RESSUSCITOU, ESTÁ VIVO – 20 de Abril de 2014

1. O essencial da fé cristã está em acreditar que Jesus ressuscitou. Na 1ª Carta aos Coríntios, Paulo di-lo expressamente. Naquela comunidade havia quem não acreditasse na Ressurreição. Era a cultura helénica que o não admitia. Mas o Apóstolo escreve com toda a clareza: “Se não há ressurreição, Cristo não ressuscitou e, então, a vossa fé é vã, a nossa pregação não tem sentido e nós somos os mais infelizes de todos os homens” (1 Cor 15, 14-19). Acrescentou, porém, logo depois: “Mas Ele ressuscitou e, como Ele ressuscitou, todos vamos ressuscitar”. É um texto magnífico em que Paulo afirma a sua fé no Ressuscitado. Há três maneiras de confirmar a Ressurreição do Senhor Jesus.

• O sepulcro vazio. Foi Maria Madalena que encontrou o sepulcro vazio; foi dizê-lo a Pedro; Pedro e João correram ao sepulcro e não estava ali o corpo do Senhor. As ligaduras e o sudário estavam dobrados, com uma arrumação invulgar. Assim sendo, compreende-se que as teses do roubo, do tremor de terra ou do sono dos guardas, nada podem significar. O lugar do túmulo vazio é um espaço tranquilo, onde Jesus aparece a Maria, que O confunde com o jardineiro.

• As aparições do Ressuscitado. Por onze vezes Jesus apareceu aos seus discípulos. No Cenáculo, no Lago Tiberíades, no Monte da Ascensão e até a Paulo, no caminho de Damasco. Ao verem surgir Jesus, todos ficaram surpreendidos, porque não se recordavam do que Jesus dissera, que ao terceiro dia havia de ressuscitar. Eles são testemunhas muito concretas de que Jesus os surpreendeu com a Ressurreição. Afinal, Ele voltara à vida.

• O testemunho dos Apóstolos. Sobretudo Pedro e Paulo têm discursos extraordinários a proclamar a Ressurreição de Jesus. As narrativas são de extrema clareza, mas o mais importante é que eles dão o seu testemunho, até quando no Sinédrio os ameaçam com sentenças de morte. Pedro chega mesmo a dizer que nada e ninguém o pode fazer calar. Os Apóstolos darão a vida pelo Ressuscitado. Ele está vivo. O testemunho dos Apóstolos levará muitos à conversão. E porque Jesus ressuscitou, milhões e milhões de cristãos, ao longo dos séculos, irão afirmando a sua fé, oferecendo a sua vida por Cristo e identificando com Cristo Ressuscitado os seus projectos de renovação do mundo.

2. A Resssurreição de Cristo não é um acontecimento do passado. Poderá colocar-se a questão de como fazê-la presente no mundo de hoje. É fácil dizer que se tem fé em Cristo Ressuscitado. Mas como se manifesta, qual o testemunho dos cristãos, como revelar a Ressurreição aos não crentes? Muitas vezes os cristãos perdem-se em palavras, para dizer que acreditam em Cristo Ressuscitado, mas tal é insuficiente. No princípio do séc. XIX, na Sorbonne, em Paris, havia um grupo de cristãos que discutiam os problemas da fé na grande cidade, então coração da Europa. Um dia, um colega muito crítico para com os grupos de católicos, pergunta a Frederico de Ozanam o que é que os católicos faziam, eles que tanto falavam? Interpelado, assim, Ozanam entendeu que só a acção social revelava a força do Evangelho. Criou então as Conferências de Caridade, hoje chamadas Conferências de S. Vicente de Paulo. A grande questão, para revelar o Ressuscitado, é precisamente esta: “o que temos de fazer?”

• Vencer a solidão de quantos ficaram sozinhos na vida: pessoas de idade, homens e mulheres que enviuvaram, doentes que se perdem nos corredores das urgências, os sem-abrigo que não têm mesmo ninguém.

• Acompanhar muitos que estão altamente dependentes: crianças que perderam os pais ou foram abandonadas, jovens que se deixaram apanhar pela droga ou pelo álcool, doentes em fase terminal.

Repartir o pão ou outros bens com os mais pobres: algum vizinho em dificuldade, uma família em que o pai e a mãe caíram no desemprego, muitos que não conseguem sequer pagar as despesas da casa.

• Dar algum tempo a muitos que estão em ansiedade e angústia: colegas de trabalho, amigos que sofrem algum problema ou, até simplesmente, os pais, os avós, os filhos ou os netos.

• Exercer o voluntariado no Centro Social ou noutra organização de apoio a casos concretos, bem estruturados.

• Dedicar um tempo razoável à oração, à leitura do Evangelho, à visita ao Santíssimo Sacramento, à reza do rosário, sempre pensando nos outros e nas suas grandes ou pequenas preocupações.

• Privilegiar o silêncio e a contemplação do Senhor Ressuscitado, procurando reler páginas que contam a aparição de Jesus, nas mais diversas situações da vida. Ele hoje continua a aparecer-nos, a revelar-se, a dar-se a conhecer. Encontrá-l’O e conversar com Ele é exercício espiritual de grande intimidade.

A Ressurreição do Senhor não é um acontecimento de há 2.000 anos. A Ressurreição continua, nos inúmeros gestos que, por Cristo, vamos repetindo. Não é apenas uma nova Encarnação, é uma nova Ressurreição.

3. O Tempo Pascal deve ser também, na Comunidade Paroquial do Campo Grande, um tempo de alegria, de criatividade e de compromisso.

• A alegria está no coração de cada um, porque Jesus ressuscitou. Ele venceu a morte e quer que todos sejam capazes de vencer as inúmeras mortes que marcam a vida quotidiana de muita gente.

• A criatividade é elemento indispensável à acção pastoral da comunidade. Não basta repetir o que sempre se fez, é preciso descobrir os novos métodos e as novas expressões de evangelização. Com um sentido de descoberta é essencial encontrar os caminhos novos que levam, mesmo aos não crentes, a força de Jesus Ressuscitado.

• O compromisso é o sinal de responsabilidade de quantos querem fazer, da sua vida toda, processo eficaz de evangelização, de anúncio do Ressuscitado. Há inúmeras pessoas à espera do Senhor. Cada um tem de saber revelá-l’O.

Não basta dizer “Boas Festas” lembrando a Páscoa de Jesus. É preciso fazer a Páscoa, a passagem de um tempo de dificuldade em tempo de esperança.

4. A todos os membros da Comunidade Paroquial do Campo Grande, desejamos as melhores alegrias pascais. Que Jesus Ressuscitado entre no coração de cada um. Tudo será novo.

Pe. Vítor Feytor Pinto
 Prior

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