1. Na história da Igreja, houve sempre muitos cristãos que foram reconhecidos como pessoas extraordinárias na maneira como seguiram Jesus Cristo e configuraram as suas vidas com os valores do Evangelho. É a estes que se chamam santos. Pela canonização, a Igreja tornou-os referência para quantos quiserem seguir o mesmo caminho da fidelidade ao Evangelho. Ao ler-se os Actos dos Apóstolos, encontra-se uma atitude de grande significado. No dia do Pentecostes, os judeus reunidos para ouvir Pedro, e perante a certeza da Ressurreição de Jesus, perguntaram o que era preciso fazer. E Pedro, entre outras coisas, disse-lhes ser necessário, para tornar-se cristão, reconhecer o testemunho de quantos nos precedem na fé (Act.2-32). Ao longo dos séculos, há muitos que nos precederam na fé. É por isso que os lembramos e aceitamos imitar as suas virtudes. São os santos.
. Os santos onomásticos são os que têm o nosso nome e, conhecendo-os, nos propõem valores que é possível enquadrar na nossa vida. Todos gostamos de saber quem é o santo do nosso nome e o que significa a sua vida de compromisso cristão.
. Os santos padroeiros são os protectores das cidades, das nações, dos continentes: a Rainha Santa Isabel padroeira de Coimbra; Santo António padroeiro de Lisboa; São Bento padroeiro da Europa.
. Os santos patronos das profissões apoiam os homens nas suas actividades: São José dos carpinteiros, Santa Apolónia dos dentistas, Santa Zita das empregadas domésticas, São João de Deus de professores de saúde, São Cristóvão dos automobilistas.
. Os santos das causas mais difíceis estão sempre presentes nos tempos de crise: Santa Bárbara protectora nas trovoadas, São Judas Tadeu nas crises económicas, Santa Rita de Cássia nas causas perdidas, São Tomás de Vilanova para recuperar coisas deixadas deixadas em qualquer lugar.
. Os santos de grande devoção a quem se associa a vida: São Francisco de Assis, Santa Clara, Santa Teresinha do Menino Jesus, o Santo Cura d’Ars, Santo Padre Pio e, agora, São João XXIII e São João Paulo II.
Todos estes santos constituem uma referência, pelo testemunho da fé e da caridade que nos deixaram através da sua vida. Por isso, consagra-se às vezes todo um povo a um santo que marcou a vida dessa comunidade. Em Portugal, temos o caso de Nossa Senhora da Conceição, que foi coroada Rainha de Portugal por D. João IV. Desde essa consagração em 1646, nunca mais os reis de Portugal usaram a coroa. A Rainha passou a ser Nossa Senhora da Conceição, com o trono em Vila Viçosa.
2. Em Portugal, vulgarizaram-se também as festas dos Santos Populares. Foi a festa de Santo António, em Lisboa, a festa de São João (Baptista) no Porto e em Braga e as festas de São Pedro em várias outras cidades. Perguntar-se-á como nasceram estas festas, agora marcadas por muitas feiras e arraiais, não faltando até as marchas populares que dão enorme colorido às cidades. As festas joaninas ou festas dos Santos Populares são celebrações católicas que acontecem em muitos países da Europa. Estão historicamente relacionadas com a festa pagã do solstício de Verão (no hemisfério norte) e do Inverno (no hemisfério sul), que é celebrada em 24 de Junho segundo o calendário Juliano (pré-Gregoriano). Tal festa tem origem na Idade Média e foi chamada (joanina) por coincidir com o dia de São João Baptista. Celebram-se, na tradição portuguesa, dois outros santos, Santo António a 13 de Junho e São Pedro a 29 de Junho. Em Portugal são as festas dos Santos Populares que dão início às festas de Verão, que se celebram por todo o País. É de notar que, na tradição dos povos, havia nações vizinhas. Com umas havia tensões violentas e até se entrava em guerra. Com outras havia amizade e, por isso, celebravam-se casamentos e organizavam-se feiras e romarias. Em Portugal, havia tensão com os reinos de Espanha e amizade com os territórios do norte e do sul do País. Os Santos Populares foram um pretexto para criar relações de amizade entre as populações. A festa dos santos passou a não ser apenas religiosa e multiplicaram-se as romarias, as feiras e as marchas populares. Mas quem são estes santos?
. São João Baptista foi o precursor de Jesus Cristo e, com ele, vêm boas notícias para os povos. Anuncia Jesus que tira os pecados do mundo, que traz a Boa Nova aos pobres, que liberta os oprimidos e conforta os que sofrem.
. Santo António foi um jovem muito conhecido nos bairros de Lisboa e que decidiu entrar para o Mosteiro de São Vicente de Fora, diz-se, para fugir à “perseguição” das raparigas. Dedicou-se exclusivamente a anunciar Jesus. Tornou-se um santo casamenteiro, na tradição lisboeta.
. São Pedro representa a afirmação do amor à Igreja, da qual, na Idade Média, tudo dependia. É um sinal de fidelidade à Santa Igreja.
À primeira vista, parece que se vem perdendo a dimensão espiritual dos Santos Populares, mas não é bem assim. Recorde-se “o pão de Santo António” que, na Igreja de Santo António, em Lisboa, tem uma extraordinária dimensão de solidariedade. Repare-se também nos casamentos de Santo António, em que tantos casais de poucos recursos têm oportunidade de celebrar com alegria o sacramento do matrimónio na Sé de Lisboa. Os pequenos arraiais são precedidos quase sempre de grandes celebrações eucarísticas, com procissões de rara beleza. Os Santos Populares são também símbolos da tradição religiosa do povo português.
3. Este ano, na Paróquia do Campo Grande, celebram-se estas festas com muita alegria. Não deixaremos, de fazer também, no Centro Social, uma sardinhada, com uma tarde bem passada no convívio com os mais velhos. Depois, a 21 de Junho, teremos o Arraial da Paróquia, oportunidade para todos nos conhecermos melhor e repartirmos pequenas coisas que serão convertidas em dádiva para os mais carenciados. O nosso Arraial tem três grandes objectivos:
. Sentirmos que somos uma família, não apenas na oração, na reflexão e nas liturgias, mas também no encontro fraterno, muito aberto e cheio de alegria.
. Aproximarmos as pessoas que desenvolvem activadade em sectores diferentes: as crianças, os jovens e os mais velhos; os que se dedicam às catequeses e os que trabalham no serviço social; os que apoiam os sacerdotes na acção litúrgica e os que assistem as pessoas isoladas e as que estão em maior sofrimento. É o desafio da comunhão.
. Cultivarmos a alegria na Comunidade Paroquial: é preciso dar a conhecer um coração em festa. É a alegria que melhor revela os dons de Deus. Que todos se sintam felizes como dizem as Bem-Aventuranças do Evangelho.
Este é o último acto comunitário que vamos realizar neste ano pastoral. A participação é imprescindível. Todos nos vamos sentir em festa, desejando uns aos outros boas férias. Bom arraial para todos.
Pe. Vitor Feytor Pinto Prior