1.A caminho de Roma, para participar na canonização dos Papas João XXIII e João Paulo II, paro dois dias em Assis, o Santuário de Francisco e de Clara. Aqui, Francisco foi chamado por Deus a deixar tudo para se dedicar exclusivamente aos mais pobres. A cidade medieval está fundada num monte de onde se vê toda a planície da Umbria. O escuro dos monumentos contrastam com o azul do céu. A cidade velha aparece no meio da floresta verde espalhada pelas montanhas que rodeiam Assis. Aqui respira-se a presença de Deus. Com os 52 membros da nossa comunidade paroquial que se associaram a esta peregrinação, fomos sentir os inúmeros apelos da história.
• A catedral de S. Rufino onde celebramos a Eucaristia foi o lugar onde Francisco se libertou de todas as roupas para dizer ao Pai e ao Bispo que queria ser pobre, para servir os pobres.
• Na primeira Basílica, rezamos junto ao túmulo de Francisco, maravilhando-nos com as pedras agrestes, calcinadas pelo tempo.
• Na terceira Basílica admiramos Giotto e todos os outros pintores do renascimento. Ali, a espiritualidade é sublinhada pela arte, também ela reveladora das maravilhas de Deus.
• Na segunda Basílica vivemos as celebrações da comunidade local que neste templo vive os grandes momentos de oração e de compromisso na caridade.
• O convento das Clarissas fica no outro lado da cidade. Repousam ali os restos mortais de Clara, a fundadora das damas da pobreza. O ambiente é de silêncio orante, na simplicidade daquela mulher que se casou com a pobreza. • Descemos depois a S. Damião, a igrejinha que Francisco reconstruiu para acolher as clarissas. Espreitamos pela janela de onde Clara expulsou os sarracenos com a custódia que tinha a hóstia consagrada.
• Vemos, à distância, os “Carceri”, o lugar de retiro sagrado onde se refugiava Francisco para a adoração e contemplação.
• Não podíamos deixar de rezar na Porciúncula, a igrejinha que Francisco queria restaurar, sem saber que era a Igreja que precisava de renovação. Foi aqui, na Porciúncula que Francisco adormeceu na paz do Senhor.
Assis tem a magia do encontro de Deus com os homens, a beleza das montanhas casadas com a planície e, sobretudo, a certeza de que humanidade e santidade se completam na vida de quem se entrega a Jesus crucificado e ressuscitado.
2. Vamos em peregrinação a Roma, para participar na canonização dos dois Papas extraordinários.
• João XXIII foi o Papa que convocou o Concílio Vaticano II. Chamavam-lhe papa de transição. Suceder a Pio XII era muito difícil. Então, o Bom Papa João quis acordar a Igreja para a realidade do mundo em transformação. Convocou o Concílio e, a partir desse momento, tudo foi posto em reflexão, para a renovação que era urgente. Foi incompreendido, por muitos, mas a sua canonização revela que, nas suas decisões, era conduzido pelo Espírito Santo.
• João Paulo II é o Papa da nossa vida. Durante 26 anos orientou a vida da Igreja. Correu o mundo a anunciar Jesus Cristo. As suas 196 viagens pastorais revelam um Papa apostado na Nova Evangelização, com novos métodos e novas expressões. Visitou Portugal por 3 vezes e tinha por Fátima uma especial predilecção.
• Acompanhei o Papa João Paulo II na sua primeira visita a Portugal, em 1982. Estive 4 dias, entre 12 e 15 de Maio, sempre ao lado do Papa. Pode imaginar-se a emoção que sinto, ao recordar que vivi vários dias ao lado de um santo. É uma graça que não posso esquecer. É também uma responsabilidade para a minha acção pastoral.
Pela canonização, a Igreja proclama a santidade de uma pessoa que consagrou toda a sua vida ao serviço de Cristo e da Igreja. Estes Papas Santos passam a ser uma referência na nossa fé. Viver a fé como eles a viveram, consagrar-se ao serviço do evangelho na caridade, integrar-se apaixonadamente na vida da Igreja, sacramento universal de salvação, são um legado que todos recebemos de João XXIII e João Paulo II. Conseguir ser fiel à riqueza recebida na Igreja por estes dois Papas é para nós cristãos um desafio permanente.
3. A nossa vida de peregrinos, nestes dias, leva-nos, depois de Assis até à Cidade Eterna. Não sei se conseguiremos entrar na Praça de S. Pedro, uma vez que são pelo menos cinco milhões de pessoas que estarão em Roma para esta consagração. É claro que no lugar que nos for destinado viveremos a canonização na santidade destes queridos Papas. Depois faremos o habitual roteiro dos peregrinos.
• Rezar junto ao túmulo dos Papas agora consagrados. Os seus corpos estão em altares laterais na Basílica de S. Pedro.
• Visitaremos todas as Basílicas Romanas: S. Pedro, S. João de Latrão, Santa Maria Maior e S. Paulo Extramuros. Todas têm um significado especial.
• Iremos também à Scala Santa ao lado do monumento a S. Francisco, subiremos a Campidoglio, aos Fóruns Imperiais, ao Coliseu e ao Circo Máximo. Roma fala-nos da Igreja do século IV e continua a falar-nos da Igreja de sempre.
Como viemos em peregrinação certamente não conseguiremos tempo para as grandes “tentações” de Roma: a moda e a culinária. A Beleza de Roma basta.
4. Tenho a certeza de que este grupo de peregrinos vai representar bem a Paróquia do Campo Grande nas canonizações destes grandes Papas. Queremos deixar-nos envolver na simplicidade e alegria de João XXIII, o Bom Papa João. Queremos também recordar imensas coisas que vivemos com João Paulo II, sobretudo, a alegria da comunhão na fé e na vida da Igreja. Queremos, também, pedir aos novos santos que junto de Deus intercedam por nós, para a nossa fidelidade ao Evangelho e a nossa sempre maior alegria de viver.
Até Lisboa, na tarde de 29 de Abril. Muito unidos no Senhor Ressuscitado.
Pe. Vítor Feytor Pinto - Prior