1. Ao longo dos séculos a Igreja tem procurado responder aos grandes problemas colocados no mundo pela normal evolução das coisas. Foi assim, quando Roma foi invadida pelos bárbaros. Então, Santo Agostinho dizia: “não é um mundo velho que acaba, é um mundo novo que começa”. Também aconteceu isto quando, na Idade Média a Igreja se deixou dominar pelos príncipes. Francisco de Assis e Domingos de Gusmão voltaram-se para os pobres, para todos os que estavam à margem da sociedade e que encontraram a Palavra de ânimo e o apoio na sua pobreza. Na era da industrialização, no século XIX, Leão XIII tomou a iniciativa e defendeu a classe operária, com a Encíclica Rerum Novarum. Tem sido assim nos tempos modernos com Pio XII, João XXIII, Paulo VI e os conhecidos Papas João Paulo II e Bento XVI. Se a sociedade tem perdido o sentido de Deus, chega-nos agora o Papa Francisco que fascina pela linguagem, apaixona pelos gestos novos, mas consegue fazer que o mundo todo olhe para a Igreja, a escute e queira gerar uma vida nova. É a Igreja que se renova, sempre que responde ao mundo com novos desafios.
2. A Igreja, em Portugal, acompanha este ritmo de renovação e de esperança. Em Abril passado, a Conferência Episcopal publicou uma Nota Pastoral em que reune as grandes questões que lhe foram levantadas, em inquérito público, e que encontraram eco para a renovação pastoral necessária. Em Portugal quer-se uma Igreja com rumos diferentes.
• Uma Igreja permanentemente em estado de oração, formação, renovação e missão, atenta a todas as pessoas e aos sinais dos tempos.
• Uma Igreja dinâmica e participativa, discipular e missionária, próxima e acolhedora ao estilo de Jesus Bom Pastor.
• Uma Igreja intensamente marcada pela prática da caridade fraterna, que não fique à espera das pessoas, mas vá ao seu encontro.
• Uma Igreja que se faça companheira de viagem dos jovens, sempre atenta aos seus sonhos e anseios, sabendo que os jovens procuram a Igreja para se “alimentarem”.
• Uma Igreja que se sente capaz de ajudar a resolver os inúmeros problemas que hoje assolam as famílias.
• Uma Igreja que procura sempre o empenho e a participação de todos, também os leigos, mesmo os mais novos.
Esta é a visão que muitos desejam ter da Igreja perante o mundo, não para o condenar, mas sempre para o salvar. Foi Jesus que disse: “Eu não vim para condenar o mundo, mas para que ele seja salvo” (Jo 3,17).
3. É necessário renovar pastoralmente a Igreja que somos. O Papa Francisco pede uma Igreja “em saída”, isto é, que sai de si e vai ao encontro de todos os homens. Uma Igreja que quer falar para todos, ter uma linguagem que todos entendam, saber amar, fazendo-se próxima de todos. Para isso, para ter as portas abertas, a Igreja define rumos concretos que marcam toda a sua acção pastoral agora e no futuro. A Conferência Episcopal definiu esses rumos:
• O primado da relação com Deus e uma nova mentalidade, isto é, comunidades que dêem tempo à contemplação e à oração para conseguirem a transformação da mente e a conversão do coração;
• A comunhão na missão e para a missão, isto é, a unidade vivida em tudo e com todos, unidade esta construída no amor;
• A missão de todos e para todos, sabendo que fomos enviados para anunciar o Evangelho e para dar testemunho de Cristo em toda a parte;
• Professar a fé, esta revitalizada com o testemunho cristão, o que só é possível se se acolher e compreender a toda a gente, se se for solidário com os mais pobres e com os que mais sofrem;
• Criar iniciativas de formação, sobretudo através da iniciação cristã, o que exige tempos fortes de aprofundamento da fé, para uma vida quotidiana marcada pelos valores do Evangelho;
• Dar prioridade absoluta ao amor, vivendo como Jesus no meio dos outros, com simplicidade, acolhendo e praticando o Evangelho. Só assim é possível a formação cristã suficiente, segundo a vocação de cada um.
Todos estes são rumos que podem orientar a vida pastoral das comunidades cristãs, para que rapidamente cada cristão esteja vivo, presente em tudo e em todas as coisas.
4. O Patriarcado de Lisboa quer apostar nesta renovação pastoral, quer influenciar a cultura, quer acompanhar o mundo do trabalho para garantir a justiça necessária, quer descobrir formas de solidariedade e de promoção humana. O novo Patriarca de Lisboa, o Senhor D. Manuel Clemente, traz consigo acrescidas razões de esperança para a nossa acção pastoral.
No Dia de S. Vicente, padroeiro principal do Patriarcado, deu-nos a conhecer o seu sonho: convocar um Sínodo Diocesano para o ano de 2016. Até lá, estamos todos em preparação sinodal. Vale a pena perguntar o que nos é pedido para a nossa renovação interior, para a renovação das nossas comunidades, para a renovação dos sinais que lançaremos ao mundo, para que este se torne também cristão, à imagem dos valores que do Evangelho nos vêm.
Estamos já em estado sinodal. O Patriarcado e a nossa Paróquia do Campo Grande vão renovar-se profundamente na sua acção pastoral. Graças a Deus.
Pe. Vítor Feytor Pinto Prior
Prior