1. Uma das figuras mais significativas do Advento é, sem dúvida, João Baptista, o Percursor. Nasceu de Isabel que, de avançada idade, já não esperava ser mãe. Aliás, todos a consideravam estéril. Também Zacarias fora surpreendido pela revelação de Deus que lhe pediu, fosse “João” o nome do seu filho. Na casa de Ain-Karin cantou-se de alegria o nascimento deste menino. O seu nome João significa ser ele “o que vem à frente”, o percursor. A história de João escreve-se em três capítulos: o deserto, lugar de silêncio; o Jordão, que o veria pregar, e a masmorra onde foi decapitado.
• No deserto, João vivia uma vida muito austera. Vestia-se de pele de camelo e alimentava-se de gafanhotos e mel silvestre. Em silêncio, preparava-se para a missão que Deus lhe confiava.
• No rio Jordão, pregava a penitência, sugeria a mudança de vida com a partilha de bens, e baptizava na água aqueles que se comprometiam a segui-lo.
• Um dia, viu Jesus a uma certa distância e disse a quantos o rodeavam: “Eis o Cordeiro de Deus, o que tira o pecado do mundo”. Acrescentando logo depois: “Que Ele cresça e que eu diminua”.
• Jesus pediu-lhe para ser baptizado também. Acedeu com dificuldade, mas pôde testemunhar a verdade sobre o Messias. Os céus abriram-se e o Espírito desceu sobre Jesus em forma de pomba. Ouviu-se uma voz que dizia: “Este é o meu Filho muito amado, em quem pus toda a minha ternura, escutai-O”.
• João ainda apresentou Jesus aos discípulos. Perguntai-lhe, disse, se é Ele o que há-de vir ou se é preciso esperar outro. A resposta de Jesus é luminosa: “ide dizer a João o que vistes e ouvistes: os cegos veem, os coxos andam, os mortos ressuscitam”.
• No cárcere, preso por Herodes, João deu a vida pela verdade. Foi decapitado.
A missão de João Baptista era anunciar a vinda do Messias, o Salvador esperado. Em cada uma das suas palavras e dos seus gestos outra coisa não soube dizer senão que Jesus era o Salvador esperado. Profeta da esperança, percursor do Messias, cumpriu a sua missão.
2. A vida de João Baptista oferece a todos os cristãos inúmeras lições de esperança. Ele foi o último dos profetas e a sua tarefa foi dizer a todos que a salvação era possível, porque iria chegar o Messias esperado, a redenção para todos. Os lugares de João são caminho de Advento:
• Com o seu nome, recebido em Ain-Karin, de alguma maneira João exige aos cristãos tornarem-se percursores da Boa Nova do Evangelho. O Evangelho não pode ficar escondido, tem de ser proclamado aos quatro ventos. Todos os cristãos são anunciadores de Jesus Cristo.
• Com a austeridade do deserto, os cristãos são convidados a uma vida simples, a sorrir com a pobreza voluntária. A sobriedade no vestir e no comer são paradigma do Advento, uma vez que só um coração de pobre é capaz de acolher Jesus, o pobre dos pobres.
• Com a pregação da penitência no rio Jordão, João exige aos cristãos a coerência de vida. A dinâmica da partilha de bens confirma que há mais alegria em dar do que em receber.
• Com o baptismo da água, celebram-se os rituais necessários à afirmação da vida comunitária. Ninguém vive sozinho a fé e a caridade. É preciso dizer a todos que vale a pena a aventura do Evangelho. É a teologia dos sinais.
• Com a revelação de que Jesus é o Filho de Deus, João pede aos cristãos para não terem medo de O confessar, seja em que circunstâncias for. Jesus traz-nos o Espírito com que se fazem novas todas as coisas. O seu Baptismo não é apenas na água, é também na força do Espírito Santo.
• Com a denúncia do comportamento errado de Herodes, João faz um alerta a que todas as atitudes dos cristãos, em qualquer momento, sejam compatíveis com as revelações da Boa Nova do Reino.
João Baptista, neste Advento, traz a esperança de que o mundo pode ser melhor. Tendo recebido o baptismo, os cristãos são chamados a levar a Palavra de Deus a todos os homens, a configurarem-se em tudo com Cristo Redentor e a dar a vida sem medo, para que a todos chegue a salvação.
3. Na personalidade de João Baptista há atitudes que importa sublinhar. A exigência para consigo mesmo, a coragem nas propostas que fazia aos cidadãos que o procuravam, a alegria com que anunciava estar próximo o Reino de Deus, porque o Messias estava a chegar, a força interior para denunciar quando necessário e a entrega total até ao dom da vida. Estas atitudes são desafios de Advento e tornam-se referência para os cristãos deste nosso tempo.
• A exigência é uma virtude singular que se espera de cada um. O cristão tem de ser exigente consigo próprio, sem ceder à mediocridade dos fracos, nem à conveniência dos interessados, nem ao ridículo dos hipócritas. A exigência consigo mesmo é uma virtude cristã fundamental.
• A coragem marca o comportamento dos homens livres. Só na liberdade total se consegue arrostar com as dificuldades, enfrentar as adversidades, aceitar as injustiças, lutar pela verdade, conseguir a reconciliação e a paz.
• A alegria faz parte da serenidade interior, do dever cumprido, da realização conseguida. Os cristãos cultivam a alegria, sabem acolher, sabem sorrir, sabem falar, sabem estar sempre próximos daqueles que estão a sofrer. A alegria nada tem a ver com o barulho das gargalhadas. A alegria verdadeira é a única fonte de um ambiente de paz. Com razão Jesus pôde dizer: “Felizes os que têm um coração de pobre, um coração sincero, um coração misericordioso, um coração pacificador, um coração que luta pela justiça e pelo amor”.
• A força interior nasce na tranquilidade da consciência. Ao avaliar-se que se foi fiel em tudo no projecto de Deus, sente-se uma energia acrescida que permite ultrapassar montanhas. Com esta força que é cimentada com o amor a Deus e aos irmãos, tudo se crê, tudo se espera, tudo se sofre, tudo se ama com uma caridade que não acaba nunca.
• A entrega total é a plenitude do dom de si, para a comunhão plena com Cristo e com os irmãos.
João viveu estas atitudes até ao limite das suas forças. Tornou-se por isso, para o cristão, um modelo a seguir neste tempo de esperança. Esperar não é ficar parado, aguardando o que possa acontecer. A esperança activa é acção generosa para conseguir sempre o bem maior da humanidade.
4. Neste tempo de Advento, vale a pena olhar para João Baptista e levar até ao fim, com a força do Espírito, a mensagem de esperança que a promessa da salvação veio trazer ao mundo. Tudo pode ser melhor. É preciso acreditar.