SOLENIDADE DE S. PEDRO E S. PAULO, Apóstolos – 29 de Junho de 2014

NOTA HISTÓRICA (*)

Desde o século III que a Igreja une na mesma solenidade os Apóstolos S. Pedro e S. Paulo, as duas grandes colunas da Igreja. Pedro, pescador da Galileia, irmão de André, foi escolhido por Jesus Cristo como chefe dos Doze Apóstolos, constituído por Ele como pedra fundamental da Sua Igreja e Cabeça do Corpo Místico. Foi o primeiro representante de Jesus sobre a terra.
S. Paulo, nascido em Tarso, na Cilícia, duma família judaica, não pertenceu ao número daqueles que, desde o princípio, conviveram com Jesus. Perseguidor dos cristãos, converte-se, pelo ano 36, a caminho de Damasco, tornando-se, desde então, Apóstolo apaixonado de Cristo. Ao longo de 30 anos, anunciará o Senhor Jesus, fundando numerosas Igrejas e consolidando na fé, com as suas Cartas, as jovens cristandades. Foi o promotor da expansão missionária, abrindo a Igreja às dimensões do mundo.
Figuras muito diferentes pelo temperamento e pela cultura, viveram, contudo, sempre irmanados pela mesma fé e pelo mesmo amor a Cristo. S. Pedro, na sua maravilhosa profissão de fé, exclamava: «Tu és o Cristo, o Filho de Deus vivo». E, no seu amor pelo Mestre, dizia: «Senhor, Tu sabes que eu Te amo». S. Paulo, por seu lado, afirmava: «Eu sei em quem creio», ao mesmo tempo que exprimia assim o seu amor: «A minha vida é Cristo»!
Depois de ambos terem suportado toda a espécie de perseguições, foram martirizados em Roma, durante a perseguição de Nero.
* (in Agenda Liturgica do Secretariado Nacional da Liturgia)

I LEITURA – Actos 12, 1-11

«Agora sei realmente que o Senhor enviou o seu Anjo e me libertou das mãos de Herodes»

Leitura dos Actos dos Apóstolos
Naqueles dias,  o rei Herodes começou a perseguir alguns membros da Igreja. Mandou matar à espada Tiago, irmão de João, e, vendo que tal procedimento agradava aos judeus, mandou prender também Pedro. Era nos dias dos Ázimos. Mandou-o prender e meter na cadeia, entregando-o à guarda de quatro piquetes de quatro soldados cada um, com a intenção de o fazer comparecer perante o povo, depois das festas da Páscoa. Enquanto Pedro era guardado na prisão, a Igreja orava instantemente a Deus por ele. Na noite anterior ao dia em que Herodes pensava fazê-lo comparecer, Pedro dormia entre dois soldados, preso a duas correntes, enquanto as sentinelas, à porta, guardavam a prisão. De repente, apareceu o Anjo do Senhor e uma luz iluminou a cela da cadeia. O Anjo acordou Pedro, tocando-lhe no ombro, e disse-lhe: «Levanta-te depressa». E as correntes caíram-lhe das mãos. Então o Anjo disse-lhe: «Põe o cinto e calça as sandálias». Ele assim fez. Depois acrescentou: «Envolve-te no teu manto e segue-me». Pedro saiu e foi-o seguindo, sem perceber a realidade do que estava a acontecer por meio do Anjo; julgava que era uma visão. Depois de atravessarem o primeiro e o segundo posto da guarda, chegaram à porta de ferro, que dá para a cidade, e a porta abriu-se por si mesma diante deles. Saíram, avançando por uma rua, e subitamente o Anjo desapareceu. Então Pedro, voltando a si, exclamou: «Agora sei realmente que o Senhor enviou o seu Anjo e me libertou das mãos de Herodes e de toda a expectativa do povo judeu».
Palavra do Senhor.

SALMO RESPONSORIAL – Salmo 33 (34), 2-3.4-5.6-7.8-9 (R. 5b)

Refrão: O Senhor libertou-me de toda a ansiedade. Repete-se

A toda a hora bendirei o Senhor,
o seu louvor estará sempre na minha boca.
A minha alma gloria-se no Senhor:
escutem e alegrem-se os humildes. Refrão

Enaltecei comigo ao Senhor
e exaltemos juntos o seu nome.
Procurei o Senhor e Ele atendeu-me,
libertou-me de toda a ansiedade. Refrão

Voltai-vos para Ele e ficareis radiantes,
o vosso rosto não se cobrirá de vergonha.
Este pobre clamou e o Senhor o ouviu,
salvou-o de todas as angústias. Refrão

O Anjo do Senhor protege os que O temem
e defende-os dos perigos.
Saboreai e vede como o Senhor é bom:
feliz o homem que n’Ele se refugia. Refrão

II LEITURA – 2 Tim 4, 6-8.17-18

«O Senhor me livrará de todo o mal e me dará a salvação no seu reino celeste.»

Leitura da Segunda Epístola do apóstolo São Paulo a Timóteo
Caríssimo:
Eu já estou oferecido em libação e o tempo da minha partida está iminente. Combati o bom combate, terminei a minha carreira, guardei a fé. E agora já me está preparada a coroa da justiça, que o Senhor, justo juiz, me há-de dar naquele dia; e não só a mim, mas a todos aqueles que tiverem esperado com amor a sua vinda. O Senhor esteve a meu lado e deu-me força, para que, por meu intermédio, a mensagem do Evangelho fosse plenamente proclamada e todos os pagãos a ouvissem; e eu fui libertado da boca do leão. O Senhor me livrará de todo o mal e me dará a salvação no seu reino celeste. Glória a Ele pelos séculos dos séculos. Amen.
Palavra do Senhor.

ALELUIA – Mt 16, 18

Refrão: Aleluia. Repete-se

Tu és Pedro
e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja
e as portas do inferno não prevalecerão contra ela. Refrão.

EVANGELHO – Mt 16, 13-19

«Tu és Pedro; sobre esta pedra edificarei a minha Igreja e as portas do inferno não prevalecerão contra ela.»

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus
Naquele tempo, Jesus foi para os lados de Cesareia de Filipe e perguntou aos seus discípulos: «Quem dizem os homens que é o Filho do homem?». Eles responderam: «Uns dizem que é João Baptista, outros que é Elias, outros que é Jeremias ou algum dos profetas». Jesus perguntou: «E vós, quem dizeis que Eu sou?». Então, Simão Pedro tomou a palavra e disse: «Tu és o Messias, o Filho de Deus vivo». Jesus respondeu-lhe: «Feliz de ti, Simão, filho de Jonas, porque não foram a carne e o sangue que to revelaram, mas sim meu Pai que está nos Céus. Também Eu te digo: Tu és Pedro; sobre esta pedra edificarei a minha Igreja e as portas do inferno não prevalecerão contra ela. Dar-te-ei as chaves do reino dos Céus: tudo o que ligares na terra será ligado nos Céus, e tudo o que desligares na terra será desligado nos Céus».
Palavra da salvação.

PEDRO E PAULO, PEDRAS VIVAS DA IGREJA

Desde o Concílio Vaticano II que a Igreja celebra ao mesmo tempo S. Pedro e S. Paulo. Se Pedro foi o evangelizador dos judeus, Paulo levou o Evangelho aos gentios. Os dois são a referência fundamental para a Igreja de Cristo. Jesus chamou Pedro quando ele pescava no mar da Galileia. Pedir-lhe-ia para ser pescador de homens. Paulo foi surpreendido na estrada de Damasco e Jesus pede-lhe para dar testemunho d’Ele em todo o lugar. Viveram em profunda comunhão de fé e de caridade. É certo que nem sempre pensaram da mesma maneira, mas ajudados pela comunidade dos Apóstolos foram sempre capazes de ultrapassar as dificuldades e de ir depois até ao fim, na entrega da sua vida por Cristo.

A liturgia desta festa tem três lições maravilhosas, o desafio feito a Pedro para que, na liberdade, anuncie o Evangelho, o exemplo de Paulo que combateu o bom combate e afirmou a sua fé e, depois, a confissão de Pedro que o leva a receber de Jesus o poder das chaves e a tornar-se o alicerce da Igreja.

Pedro era um pescador de enorme simplicidade. Determinou-se a proclamar em toda a parte a Ressurreição de Jesus.  A sua pregação consistia apenas em dar testemunho de Cristo Ressuscitado e com isso movimentava milhares de pessoas em Jerusalém. Herodes ficou inquieto e mandou-o prender. Mas o Anjo do Senhor levou-o até à porta da prisão que se abriu permitindo continuar a anunciar a toda a gente Cristo Ressuscitado. Esta história aparentemente simples é reveladora de que para Deus não há impossíveis. O Evangelho tinha de ser anunciado em Jerusalém e nem a prepotência dos donos do mundo podia impedir a missão de Pedro.

O Evangelho tem uma das cenas mais bonitas na afirmação da fé compromisso. Se todos os discípulos haviam dito que o Povo falava de Jesus como se fosse apenas Elias, João Baptista ou outro profeta, Pedro, movido pelo Espírito, soube afirmar que Jesus era o Filho de Deus. A resposta de Jesus está caracterizada por três afirmações: não foi a tua inteligência, Pedro, que te disse ser eu o Filho de Deus, foi o Pai que to revelou; a partir de agora, Pedro, serás pedra sobre a qual vai ser edificada a Igreja; recebe as chaves do Reino, porque tudo o que tu, Pedro, ligares na terra será ligado no céu. A este texto chama-se a “confissão de Pedro”. É de perguntar se cada cristão também faz de Cristo confissão, aceitando-O incondicionalmente na sua vida, como o Filho de Deus.

Paulo andou por todos os caminhos do mundo. Em viagens sucessivas foi fundando comunidades cristãs, até chegar a Roma. Já prisioneiro e sentindo que está perto o seu fim, Paulo faz a sua confissão: “Combati o bom combate, terminei a minha carreira, guardei a fé. E agora já me está preparada a coroa da justiça, que o Senhor, justo juiz, me há-de dar naquele dia” (2 Tim 4, 8). A confissão de fé de Paulo tem a força de quem se prepara para dar a vida por Jesus Cristo. Como cidadão romano, não pôde ser crucificado, mas fiel até à morte, sofreu o martírio dando a vida por Cristo. Todos os Apóstolos difundiram a fé recebida de Jesus Ressuscitado. Pedro e Paulo, porém, foram a referência de uma Igreja que desde o princípio foi una, santa, católica e apostólica.

Monsenhor Vítor Feytor Pinto (in Revista LiturgiaDiária, ed. Paulus)

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