuldades na escola ou na família, apoiando-os de toda a maneira no Clube de Jovens.
• Dá atenção às famílias em situação difícil acolhendo as crianças na Creche e no Jardim de Infância.
• Avalia os casos concretos de pessoas em grande sofrimento, tentando minorar as carências com o Fundo de Solidariedade.
• Ensaia o trabalho com equipas de rua para responder a quantos estão sem-abrigo, dormindo ao relento em plena noite. Este trabalho é avaliado pelo Serviço de Assistência Social.
Por tudo o que na cidade é pobreza e sofrimento, a Comunidade Paroquial do Campo Grande quer reinventar o amor. É este o ministério da caridade.
4. A terminar deixa-se apenas uma pergunta: e tu, que passas pela Paróquia, vens aqui à Eucaristia Dominical, pedes apoios espirituais, como poderás intervir neste ministério da caridade?
Pe. Vítor Feytor Pinto
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