1. Na tradição da Igreja, o mês de Maio é o mês de Maria, mês dedicado a Nossa Senhora. As comunidades cristãs reúnem-se ao fim da tarde para rezar a Nossa Senhora, sobretudo através do Terço do Rosário. De manhã, ao meio dia e à noite, nos campanários das igrejas, ouvem-se os toques das Trindades. Em casa, nas famílias cristãs, os pais e as crianças juntam-se para rezar as três Avé-Marias pedindo a protecção da Mãe de Jesus que é também a nossa mãe. Estas devoções, tão belas no seu intimismo, não podem significar apenas uma piedade popular. É que Maria não é só a Mãe de Jesus e a nossa mãe, Maria é a Mãe da Igreja.
No Livro do Apocalipse, há um capítulo que faz a exaltação da mulher: “Uma Mulher vestida de Sol, com a Lua debaixo dos pés e com uma coroa de doze estrelas na cabeça. Estava grávida e gritava com as dores de parto e o tormento de dar à luz.” (Apoc 12, 1-2). Este texto faz referência a quatro figuras que fazem a história da Redenção: a Mulher, o Filho da Mulher, o Dragão e Miguel, que vem para proteger a Mulher e o seu Filho.
• A Mulher do Apocalipse significa Maria, que está perto de dar à luz o seu filho varão, mas pode significar a Igreja, mãe de todos os outros filhos da mulher.
• O Filho da Mulher é o Redentor dado a toda a humanidade, como Filho de Deus e Filho do Homem, para garantir a todos a salvação. Aqui se dá conta de que a Igreja é sacramento universal de salvação.
• O Dragão representa as forças do mal. Ele quer devorar o Filho da Mulher, mas fica parado nas areias do mar à espera dos outros filhos da mulher. Este ser estranho, com dez chifres, persegue todos os outros filhos da Mulher, que é a Igreja.
• Miguel vai lutar contra o Dragão até o vencer. O Arcanjo Miguel virá com todos os seus anjos defender a mãe Igreja para que não seja vencida pelas forças do mal.
Esta página do Apocalipse é revisitada muitas vezes pelos cristãos que vêem na Mulher, não apenas a Mãe de Jesus, mas sobretudo a Mãe Igreja. Maria é, então, a referência da Igreja, a Mãe da Igreja.
2. A Virgem Santa Maria, nos grandes momentos da sua vida, torna-se modelo para a Igreja. Percorrendo os caminhos de Maria, é fácil encontrar cinco momentos fundamentais: imaculada na sua Conceição, chamada a ser Mãe do Salvador, continuando de pé junto à cruz, presente junto dos Apóstolos no dia de Pentecostes e assumida ao céu de corpo e alma. Estas são as grandes referências para a Igreja.
• A Imaculada Conceição convida a Igreja a uma purificação constante, para, embora pecadora, nada a manchar. A Igreja tem de ser transparente, reconhecida por todos como chamada à purificação e à santidade.
• A Anunciação em Nazaré pede à Igreja que diga sempre “sim” ao plano de Deus. Presente no mundo, a Igreja diz sim ao projecto de Deus e ilumina o mundo todo com os valores que vêm do Evangelho. Com o sim da Igreja, podem no mundo fazer-se novas todas as coisas (cf Apoc 21, 5).
• Estar de pé, no Calvário, significa para a Igreja a serenidade máxima no difícil tempo da perseguição. Desde os primeiros séculos que a Igreja é perseguida. Multiplicaram-se os mártires, mas o seu sangue tornou-se semente de novos cristãos. A crucifixão continua através dos séculos, mas a Igreja permanece sempre de pé, a anunciar a vitória do Crucificado.
• O silêncio, na expectativa do Pentecostes, revela a profunda espiritualidade da Igreja. A acção da Igreja não se faz no ruído, exige a intimidade que a contemplação proporciona. O Pentecostes dá-nos uma Igreja centrada na oração, com pontos de partida para toda a missão a realizar. Após dias de oração no Cenáculo, o Espírito Santo veio para pedir aos Apóstolos que partissem por todo o mundo a anunciar o Evangelho.
• A Assunção ao Céu traz a garantia de que a vida não acaba, apenas se transforma. Desfeita a tenda do exílio terrestre, está preparada para todos, uma morada eterna. É por isso que os cristãos não ficam tristes, nem perante a morte. A alegria da Ressurreição, em todas as situações, dá a certeza da mais profunda paz no coração dos crentes.
A história maravilhosa de Maria, mãe de Jesus é um modelo permanente para a Igreja, mãe universal de todos os cristãos e também, mãe de coração acolhedor para todos os homens.
3. Constitui um desafio pastoral, repensar a devoção a Maria. Para além das grandes festas celebradas anualmente nas comunidades cristãs, a relação espiritual com Nossa Senhora revela-se muito na piedade popular e na devoção pessoal. Na piedade popular, multiplicam-se romarias a inúmeros santuários perdidos nos montes, onde se reúnem pessoas vindas de muitos lugares. Não há aldeia que não tenha Maria como padroeira, e sob as mais diversas invocações. Também na intimidade das famílias há uma grande devoção a Nossa Senhora, Mãe de Jesus. Ela aparece como a referência mais forte, na oração da maioria dos cristãos. É tempo de descobrir que Maria, Mãe de Jesus, é, de maneira muito expressiva, a Mãe da Igreja.
• Maria Mãe da Igreja no primeiro século do cristianismo, uma vez que ela acompanhou os Apóstolos, desde o Pentecostes até ao momento da sua morte. Encontramo-la em Jerusalém e cruzamos com ela, depois, em Éfeso com João, com Paulo e com Lucas.
• Maria Mãe da Igreja depois de o culto cristão ser reconhecido desde Roma até aos confins da terra. Multiplicaram-se, então, nos concílios ecuménicos as afirmações teológicas que viriam a criar a espiritualidade mariana vivida em todos os santuários.
• Maria Mãe da Igreja na palavra dos Papas que terminam todas as encíclicas e exortações pastorais com uma invocação a Maria. Na sua maternidade universal, Maria é o sustentáculo de toda a acção pastoral que se realiza nas comunidades cristãs.
• Maria Mãe da Igreja no lugar de todas as aparições em que se revelou próxima dos homens. A sua proposta de conversão, de oração e de esperança tem também a afirmação clara de comunhão plena com a Igreja, presente no mundo para o salvar.
Quem ama Maria e a invoca tem o dever de estar sempre em Igreja a celebrar a unidade, a afirmar o serviço e a assegurar uma vida cristã vivida no máximo da fidelidade.
4. Que Maria, Mãe da Igreja, santifique a nossa Comunidade Paroquial do Campo Grande e nos faça sempre mais fiéis.
Pe. Vitor Feytor Pinto
Prior