COM MARIA, A CAMINHO DO NATAL – 8 de Dezembro de 2013

1. Não é por acaso que a Festa da Imaculada Conceição se celebra a 8 de Dezembro, na proximidade do Natal. Maria de Nazaré é a mulher por excelência que, na maternidade, no ser Mãe do Filho de Deus, realizou a plenitude da sua vida. Era muito jovem, mas conhecedora da esperança de Israel. Era de uma família humilde, mas descendente da estirpe de David. Era muito simples, mas consciente das grandes decisões que deveria tomar no tempo certo. Segundo a tradição do seu povo, fora prometida a um jovem, José, que queria desposá-la, mas ela estava enamorada de Deus, a quem, na Sinagoga, escutava com atenção. Assim sendo:

• Escutou a mensagem que lhe foi trazida pelo Arcanjo Gabriel. Com realismo, afirmou não poder aceitar a proposta por “não conhecer varão”.

• Fez discernimento, reconhecendo que, em muitas situações da história de Israel, para Deus não havia impossíveis.

• Dispôs-se a alterar o seu projecto, o que surpreendeu José. Correu riscos de incompreensão ao aceitar a vontade de Deus, mas o Senhor chamava-a para colaborar na salvação da humanidade.

• Acabou por dizer um sim sem condições: “Servirei o Senhor como Ele quiser, faça-se em mim segundo a sua vontade” (Lc 1, 38). Foi o abandono definitivo ao projecto de Deus.

A história de Maria resume-se na aceitação em ser a Mãe do Salvador. A maternidade salvífica é a fonte de toda a sua vida.

2. No Evangelho de Lucas, nos seus dois primeiros capítulos, resumem-se as atitudes fundamentais de Maria ao preparar o nascimento do seu Menino. Ao reler este Evangelho da Infância, compreende-se que Maria descobriu e viveu o essencial. O seu sim não está apenas em aceitar ser a Mãe do Salvador. Este sim revolucionou a sua vida e revela-a como uma mulher diferente, modelo para qualquer cristão, discípulo do seu Filho Jesus.

• O FIAT de Maria é um sim sem condições. Ela abandonou-se completamente ao desígnio de Deus Salvador. Ela aceitou e pôde tornar-se a mãe do Messias e Redentor por chegar.

• A visita a Ain Karim, para visitar a prima Isabel, é o modelo da caridade gratuita. Soube que Isabel esperava um filho na sua idade já avançada. Deixou tudo e foi ao seu encontro.

• O Magnificat é o grito de alegria da mãe. Ao encontrar-se ali, entoou a mais bela de todas as orações: “A minha alma glorifica o Senhor e o meu espírito exulta de alegria em Deus meu Salvador. Ele fez maravilhas, Santo é o seu nome”. Oração de louvor que é também oração de acção de graças.

• Regressou a Nazaré logo após o nascimento de João. Queria estar no silêncio, na simplicidade de vida, até que se cumprissem os nove meses de gestação do seu Filho.

• Caminhou até Belém para cumprir as leis do tempo, sabendo que o seu Filho iria mudar esse tempo, para provocar o aparecimento do Reino de Deus.

E o Menino nasceu na cidade de David. Maria sua mãe preparara o seu nascimento. Os anjos vieram cantar hinos de glória e de alegria: “glória a Deus nas alturas e na terra, aos homens, paz e boa vontade”

3. Se Maria preparou o nascimento de Jesus, também os cristãos devem preparar o seu Natal. Às famílias não basta o encontro de todos, para celebrarem a consoada. Às crianças para prepararem o Natal não chega escrever cartas ao Menino Jesus ou ao “papa Noel”. Aos mais velhos não é suficiente contarem histórias de outros tempos a recordarem muitos natais. Os cidadãos comuns não podem contentar-se com o contributo generoso para o Banco Alimentar, para as vendas de Natal ou para os Fundos de Solidariedade. Maria conseguiu atitudes de compromisso com o projecto de Deus. O mesmo têm de fazer os cristãos.

• Saber dizer sim sem condições à vontade de Deus, na relação com o Senhor que nos ama e no serviço aos irmãos que precisam.

• Saber ir ao encontro de quem se revelou com carências profundas, não apenas na vida económica, mas na vida profissional, moral e até espiritual e afectiva. É o exercício da caridade sem limites.

• Saber conversar com o Senhor Deus numa oração sentida. A oração que prepara o Natal não pode ser uma oração de aflição, tem de ser uma oração de quem ama, de quem serve, de quem se dá.

• Saber viver com simplicidade na rotina do dia a dia. Não fazer despesas desnecessárias, ser discreto no estar e no vestir, ser sóbrio na refeição, ser próximo nas atitudes, tudo isto é viver a simplicidade de Nazaré que prepara o Natal.

• Aceitar a vida da cidade, compreender os outros, respeitar a todos, evitar as tensões, celebrar a alegria geral. Se toda a cidade se alegra, também o Natal se prepara na alegria de todos.

Vale a pena traduzir para a vida todas estas atitudes, recebidas do exemplo de Maria. Dizer sim a Deus que nos ama, ir ao encontro dos que precisam, louvar o nosso Deus pelo dom da vida, viver com simplicidade e transmitir a todos a alegria que vai no nosso coração.

4. A Senhora do Natal é a Senhora da ternura. Fala-se muitas vezes do amor de Maria para com toda a humanidade. Ela não exclui ninguém, quando corredentora soube aceitar o desafio de Jesus no Calvário: “mulher eis aí o teu filho”. Não era apenas João o filho de Maria, como diz José Régio num dos seus poemas, “Teus filhos somos nós”. É a humanidade toda que em Maria recebe o dom do amor feito ternura a ser distribuída por cada homem ou mulher. O desafio de Maria para este Natal é o desafio da ternura feito perdão, reconciliação, justiça, solidariedade, partilha. Cada um de nós, nesta nossa comunidade paroquial, deve inventar com Maria este desafio da ternura.

Pe. Vítor Feytor Pinto
 Prior

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