ASSUNÇÃO DA VIRGEM SANTA MARIA – 15 de Agosto de 2014

 

Assunção de Maria (1516/18) Ticiano

Assunção de Maria (1516/18) Ticiano

«O TODO PODEROSO FEZ EM MIM MARAVILHAS.

… E EXALTOU OS HUMILDES»

(Lc 1, 49,52)

 I LEITURA- Ap 11, 19a; 12, 1-6a.10ab

«Uma mulher revestida de sol e com a lua debaixo dos pés»

Leitura do Apocalipse de São João
O templo de Deus abriu-se no Céu e a arca da aliança foi vista no seu templo. Apareceu no Céu um sinal grandioso: uma mulher revestida de sol, com a lua debaixo dos pés e uma coroa de doze estrelas na cabeça. Estava para ser mãe e gritava com as dores e ânsias da maternidade. E apareceu no Céu outro sinal: um enorme dragão cor de fogo, com sete cabeças e dez chifres e nas cabeças sete diademas. A cauda arrastava um terço das estrelas do céu e lançou-as sobre a terra. O dragão colocou-se diante da mulher que estava para ser mãe, para lhe devorar o filho, logo que nascesse. Ela teve um filho varão, que há-de reger todas as nações com ceptro de ferro. O filho foi levado para junto de Deus e do seu trono e a mulher fugiu para o deserto, onde Deus lhe tinha preparado um lugar. E ouvi uma voz poderosa que clamava no Céu: «Agora chegou a salvação, o poder e a realeza do nosso Deus e o domínio do seu Ungido».
Palavra do Senhor.

SALMO – 44 (45), 10.11.12.16 (R. cf. 10b)

Refrão: À vossa direita, Senhor, a Rainha do Céu,
ornada do ouro mais fino. Repete-se

Ou: À vossa direita, Senhor, está a Rainha do Céu. Repete-se

Ao vosso encontro vêm filhas de reis,
à vossa direita está a rainha, ornada com ouro de Ofir.
Ouve, minha filha, vê e presta atenção,
esquece o teu povo e a casa de teu pai. Refrão

Da tua beleza se enamora o Rei;
Ele é o teu Senhor, presta-Lhe homenagem.
Cheias de entusiasmo e alegria,
entram no palácio do Rei. Refrão

II LEITURA – I Cor 15, 20-27

«Primeiro, Cristo, como primícias; depois os que pertencem a Cristo»

Leitura da Primeira Epístola do Apóstolo São Paulo aos Coríntios
Irmãos: Cristo ressuscitou dos mortos, como primícias dos que morreram. Uma vez que a morte veio por um homem, também por um homem veio a ressurreição dos mortos; porque, do mesmo modo que em Adão todos morreram, assim também em Cristo serão todos restituídos à vida. Cada qual, porém, na sua ordem: primeiro, Cristo, como primícias; a seguir, os que pertencem a Cristo, por ocasião da sua vinda. Depois será o fim, quando Cristo entregar o reino a Deus seu Pai depois de ter aniquilado toda a soberania, autoridade e poder. É necessário que Ele reine, até que tenha posto todos os inimigos debaixo dos seus pés. E o último inimigo a ser aniquilado é a morte, porque Deus tudo colocou debaixo dos seus pés. Mas quando se diz que tudo Lhe está submetido é claro que se exceptua Aquele que Lhe submeteu todas as coisas.
Palavra do Senhor.

ALELUIA

Refrão: Aleluia. Repete-se

Maria foi elevada ao Céu:
alegra-se a multidão dos Anjos. Refrão

EVANGELHO – Lc 1, 39-56

Maria sabe, que a glória de ser Mãe de Deus se deve apenas à escolha de Deus. Por isso, no seu hino de louvor exulta o poder de Deus.

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
Naqueles dias, Maria pôs-se a caminho e dirigiu-se apressadamente para a montanha, em direcção a uma cidade de Judá. Entrou em casa de Zacarias e saudou Isabel. Quando Isabel ouviu a saudação de Maria, o menino exultou-lhe no seio. Isabel ficou cheia do Espírito Santo e exclamou em alta voz: «Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre. Donde me é dado que venha ter comigo a Mãe do meu Senhor? Na verdade, logo que chegou aos meus ouvidos a voz da tua saudação, o menino exultou de alegria no meu seio. Bem-aventurada aquela que acreditou no cumprimento de tudo quanto lhe foi dito da parte do Senhor». Maria disse então: «A minha alma glorifica o Senhor e o meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador, porque pôs os olhos na humildade da sua serva: de hoje em diante me chamarão bem-aventurada todas as gerações. O Todo-Poderoso fez em mim maravilhas: Santo é o seu nome. A sua misericórdia se estende de geração em geração sobre aqueles que O temem. Manifestou o poder do seu braço e dispersou os soberbos. Derrubou os poderosos de seus tronos e exaltou os humildes. Aos famintos encheu de bens e aos ricos despediu de mãos vazias. Acolheu a Israel, seu servo, lembrado da sua misericórdia, como tinha prometido a nossos pais, a Abraão e à sua descendência para sempre». Maria ficou junto de Isabel cerca de três meses e depois regressou a sua casa.
Palavra da salvação.

ASSUNÇÃO DA VIRGEM SANTA MARIAComentários de Monsenhor Vítor Feytor Pinto*

UM HINO À VIDA

A sociedade actual está dominada pela cultura da morte. Quando alguma vida causa problemas difíceis de resolver, opta-se sistematicamente pela sua destruição.  Foi  por isso que se legalizou o aborto, em tantos países do mundo e se começa a falar da liberdade perante a possibilidade da eutanásia. Aquela criança era incómoda, não se deixa nascer; aquele idoso, ou aquele doente é já um peso para a família, deixa-se morrer. Por ocasião da Segunda Guerra Mundial ainda se foi mais longe com a eliminação dos mais débeis,  pela sua deficiência, ou até pela sua origem. O Holocausto é a expressão máxima da cultura da morte.

A Festa da Assunção de Nossa Senhora ao Céu tem a marca de um sinal contrário. É a mulher eterna do Apocalipse que espera um filho varão; é Maria de Nazaré que espera o seu filho Jesus; é Isabel de Ain-Karin que espera o seu menino, João. Cada uma destas mulheres tem uma missão, trazer à luz filhos dos quais dependerá a redenção da Humanidade. João será o percursor, Jesus vai ser o Redentor e o varão do Apocalipse é o sinal de que a salvação chegará a todos os humanos. O poder do dragão será sempre vencido, porque é preciso que “todos tenham vida e vida em abundância” (Jo 10, 10).

Mesmo quando a morte fere a humanidade há uma promessa de vida na ressurreição de Jesus Cristo. É S. Paulo que o diz na Carta aos Coríntios: como Cristo ressuscitou todos vamos ressuscitar. A ressurreição, porém, não está apenas na vitória definitiva sobre a morte temporal. O Magnificat, rezado por Maria na sua visita a Isabel, fala de vitórias sobre outras mortes. Vai acontecer serem destruídas a morte social, a morte económica, a morte cultural, a morte espiritual, na linha da fé, e tantas outras mortes que destroem a vida humana. A oração de Maria é indiscutivelmente um hino à vida.

Não foi por acaso que a proclamação do dogma da Assunção de Nossa Senhora teve lugar em 1950. Tinham-se vivido anos em que milhões de homens viram os seus corpos destroçados pela Guerra. Era necessário proclamar a dignidade do corpo, elemento humano indispensável para a realização da pessoa, a comunicação com os outros, a transmissão da vida, a alegria do ser, do estar e do viver. O dogma da Imaculadade Conceição consagrara a espiritualidade do ser humano. O dogma da Asunção de Nossa Senhora ao Céu veio consagrar a grandeza do corpo humano. É pela corporeidade que o ser humano se torna capaz de transmitir a vida, de criar relação e realizar em plenitude o projecto de Deus.

15 de Agosto de 2014
**********************

A VITÓRIA SOBRE TODO O MAL

O dogma da Assunção de Nossa Senhora aos céus em corpo e alma, traz à reflexão dos cristãos a importância da dignidade do corpo. Não é apenas através dos valores espirituais que o cristão caminha para a santidade verdadeira. O corpo é no ser humano o suporte do espírito. É através do corpo que se exprime de inúmeras maneiras a relação com Deus e com os outros. O corpo tem uma carga simbólica extraordinária. É através dele que se articulam as palavras, que se manifestam os gestos, que se revelam os sentimentos. Por isso mesmo a santificação não passa apenas pelo espírito, mas realiza-se plenamente também com as representações do corpo. Sendo Maria, mãe de Jesus, imaculada na sua conceição, foi através do seu corpo que trouxe Jesus à vida, foi pelo corpo que o acompanhou em Belém, no Egipto, em Nazaré e em Jerusalém, foi no sofrimento e na dor que esteve de pé junto à cruz. Assim sendo, consagrar a santidade de Maria exigia consagrar também o seu corpo. Foi por isso que foi privilegiada, na sua morte, com a assunção do corpo ao céu.

A liturgia do dia consagra três vitórias: a do Arcanjo Miguel contra o dragão, a da Ressurreição de Jesus sobre todas as mortes e a da fidelidade de Maria sobre todo o mal. No primeiro caso, o dragão espreitava o nascimento do filho da mulher para lho arrebatar. Porém, na luta travada entre Miguel e o dragão, Miguel saiu vitorioso e o filho da mulher operou a redenção, oferecida a todos os outros filhos da mulher. No segundo caso, a ressurreição de Cristo vai vencer o último dos inimigos que é a morte. É que em Cristo Ressuscitado tudo e todos ressuscitamos. Na visita de Maria à sua prima Isabel, o cântico do “Magnificat” propõe uma vitória radical sobre todo o mal: O Senhor “ dispersou os soberbos, apeou dos seus tronos os poderosos, aos ricos depediu de mãos vazias” (Lc 1, 52).

Nesta celebração da Assunção de Nossa Senhora ao céu, é cada cristão que tem o dever de vencer o mal dentro de si, de tal maneira que, pelo seu espírito e pelo seu corpo, percorra caminho de santidade.

15 de Agosto de 2013
**********************
*(in Revista LiturgiaDiária, com autorização da Paulus Editora)

Comments are closed.