A SENHORA DA EPIFANIA – 12 de Janeiro de 2014

1. O ciclo litúrgico do Natal termina com duas festas, a dos Santos Reis Magos e a do Baptismo do Senhor. São duas epifanias. Se epifania quer dizer manifestação, a visita dos Magos a Belém, guiados por uma estrela, significa a manifestação de Jesus aos gentios, a universalidade da salvação. Além disso, o Baptismo do Senhor, feito por João Baptista no rio Jordão, manifesta Jesus como filho de Deus, Salvador: o Espírito Santo desceu sobre Ele em forma de pomba e ouviu-se uma voz que dizia “este é o meu Filho muito amado em quem pus toda a minha ternura” (Lc 9, 35). Nos textos do Evangelho há muitas outras epifanias: nas bodas de Caná, Jesus manifesta-se aos discípulos (cf. Jo 2, 1-11); no Tabor, manifesta-se aos mais íntimos, Pedro, Tiago e João (Mt 17, 1-9); no Calvário, manifesta-se até aos que o crucificam (cf. Mt 28, 54), como foi o caso do centurião romano. A vida de Jesus é uma epifania permanente.

2. Maria constitui uma figura fundamental na manifestação de Cristo à Humanidade. Depois do sim que deu a Deus quando o Anjo Gabriel lhe trouxe o convite para ser a mãe do Salvador, Maria passa a revelar o seu filho em todos os momentos.

• Em Ain Karin, ao visitar a sua prima Isabel que já estava no sexto mês de uma gravidez difícil, Maria escuta um hino de louvor quando Isabel lhe diz: “de onde me é dado que venha ter comigo a Mãe do meu Senhor” (Lc 1,43). Foi esta a primeira manifestação de que o Menino que ia nascer era o Salvador do mundo.

• Em Belém, revelou Jesus aos pastores que guiados pelos anjos vieram cantar-lhe Hossanas. Os pastores, os mais pobres do tempo, contavam tudo o que os anjos lhe haviam dito. Maria, em silêncio, guardava tudo com alegria no coração.

• Ainda em Belém, Maria recebeu os Magos vindos do Oriente. Aceitou os presentes de ouro, incenso e mirra, viveu a certeza de que o seu filho era Rei, Deus e Homem, e compreendeu que Jesus não pertencia a ninguém, tinha nascido para ser de toda a humanidade.

• Em Jerusalém, no templo, deixou o seu filho nos braços do velho Simeão. A grande manifestação deu-se logo depois, quando este homem sábio fez a sua oração, dizendo: “Agora, Senhor, podes levar o teu servo em paz… porque já vi o Salvador”(Lc 2, 29). A esta epifania associou-se a profetiza Ana que dava graças a Deus pela presença, ali, do Salvador.

• Quando em Nazaré Maria cumpriu as tradições do seu povo levando o seu Menino de 12 anos ao templo. Ali ficou então Jesus a conversar com os doutores da Lei. Jesus tinha que cumprir a vontade de Deus Pai. Com palavras sofridas ela entendeu que o seu Menino lhe não pertencia, vinha para cumprir em tudo e sempre a vontade do Pai.

• Em Caná da Galileia, num acontecimento social, perante as dificuldades dos noivos que já não tinham vinho, Maria manifestou Jesus aos empregados da festa, dizendo-lhes “fazei tudo o que ele vos disser” (Jo 2, 5).

• Numa rua de Jerusalém, Maria “provocou” Jesus, que teve uma exclamação estranha: “A minha mãe e os meus irmãos são os que ouvem a Palavra de Deus e a põem em prática” (Lc 8, 21). Todos ficaram a saber o que Jesus queria. Mas ela, a Senhora, era quem estava em primeiro lugar no cumprimento da vontade de Deus.

• Finalmente, no Calvário, Maria ficou de pé, aceitando ser mãe de toda a Humanidade. E, com Jesus nos braços tornou-se co-redentora no mistério da morte e ressurreição de Cristo.

Toda a vida de Maria de Nazaré é uma autêntica epifania, pois uma única coisa lhe pertence: manifestar Jesus a todos os homens. Com razão se tornou norma dizer “per Mariam ad Jesum”, isto é, por Maria, ao encontro de Jesus.

3. O Papa Francisco tem-se revelado diferente de todos os Papas. A sua linguagem é mais simples, mais compreensível, com expressões que toda a gente usa. O seu estilo de vida está marcado pela proximidade, vivendo na Casa de Santa Marta, falando a toda a gente, na Praça de S. Pedro aceitando o grito de pessoas em sofrimento, respondendo a cartas que revelam problemas pessoais intensos, pegando até no telefone para falar pessoalmente com alguém que está em maior sofrimento. Sendo assim, alguns perguntam se ele é um papa mariano. João Paulo II tinha uma extraordinária devoção a Nossa Senhora, de tal maneira que até mandou colocar numa das paredes do Palácio, virado para a Praça de S. Pedro, um lindíssimo ícone de Maria. Bento XVI visitou Fátima e muitos outros santuários marianos. E o Papa Francisco, será ele mesmo mariano? Na sua originalidade Francisco revela-se de uma extraordinária devoção a Nossa Senhora.

• Na varanda da Basílica de S. Pedro, na tarde da eleição, Francisco Papa pede ao povo romano para rezar a Salvé Rainha, sugerindo a protecção de Maria para os grandes problemas do mundo.

• Na manhã seguinte da sua eleição, vai a Santa Maria Maior pedir a protecção de Maria para o seu pontificado. Aliás, quando Cardeal, ao vir a Roma, passava sempre uma tarde em oração na Basílica de Santa Maria Maior.

• No final do Conclave que o elegeu, o Papa Francisco pediu ao Cardeal que estava a seu lado, o Patriarca de Lisboa, que consagrasse o seu pontificado a Nossa Senhora de Fátima. D. José Policarpo fez-lhe a vontade a 13 de Maio, na presença de todo o episcopado português. É lindíssima esta consagração que o Patriarca de Lisboa proclamou diante da imagem da Virgem de Fátima.

• Em Roma, a 12 e 13 de Maio, o Papa Francisco quis ter com ele a imagem da Capelinha das Aparições. Foi ocasião para o Papa consagrar o mundo inteiro ao Coração Imaculado de Maria.

• Já em Buenos Aires, o Cardeal Bergoglio levara à sua diocese a visitar todas as paróquias a Virgem Peregrina, que de Fátima chegou para estar quase um mês na grande diocese de Buenos Aires.

Na recente Exortação Pastoral sobre a Alegria do Evangelho o Papa Francisco diz expressamente que Maria é a mãe da evangelização, ela fez o dom de Jesus ao seu povo e é a estrela da nova evangelização (A. E. 284-288).

4. Ao terminar o ciclo do Natal, faz bem aos cristãos perguntarem-se sobre qual é a sua relação com Maria. Para muitos a devoção mariana não passa da religiosidade popular; para outros constitui um sentimentalismo que não deixa chegar ao essencial da mensagem cristã; e há, até, quem não reconheça Maria como importante na sua espiritualidade ou na vida da Igreja. Sendo Nossa Senhora a Virgem da Epifania, é bom que cada cristão descubra nos silêncios, nas palavras e nos gestos de Maria a melhor forma de revelar Jesus aos outros. Três atitudes são fundamentais: sabermos dizer sim ao projecto de Deus, como ela fez; sabermos estar atentos a tudo o que se passa à nossa volta para lá introduzirmos a presença de Jesus como Maria soube estar; aceitar o sofrimento que as normais dificuldades da vida nos trazem e que reclamam confiança e uma esperança redobrada, como Maria soube aceitar em todas as circunstâncias.
Nossa Senhora da Epifania convida-nos a saber manifestar Jesus sempre e em toda a parte.

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