RECORDAR É VIVER – 3 de Novembro de 2013

RECORDAR É VIVER

1. O mês de Novembro é, na roda do ano, o tempo da saudade. A natureza acompanha os homens neste sentir a falta de quantos partiram ao encontro de Deus. É o cair da folha, nas árvores amarelecidas pelo tempo. É o céu pardacento que parece ter perdido toda a beleza da sua cor. São os ventos que se levantam e muitas vezes trazem a chuva consigo. Tempo de Outono é, sem dúvida, sinal de perda.
A Igreja acompanha o ritmo da natureza. Nos primeiros dias de Novembro, associa em duas festas, a memória e a prece, a par da saudade que invade o coração de todos.

• O Dia de Todos os Santos celebra a memória de quantos já partiram. Pode dizer-se que todos são os santos desconhecidos que foram recebidos na Casa do Pai. Toda a gente tem um lado bom. Deus aproveita a bondade de cada um, para o receber e lhe dar a vida eterna. Ali, junto de Deus, todos são santos.

• O Dia de Finados convida à oração e esmola, como forma de sufragar os mortos. Os sufrágios são as preces dos vivos, por todos os que partiram para que, apesar da debilidade humana, possam, purificados, entrar na Glória de Deus.

• A dupla celebração permite compreender que o céu está próximo de todos, mas deve merecer-se, pelas atitudes de amor a Deus, pela forma como vivemos na terra e, também, pela oração que, em amizade, os crentes fazem pelos que já partiram.

As duas datas são tempo de alegria porque o Senhor nos redime, o Senhor nos salva, o Senhor nos acolhe para a eternidade feliz.

2. A piedade popular deu sempre muita importância a estas datas, com a ida das famílias às aldeias onde nasceram e tiveram os primeiros laços de relação social. Ali, as tradições levam as pessoas aos cemitérios, cobrindo de flores as campas do pai, da mãe, dos amigos. As igrejas enchem-se de gente para rezar, com cânticos dolentes, reveladores de uma saudade profunda. As duas festas, os Santos e os Finados, revelam a força da comunidade cristã.

• Toda a família se encontra à volta do lugar onde ficaram os restos mortais dos que partiram.

Todos vão participar na Eucaristia celebrada na igreja antiga, onde foi possível crescer na fé.

• Todos fazem orações pelo eterno descanso de quantos nos deixaram. Sabe-se que “a vida não acaba, apenas se transforma (…) e se adquire no céu uma habitação eterna”. A oração força esta morada eterna junto de Deus.

• Todos partilham os bens, através da esmola dada aos mais pobres. Socorrer os pobres, acompanhá-los e até ajudá-los nas suas dificuldades, são formas extraordinárias de solidariedade e de sufrágio.

• Todos nos alegramos com a certeza de que a Igreja, no fim dos tempos, se identifica com o Reino de Deus. Qualquer cristão, neste dia, tem maior consciência de que é construtor do Reino de Deus.

Por causa da grandeza destas datas, sente-se uma certa tristeza por ter deixado de ser Dia Santificado o Dia de Todos os Santos.

3. Na Comunidade do Campo Grande sente-se o desafio de uma pastoral de esperança. É preciso acreditar que, para o cristão tudo está marcado pela Ressurreição. “Com Cristo Ressuscitado, todos ressuscitaremos” (1 Cor 15). O Senhor foi preparar-nos um lugar (cf Jo 14). Por tudo isso não “podemos ficar tristes, como os pagãos que não têm esperança” (Ts 2).

• Os sacramentos da vida, por ocasião das doenças graves, são a Unção dos Doentes e o Viático que sabemos serem momentos de alegria pascal.

• A celebração dos funerais permite-nos recordar a beleza da bem-aventurança eterna. O Credo di-lo expressamente: “Creio na ressurreição da carne e na vida eterna”.

• O acompanhamento das famílias que estão de luto, leva a estar com as pessoas na amizade e na oração, a dar a todos o verdadeiro sentido da vida que não termina com a morte.

• Ficar próximo das famílias que tiveram a perda dos seus mais queridos, faz da Paróquia uma família solidária, nas horas boas e más.

Vale a pena dizer como Miguel Trigueiros: “Vêm as sombras hoje ter comigo/ vêm as sombras num cortejo lento/ vêm as sombras a pedir-me abrigo/ ou sou eu que as procuro em pensamento…”
Numa evocação de amor, a sombra dos que partiram revela-nos a vida que continua.

4. Que os Santos que temos no céu intercedam também por nós.

Pe. Vítor Feytor Pinto
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