CONFIRMAR-SE NA FÉ – 8 de Junho de 2014

1. Quem lê o Evangelho de Lucas com atenção, dá-se conta de que Jesus, sobretudo ao aproximar-se o fim da sua vida, alerta os discípulos para as dificuldades que vão sentir. Diz-lhes mesmo claramente que “só pela vossa constância é que sereis salvos” (Lc 21, 19). Continuando depois Jesus a falar da sua morte em Jerusalém, acaba por dizer aos seus que também o irão abandonar. Pedro reage, mas Jesus responde-lhe: “Simão, Simão, olha que Satanás pediu para vos joeirar como trigo. Mas eu pedi por ti, para que a tua fé não desfaleça. E tu, uma vez convertido, confirma os teus irmãos” (Lc 22, 31-32). Pedro foi confirmado na fé pela oração de Jesus, mas logo depois lhe é dada uma missão, a de confirmar os irmãos. Pedro, porém, pergunta-se se os discípulos serão capazes de continuar firmes na fé, quando surgirem a provação, as incompreensões e a perseguição. Jesus tem consciência disso e então, promete dar-lhes o Espírito Consolador, o Paráclito (o que está sempre ao lado), Aquele que lhes ensinará toda a verdade. Jesus promete o Espírito, dá-lhes o Espírito e, do Pai, envia-lhes em plenitude o Espírito Santo.

• A Promessa: é na intimidade da Última Ceia que Jesus diz aos discípulos que vai enviar-lhes o Espírito da Verdade que lhes ensinará toda a verdade. O Espírito recordar-lhes-á tudo o que possam ter esquecido e dir-lhes-á tudo quanto Jesus não teve tempo de ensinar-lhes.

• A Entrega: na tarde do dia da Ressurreição, Jesus entrou no Cenáculo onde estavam reunidos os onze. Depois de os saudar com palavras de paz, soprou sobre eles e disse: recebei o Espírito Santo, aqueles a quem perdoardes os pecados, ser-lhes-ão perdoados” (Jo 20, 23). A partir daí, o Espírito Santo com a sua força libertaria do pecado todos os que os Apóstolos confirmassem na fé.

• A Manifestação: quarenta dias depois da Páscoa, o Espírito Santo desceu sobre os Apóstolos, com vento impetuoso e línguas de fogo. A cidade de Jerusalém sobressaltou-se, e Pedro, sem medo, proclamou a Ressurreição de Jesus. Houve 3.000 homens, vindos de muitos lugares que, aceitando o Espírito, puderam perguntar “o que temos de fazer?” (Act 2).

A partir de então é o Espírito Santo que ilumina a vida da Igreja, conduz os cristãos para a verdade que é Jesus e orienta a acção evangelizadora realizada por todos os que se deixaram “apanhar” pelo Espírito. Aliás, como diz Paulo aos Romanos “só aqueles que se deixam conduzir pelo Espírito são de verdade filhos de Deus” (Rm 8, 14).

2. O Espírito Santo actua pelos seus dons. Foi já Isaías na sua profecia que, ao descrever a missão do Messias, referia expressamente ser Ele revestido do Espírito. A missão era difícil: “Dar a Boa Nova aos pobres, dar a libertação aos oprimidos, a liberdade aos cativos, a vista aos cegos, a alegria aos que sofrem” (cf Is 61, 1). Para esta missão era fundamental a força do Espírito, com todos os seus dons, a fim de iluminar a inteligência para compreender o que o Senhor pede; fortalecer a vontade para responder aos apelos de Deus, e enriquecer o coração para se saber amar a Deus e aos irmãos. São sete os dons do Espírito: a sabedoria, o entendimento, a ciência, a fortaleza, o conselho, a piedade e o temor de Deus. Será que os cristãos sabem o que é cada um destes dons?

• A Sabedoria é essencial para que uma inteligência humana seja capaz de conhecer e compreender o mistério de Deus. Deus é um só em três pessoas, o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Só com a luz do Espírito se compreenderá a realidade de Deus Amor.

• O Entendimento permite acolher toda a verdade que de Deus nos vem. Sem este Dom do Espírito, a inteligência humana nunca compreenderá as maravilhas de Deus, sobretudo a criação, a redenção e a santidade prometida. Jesus disse “sede perfeitos como o Pai é perfeito” (Mt 5, 48). Mas como será isso possível sem a força do Espírito?

• A Ciência convida a ver tudo com os olhos de Deus. É a mundividência cristã. De facto, Deus permite ao ser humano ver toda a realidade com olhos diferentes, como reflexo da bondade de Deus. Com o dom da ciência será possível discernir o positivo e o negativo de todas as coisas, para usar cada uma delas com vantagem para felicidade da pessoa humana. É neste sentido que Paulo diz que tudo o que é bom, o que é justo, o que é verdadeiro, tudo é revelador da presença de Deus (cf Fl 4, 8).

• O Conselho é o dom do Espírito que permite fazer opções de uma forma consciente, livre, responsável e no quadro dos valores cristãos. Em tudo se exige critérios nas escolhas a fazer. O dom do Conselho vai permitir o discernimento indispensável nessas escolhas.

• A Fortaleza oferece ao ser humano a coragem indispensável para as atitudes difíceis. Perante as inúmeras situações em que a pessoa humana se vê envolvida, é essencial saber dizer como o poeta “só sei que não vou por aí” (Cântico Negro – José Régio). Esta atitude exige coragem e determinação que só com a força do Espírito Santo se consegue.

• A Piedade é um hino ao amor que Deus em si mesmo revela. “Deus é amor” (1 Jo 4, 16). E é este Deus que o ser humano quer amar. Mas aquele sente-se sempre indigno, pelo que pede ao Espírito Santo a graça de poder amar a Deus sem condições.

• O Temor não quer dizer medo. Significa, ao contrário, um amor purificado, liberto de todo o interesse, voltado definitivamente para Deus que é o princípio e o fim de toda a relação que se vai construindo ao longo da vida. Pelo temor, tem-se receio de não amar quanto Deus tem direito de ser amado.

Com estes sete dons, o cristão, iluminado pelo Espírito Santo, cresce sempre mais na sua intimidade com o Senhor que o faz chegar à santidade verdadeira.

3. Numa das suas cartas, o Apóstolo Paulo considera que o essencial no ser cristão está na liberdade. Distingue, porém, a liberdade dos instintos da liberdade do Espírito. Ao falar dos instintos refere que eles conduzem “às rixas, às brigas, às discórdias, às contendas, aos ciúmes”. A liberdade do Espírito, essa multiplica-se em frutos maravilhosos: a alegria, o amor, a paz, a liberdade, a misericórdia, o domínio de si próprio, o dom de si mesmo aos outros (cf Gl 5, 13-24). É com estes frutos que, comprometidos na fé, os cristãos querem viver.

4. A 10 de Junho, a Comunidade Paroquial do Campo Grande vai ser confirmada na fé. São 92 cristãos que receberão o sacramento da Confirmação, dado pelo nosso Patriarca D. Manuel Clemente. Estes cristãos foram-se preparando ao longo do ano. Agora vão receber o Espírito Santo para darem testemunho de Cristo em toda a parte. Orientados pelos dons do Espírito Santo:

• Irão viver a sua vida de cristãos, comprometendo-se a orientar o seu dia-a-dia pelos grandes valores que de Jesus nos vêm.

• Darão testemunho de Cristo em toda a parte, na vida de família, no trabalho, na intervenção social e económica, até na vida da cidade.

• Procurarão inserir-se na comunidade cristã, exercendo tarefas na profecia, na liturgia e na caridade, sendo catequistas ou desenvolvendo actividades de carácter social.

Pela força do Espírito Santo, nestes dias de Pentecostes, a Comunidade Paroquial do Campo Grande conseguirá ser confirmada na fé. Não são só 92 cristãos que recebem o Crisma, é toda a comunidade que será confirmada pelo nosso Bispo Manuel.

Pe. Vitor Feytor Pinto
 Prior

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