1. Na população portuguesa, 26% das pessoas têm mais de 65 anos. Nas estatísticas oficiais são considerados “seniores”. Há muitos que dizem continuar a trabalhar, sobretudo nas profissões liberais, mas o maior número recorre à reforma. É certo que alguns destes têm já uma idade avançada e merecem o apoio da comunidade paroquial. Na véspera do Dia Mundial do Doente fui visitar alguns idosos com mais de 90 anos. Já não saem de casa, as suas residências não têm elevador, a sua mobilidade é diminuta. Ao verem entrar o prior com alguns voluntários, espelhou-se um largo sorriso nos seus rostos e de um deles saiu este grito de alegria: “está a nascer o sol na minha casa”. De facto, são muitos os idosos já cansados pelo tempo. Mantêm, porém, uma fé viva que dá sentido à sua dor. Entre as pessoas que já não saem à rua, na nossa comunidade paroquial, há uma enorme variedade de situações:
• São as pessoas com mais de 80 anos que estão a viver afectadas por artroses, por AVCs e princípios de Parkinson, por problemas cardíacos, por perdas de memória com Alzheimer prematuro e por tantas outras enfermidades;
• São os deficientes profundos, pessoas em cadeiras de rodas e a precisar dos mais variados cuidados terapêuticos, a par de todo o carinho que para eles é essencial;
• São os doentes crónicos, com uma regra de vida muito apertada, para poderem sobreviver a patologias complicadas que, ao longo da vida, os atormentam;
• São, até, doentes terminais, com cuidados paliativos para atenuar a dor e que carecem de inúmeros cuidados no termo difícil da sua vida.
Além destas pessoas idosas e doentes, há ainda as pessoas que se isolam, por não aguentarem o luto, ou pela crise económica que sofrem, ou por razões afectivas não superadas. São pessoas em solidão diferente, mas que não podem ser estranhas à vida da comunidade cristã.
2. Os mais velhos constituíam, antigamente, nas comunidades locais, um grupo de pessoas de extraordinária importância. Eram considerados os patriarcas, a referência para os mais novos, o apoio nas horas mais difíceis. Não pode aceitar-se que tenham passado a ser pessoas dependentes de todos os outros, assistidos económica e socialmente, em perda constante. Quando, há tempos, se celebrou o Ano Europeu do Envelhecimento Activo, pretendeu-se dar aos mais velhos o estatuto a que têm direito e a acção que podem desenvolver, a partir da sua idade. Eles são portadores de uma memória, de inúmeras experiências, de muita colaboração a dar, de imensa ternura que podem oferecer e de oração indispensável para o equilíbrio na humanidade.
• A memória – Quantas recordações nos são transmitidas pelos mais velhos. As tradições, a família, as grandes marcas de um povo/nação, as histórias da velha casa solarenga (ou humilde), as pequenas e grandes aventuras que trouxeram a crise.
• A experiência – Depois de tantos anos de vida, os mais velhos conhecem os riscos, as situações difíceis, ou as formas de sucesso e as vantagens já conseguidas. Não têm apenas os conhecimentos adquiridos na escola, têm “o saber da experiência feito”.
• A colaboração – Os mais velhos com facilidade estão disponíveis. É a vida dos avós, que substituem os pais na ajuda aos netos, quando aqueles estão ocupados numa actividade profissional intensa. Complementam o trabalho dos mais novos, com a riqueza de um saber. Mais do que tempo, dão a vida, com amizade, com disponibilidade, com alegria constante.
• A ternura – As pessoas com mais idade têm necessidade de acolhimento e compreensão, mas também sentem muito a falta de ternura. Por outro lado, têm imenso carinho para dar. É esta a razão pela qual se deliciam ao estar com os netos e ao falar deles a toda a gente. A ternura revela-se tanto nas lágrimas de emoção, como no sorriso com que manifestam a sua gratidão.
• A oração – Hoje fala-se muito da “gerontotranscendência”, que consiste na especial capacidade das pessoas mais velhas se aproximarem de Deus. A certa altura parece que se desinteressam de tudo e passam os dias a falar com o Deus em que acreditam. A oração é para eles libertação. O encontro com Deus fá-los sentirem-se felizes.
A riqueza dos mais velhos é, numa comunidade cristã, uma mais-valia excepcional. A simples presença no meio das crianças, dos jovens, dos adultos, constitui por um lado o valor da sensibilidade que a todos contagia, por outro a oportunidade de prestar serviços simples que os nossos “avós” fazem sempre com alegria.
3. Às vezes, pergunta-se o que é que as pessoas com idade avançada podem fazer. Não é preciso procurar muito. Na vida da comunidade há os ministérios profético, litúrgico e socio-caritativo. Com espontânea caridade ou com voluntariado organizado, pessoas que estão disponíveis porque já deixaram o trabalho profissional, têm inúmeras oportunidades para colaborarem.
• No papel de Avós podem trazer as crianças à creche e ao jardim de infância. Antes de os levar para casa, à tarde, podem dar apoio a inúmeras coisas como ajudar na biblioteca, no bar, na livraria.
• Na missão da catequese, ministério profético, os mais velhos podem colaborar nas muitas iniciativas que ajudam as crianças e os adultos a crescer na fé. A iniciação à vida cristã constitui um extraordinário desafio de acção pastoral.
• No âmbito da liturgia, conforme a Eucaristia a que se vem, podem prestar-se serviços de leitor, ministro extraordinário da comunhão e colaboração no Ofertório. Além disso, no apoio litúrgico pode ainda colaborar-se na preparação dos pais para o Baptismo dos filhos.
• Na acção sociocaritativa, as pessoas que têm tempo livre podem intervir directamente com actividades do maior interesse na relação com os mais pobres e que mais sofrem: ir levar a refeição/almoço aos doentes que já não podem sair de casa, dar algum tempo na área da Pastoral da Saúde para levar-lhes a Sagrada Comunhão; dispor-se a dar um passeio com pequenos grupos de idosos, proporcionar momentos de lazer com iniciativas inovadoras.
De facto, as pessoas mais velhas não são apenas beneficiárias de uma assistência integral, podem ser também agentes pastorais, apóstolos, utilizando a relação humana para dar testemunho de Cristo e O revelar ressuscitado, no meio do mundo.
4. Os mais velhos, na nossa Comunidade Paroquial do Campo Grande, tanto como os mais novos, têm sempre um lugar fundamental para o anúncio do Evangelho, no exercício da caridade.
Todos contamos com todos.
Pe. Vítor Feytor Pinto Prior - Prior