ANO NOVO, VIDA NOVA – 5 de Janeiro de 2014

1. Todo o mundo celebrou a entrada no Ano Novo. Houve concertos, fogo de artifício, inúmeras manifestações de alegria. Em Londres caíram do céu “confetis” imitando flocos de neve. No Rio de Janeiro, quase três milhões de pessoas dançaram na Praia de Copacabana. Em Lisboa, o Terreiro do Paço encheu-se de uma multidão que acompanhou várias “bandas”, contagiando de movimento todas as pessoas. No convívio da família e cumprindo tradições, também se viveu a passagem do ano, desejando saúde, dinheiro e realização. Bastará, no entanto, tudo isto para viver a passagem de mais um ano?

 • Os mais pobres, os sem-abrigo, os marginalizados, como viveram o seu “reveillon”, como entraram em 2014?

 • Os doentes nos hospitais, no meio da maior ansiedade, sem saberem bem qual o seu futuro, como imaginaram o ano novo?

 • Os mais velhos, com os filhos distantes, já sem amigos, como suportaram a solidão das horas que passam, sem terem ninguém por perto?

 • E os migrantes, os refugiados, os que são vítimas de violências ou conflitos, talvez em abrigos, isolados nas tendas dos campos de emergência onde foram acolhidos, na Síria, no Sudão, em muitos lugares do mundo, que Ano Novo terão vivido?

 Neste tempo de Ano Novo há imensa gente cuja vida nada mudou. Continuam com as mesmas dificuldades, a mesma incerteza sobre o futuro, a mesma solidão, por vezes com muitas pessoas por perto.

2. Tendo “consciência” dos outros que não celebraram o Ano Novo, o Papa Francisco reclama a fraternidade, como fundamento e caminho para a paz; faz apelo à luta contra a pobreza; convida ao diálogo entre os dirigentes das nações que estão em guerra; pede a solidariedade indispensável para com os que mais sofrem; chama à capacidade de cada um ir ao encontro do outro para lhe dizer que toda a relação de perdão e de amor é possível. Aliás, esta luta por um mundo novo, com a celebração do Dia Mundial da Paz, vem já de Paulo VI, em 1968. Desde então, quantos slogans foram lançados pelos Papas, quantas propostas de reconciliação feitas aos detentores do poder político e económico, quantas vigílias e jornadas celebradas nas catedrais ou nas capelas pequeninas espalhadas pelo mundo todo. Sobre a paz já tudo foi dito, falta apenas construi-la com gestos de perdão e de serviço ao bem comum. Nos últimos dias, Francisco tem lançado pistas fundamentais para a construção da paz.

 • Condena o capitalismo selvagem, todo ele centrado no lucro dos mais poderosos, com o desprezo sistemático pelas pessoas.

 • Critica também, o socialismo levado ao extremo, que pretende distribuir benesses ditas sociais, sem ter em atenção todas as consequências numa economia global.

 • Pede, ainda, aos detentores do poder político e económico, uma luta organizada contra a pobreza, para todas as pessoas poderem sentir-se iguais, nos recursos de que dispõem, para a realização e a felicidade de todos. Não pode haver situações de miséria que destruam a dignidade humana de grandes populações.

 • Afirma com veemência que não pode continuar a haver fome no mundo para milhões, ao mesmo tempo que outros milhões combatem a obesidade nascida no exagero de comer e de beber.

 • Sugere um diálogo responsável entre os “donos do mundo” para que sirvam o bem comum e sacrifiquem os próprios interesses pessoais ou de grupo. De facto, os conflitos aparecem onde há recursos (como o petróleo) que todos querem fazer seus.

 • Chama ao perdão e à reconciliação, coisas indispensáveis à construção de um mundo novo, de justiça, de liberdade e de paz.

 O Papa Francisco, pelos seus gestos e pela sua linguagem, está a sensibilizar toda a comunidade humana. Será possível que influencie de tal modo o mundo que a pobreza seja atenuada e a paz reine entre as pessoas? Este é o maior desafio feito à humanidade, neste Ano Novo de 2014 que acaba de nascer. A mensagem para a Paz do Papa Francisco tem razão de ser: a fraternidade é fundamento e caminho para a paz.

3. O Ano Novo, ano da esperança, como lhe chama o Papa Francisco, não pode acontecer apenas ao nível das grandes potências, ou dos programas políticos e económicos. É na vida de cada um que o Ano Novo começa. Cada cristão tem o dever de descobrir o que de novo lhe é pedido, neste início de ano. Qual a novidade a construir e que pode mudar o ritmo de vida. É neste sentido que se diz: “Ano novo, vida nova”. Então, qual a novidade a construir?

 • Vida nova no ambiente familiar, na relação marido-mulher, no diálogo dos pais com os filhos, na abertura da casa aos mais pobres, no alargamento dos laços familiares, na atenção aos avós.

 • Vida nova no mundo de trabalho, valorizando a competência profissional, a colaboração entre os colegas, a responsabilidade para acolher os que procuram os serviços, a capacidade de inovação e eficácia.

 • Vida nova na relação social com amigos e conhecidos, proporcionando sempre um convívio agradável, um diálogo simpático, um ambiente que acolhe, serve e faz as pessoas felizes.

 • Vida nova na participação económica e política com o aproveitamento de oportunidades para intervir na construção do bem comum, e simultaneamente, abrindo a porta à partilha solidária para ajuda aos mais precisados.

 • Vida nova na espiritualidade vivida por cada um dando tempo à oração, à reflexão profunda sobre os valores do Evangelho, ao confronto dos acontecimentos com os desafios que nos vêm de Jesus Cristo, garantindo mesmo tempos de silêncio, onde a sós com Deus cada um sente melhor as exigências que lhe são feitas por ser cristão.

O Ano Novo não pode permitir continuar-se na rotina dos dias. Não basta cumprir os rituais já muito organizados na vida de família, na profissão, na vida social. É sobretudo, necessário, reinventar o amor, para que em todas as circunstâncias a vida seja mais bela e a todos faça mais felizes.

4. Neste início de Ano, apesar dos limites económicos, os cristãos têm o dever de cultivar o sorriso. Este tempo novo tem que ser tempo de esperança. Se é certo que a comunicação social não oferece o muito de positivo que hoje se vive, todos podem partilhar as experiências de alegria que com simplicidade levam a todos razões de esperança. O Papa Francisco chama à fraternidade. Que na nossa Comunidade Paroquial do Campo Grande todos se sintam irmãos e irmãs, felizes nas horas de alegria, solidários nos tempos da dificuldade, serenos em todas as circunstâncias, simplesmente porque somos construtores da paz.
Bom Ano Novo, com as maiores bênçãos de Deus.

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