1. Uma comunidade cristã é constituída por pessoas muito diferentes. É claro que tem vários sacerdotes, mas também tem religiosos e leigos. Tem muitas crianças que frequentam as catequeses, mas também tem jovens nos grupos de reflexão e acção, e ainda tem adultos dispersos pelas mais diversas actividades. Tem pessoas cheias de saúde, no vigor da vida, mas tem também doentes e alguns mais velhos, já cansados pelos anos. Tem muitos que vivem desafogadamente, embora não sejam ricos, mas tem inúmeros pobres e mais carenciados. Na comunidade paroquial, há, no entanto, momentos em que se privilegiam alguns dos que mais sofrem. É o caso, agora, com a celebração do Dia Mundial do Doente, a 9 de Fevereiro, o domingo mais próximo do dia 11, a data por excelência desta actividade pastoral.
2. O Dia Mundial do Doente foi instituído pelo Papa João Paulo II, em 1992, no prolongamento da actividade da Igreja na área da Pastoral da Saúde. Em cada ano, todas as comunidades cristãs dão especial atenção aos mais frágeis, aqueles que mais sofrem. O Papa Francisco continua este desafio da celebração do Dia Mundial do Doente.
• O tema é muito belo: “Fé e caridade – também nós devemos dar a vida pelos irmãos”. A expressão da nossa fé manifesta-se no serviço aos que mais sofrem.
• A relação entre fé e caridade é um desafio constante, uma vez que “a fé sem obras é morta” (Tg 2, 14), e não passa de um espiritualismo superficial. É preciso ir ao encontro de irmãos e dar a vida por eles. Assim se exprime a fé.
• Todas as celebrações trazem consigo sinais de alegria. A Santa Unção é um sinal dessa alegria pascal. O Sacramento dos Doentes é sinal de que o Senhor está presente nas normais dificuldades humanas, sendo possível vencê-las com a força do Espírito. A Unção dos Doentes é Sacramento de vida.
• Este dia é tempo de reflexão sobre a capacidade de aceitar o sofrimento e de, à semelhança de Jesus, o oferecer pela redenção dos homens. Os doentes têm uma força extraordinária junto de Deus, pois a sua oração está enriquecida com a oração de Jesus na cruz.
• Os profissionais de saúde, os agentes pastorais e os voluntários estão mobilizados para dar a vida, servindo os irmãos doentes que suportam a dor e o sofrimento. A dor é física, o sofrimento atinge a vida toda. Mais do que aliviar a dor, é necessário confortar o doente, para que o seu sofrimento seja menor.
Celebrar o Dia Mundial do Doente é revestir de alegria o tempo difícil vivido por causa dos limites humanos. A bênção de Deus, porém, converte a dor em alegria, e o tempo de provação em tempo de esperança.
3. A Pastoral da Saúde é, numa comunidade cristã, muito mais do que a celebração do Dia Mundial do Doente. Há desafios pastorais muito concretos que orientam a acção a desenvolver junto dos mais frágeis.
• Quem são os nossos doentes? É claro que não se está a falar das normais gripes de Inverno ou das insolações de Verão. Temos doentes crónicos, doentes pós-operados, deficientes profundos, idosos em fase avançada de idade e até doentes terminais.
• Onde estão estes doentes? Certamente que tiveram alta hospitalar e estão, ou nas suas casas, ou em residências que os acolhem, ou no nosso Centro de Dia, ou até na rua, como acontece com tantos sem-abrigo. Se por vezes os acompanhamos a um serviço de urgência, ou ao Centro de Saúde, logo os trazemos, de novo, ao seu espaço onde, aliás, vivem habitualmente.
• Quem os cuida, como os acolhemos, como os tratamos? Sem dúvida que a equipa da Pastoral da Saúde da Comunidade Paroquial tem alguns profissionais de saúde, mas tem também assistentes sociais, ministros extraordinários da comunhão, voluntários. É em conjunto que esta acção sanadora se realiza.
• Como cuidá-los, com que meios? Todo o cuidar deve ser integral. Para além da assistência com terapias adequadas é muito importante responder aos problemas sociais que garantem a qualidade de vida e também proporcionar os apoios espirituais e mesmo religiosos que equilibram a pessoa nos momentos de angústia. O cuidar integral significa o acompanhamento ao ser humano no seu todo, sem esquecer nenhum pormenor, necessário a um estilo saudável de vida.
• Dar por eles a vida? A vida dá-se quando se ama sem condições e os doentes de uma comunidade merecem esta entrega por eles, nos cuidados mais diversos. Dá-se a vida quando se lhes leva a casa o almoço ou o jantar; dá-se a vida quando se fica algum tempo a conversar, a jogar cartas, a comentar a notícia do jornal ou um programa de televisão; dá-se a vida, também, quando aos doentes se leva a comunhão a casa e se reza com eles.
A organização da Pastoral da Saúde, no serviço aos doentes, é de verdade um processo de Nova Evangelização.
4. É bom cada um de nós ter consciência de que o fenómeno do envelhecimento também um dia nos atingirá. Já Jesus, depois da ressurreição, dizia a Pedro: “quando eras mais novo, tu mesmo atavas o cinto e ias para onde querias; mas, quando fores velho, estenderás as mãos e outro te há-de atar o cinto e levar para onde não queres” (Jo 21, 18); de facto, a doença e a velhice são limites humanos, próprios da natureza. Todos vamos um dia depender de outros. Por isso, vamos fazer hoje aos outros, que são mais frágeis, aquilo que gostaríamos que nos fizessem a nós. De facto, há situações que exigem redobrados cuidados. Perante a solidão na idade avançada, a incerteza da cura nas doenças mais graves, a dificuldade de mobilidade, a quebra da memória e a angústia do nada fazer, a comunidade cristã tem o dever de fazer seus aqueles que têm grandes dependências. É por isso urgente inventar o amor, com gestos novos, sinais de esperança. Convidam-se, por isso, os cristãos:
• A visitar, nestes dias, algum doente mais grave, ou um idoso mais só, ou até um familiar que se afastou um pouco mais. Estes gestos de amor são para o cristão uma verdadeira missão.
• A comunicar à comunidade paroquial o nome e o endereço de pessoas que precisam de especiais cuidados, indicando até se desejam ter uma assistência espiritual que os liberte da angústia.
• A contribuir com alguns bens que possam ser úteis para os que estão em maiores dificuldades. Pode ser um cobertor para proteger do frio, um casaco de agasalho neste tempo de Inverno, uns sapatos que protejam da chuva, ou qualquer outra coisa que não nos faça falta e seja útil para quem está em sofrimento.
• A procurar reintegrar na família os que por qualquer razão foram marginalizados e agora, na doença ou na velhice, se sentem mais sós. Contactar um filho, um irmão ou um parente, criando com delicadeza um processo de reconciliação. Ser ponte de amor constitui sempre um esforço de redenção.
• A abrir a porta à oração ou até a um sacramento para fazer entrar Jesus na vida de quantos pela doença ou pela idade estão em maior provação.
A Pastoral da Saúde está em tudo isto e em muitas outras coisas que o amor pode inventar. Afinal o que se pretende é apenas “dar a vida e a vida em abundância” (Jo 10, 10).
5. A comunidade Paroquial do Campo Grande está hoje a viver o Dia Mundial do Doente. Acolhemos quantos vêm celebrar o Sacramento da Unção, visitamos aqueles que não podem sair de casa, rezamos por todos aqueles que estão em sofrimento e a quem queremos dar esperança. “Também nós queremos dar a vida pelos nossos irmãos”.
Pe. Vítor Feytor Pinto - Prior