Caríssimos Amigos,
1. O Conselho Pontifício para a Pastoral da Saúde realiza a sua 28ª Conferência Internacional do Vaticano sobre questões de saúde. A temática é de uma extraordinária oportunidade: “O envelhecimento e as patologias neurodegenerativas”. De facto, com o aumento do tempo de vida, têm surgido doenças novas que afectam os mais velhos. Conhecer cada situação e saber como responder clinicamente, com respostas eficazes, é certamente um desafio feito aos profissionais de saúde cristãos. Ali em Roma, vão encontrar-se 600 técnicos altamente competentes, de mais de 50 países. Portugal está representado, nesta Conferência Internacional, pelo Secretário de Estado Adjunto da Saúde e muitos médicos e enfermeiros que se dedicam aos problemas dos idosos.
• 50 médicos, enfermeiros e outros profissionais de vários hospitais.
• O Director-Geral de Psiquiatria da Direcção Geral de Saúde.
• A Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, que se faz representar pela vice-provedora.
• A União das Misericórdias, que envia um grande número de provedores das misericórdias do Continente, da Madeira e dos Açores.
• A Pastoral da Saúde coordena toda esta delegação constituída por mais de 50 pessoas.
Portugal é o 2º país com uma delegação mais numerosa e mais representativa. O primeiro é a Itália, seguido por Portugal. Em 3º lugar está a Espanha e em quarto lugar a Alemanha.
2. Este ano sinto mais esta minha estadia em Roma. A cidade eterna é sempre apaixonante. Vim aqui, muitas vezes por ano, quando era consultor do Conselho Pontifício para a Pastoral da Saúde e Assistente Espiritual da FIAMC, a Organização dos Médicos Católicos. Este ano é a última vez que acompanho a Conferência Internacional do Vaticano como coordenador da Pastoral da Saúde em Portugal.
• Reparo que estou na área da Pastoral da Saúde há 31 anos, desde Dezembro de 1982, quando fui nomeado coordenador das Capelanias Hospitalares.
• Depois, desde 1985 até agora, levei o encargo da Pastoral da Saúde em Portugal. Tive momentos de grande alegria e alguns de muito sofrimento.
• Nem sempre consegui realizar tudo o que ia sonhando. Neste tempo de avaliação, reconheço que fiquei muito aquém de tudo o que desejaria fazer.
Aqui em Roma, longe de Portugal, avalio melhor o meu caminho e tenho pena de não ter feito muito mais. A Pastoral da Saúde é educação para a saúde, é acção preventiva necessária, é presença nas paróquias, no apoio integral aos enfermos, aos mais velhos, aos que mais precisam. Reconheço que fiquei muito longe do que sonhara. Mas a vida é assim mesmo.
3. Esta estadia em Roma têm-me permitido, na Basílica de S. Pedro, rezar junto dos túmulos dos Papas que mais me marcaram na minha vida sacerdotal, João XXIII e João Paulo II.
• O Papa João XXIII fascinou-me ao convocar o Concílio Vaticano II. Eu era um jovem padre e tinha muita esperança na renovação da Igreja, depois da Guerra de 39-45. O Concílio trouxe o ar fresco de que a Igreja precisava.
• João Paulo II trouxe à Igreja um estilo novo de ser Papa. Chegou ao papado com apenas 58 anos e tornou-se um Papa muito próximo de todos. Depois do atentado, a que sobreviveu, foi ainda mais apelativo na transformação da Igreja. Acompanhei-o quatro dias, na sua primeira visita a Portugal, em 1982. Dias inolvidáveis.
• Agora, em Roma, recordo tudo isto e sou surpreendido com o encontro com o Papa Francisco, no fim da Conferência Internacional do Vaticano. Cada vez tenho mais a certeza de que é o Espírito Santo que conduz a Igreja.
Francisco está sempre a surpreender-nos. Um destes domingos, “receitou” aos peregrinos reunidos para o escutar um novo remédio, o “Misericordina”, um terço que convida à Misericórdia de Deus. Magnífica surpresa a recordar-nos a Novena da Misericórdia instituída por João Paulo II.
4. Sempre que venho a Roma, sinto a grandeza e a pequenez da Igreja. Na sua grandeza, a Igreja revela-nos o Povo de Deus, o mistério redentor de Cristo, a força constante do Espírito Santo que conduz a comunidade cristã. A pequenez da Igreja está na pobreza dos cristãos que muitas vezes perturbam a harmonia do Reino de Deus que está a construir-se. No próximo domingo, vamos celebrar a Solenidade de Cristo Rei. O reinado de Cristo é espiritual, nada tem de temporal. Por isso dizemos que é um reino de verdade e de vida, de santidade e de graça, de justiça, de amor e de paz. Cada uma destas palavras diz-nos que o Reino de Cristo é diferente, que nele só o amor conta, e só por ele podemos ser salvos.
Antes de sair de Roma, ainda vou a Scala Santa. Ali sinto o esforço constante de Jesus para subir os degraus do Pretório de Pilatos que para aqui foram trazidos. Cada degrau tem uma história para contar, história de luta pela justiça e de afirmação de amor. Na minha última oração peço ao Senhor que a todos nos faça obreiros da justiça e construtores do amor.
De Roma, um abraço da maior dedicação. Que a bênção de Francisco que levo para todos, a todos dê força para caminhar.