CONFISSÃO DA FÉ E ACÇÃO SOCIAL – 28 de Setembro de 2014

1. A Evangelização, para além da proclamação de Jesus como Salvador e Redentor, supõe e exige o testemunho de fé dos cristãos. Se a fé consiste na adesão plena e perfeita à pessoa de Jesus Cristo, ela reclama um testemunho claro no meio do mundo. Foi assim que Paulo VI em 1975 publicou a Exortação Pastoral Evangelii Nuntiandi, na qual afirma que o testemunho cristão se realiza “no acolhimento e compreensão de todas as pessoas, na solidariedade sobretudo com os mais pobres e na comunhão de vida e de destino da comunidade de que se faz parte” (EN 21). É este o primeiro passo da evangelização e a melhor forma de confessar a fé. Em última análise, o testemunho da fé faz-se pela acção social, isto é, pelo cuidado a ter para com os outros. O Novo Testamento tem inúmeras páginas em que tudo isto é manifesto. Podem descrever-se muitas confissões de fé com repercussão na vida dos outros.

• A confissão de Pedro – quando Jesus pergunta, e quem dizem vocês que Eu sou, Pedro responde: Tu és o Cristo, Filho de Deus vivo. Jesus então dá-lhe o poder das chaves para abrir o Reino a todos (cf Mt 16, 19).

• A confissão dos Apóstolos – estes aceitaram Jesus de tal maneira que O proclamaram vivo diante do Sinédrio e de todos aqueles que os levaram ao martírio.

• A confissão daqueles que foram curados – perante Jesus ouviam apenas uma palavra “vai em paz que a tua fé te salvou” (Mc 5, 34; Lc 7, 50), expressão da acção salvadora que o Senhor realizava.

• A confissão dos mártires – quantos, desde o primeiro século até hoje, afirmaram a sua fé dando a vida. Mas, o sangue dos mártires é semente de novos cristãos. E a comunidade vai crescendo.

• A confissão dos Santos – aqueles que foram fiéis a Jesus sendo pela Igreja confirmados na santidade, todos realizaram acção social, expressão da sua fé.

As comunidades cristãs não têm outra forma de confessar a sua fé se não com acções de solidariedade, de cuidado para com os pobres, de acolhimento dos excluídos, de presença na solidão dos mais velhos, de acompanhamento a quantos sofrem. Tudo isto não é mais do que disse Tiago apóstolo “a fé sem obras é morta” (Tg 2, 17) ou então “mostra-me as tuas obras e eu reconhecerei a tua fé” (cf Tg 2, 18).

2. A fé e a caridade estão de mãos dadas na vida dos verdadeiros cristãos e entrelaçam-se em todos os programas das comunidades cristãs. Já Bento XVI pôde dizer na Carta Apostólica Porta da Fé que a fé sem caridade é espiritualismo desencarnado e a caridade sem fé é agitação que multiplica dúvidas (cf PF 14). É esta realidade, expressamente afirmada pelos Papas desde Leão XIII, que fundamenta a intervenção da Igreja na questão social. É certo que há pobres e ricos, empresários e trabalhadores, gestores e executantes (funcionários). Para a Igreja todos são iguais, todos são filhos de Deus a quem é preciso respeitar na dignidade e liberdade, promover na qualidade e no serviço e acompanhar com amor constante. A sociedade actual, porém, multiplicou os conflitos e a Igreja tem a missão de estabelecer pontes. No pensamento social da Igreja há valores a promover e qualquer cristão no seu meio tem que tornar-se construtor de um tempo novo em que as pessoas caminhem de mãos dadas para a felicidade de todos.

• Da Rerum Novarum (Leão XIII) até à Evangelii Gaudium (Papa Francisco) a Igreja defende sempre o respeito pela dignidade humana, a procura do bem comum, a subsidiariedade, e a solidariedade. Valores muitas vezes ausentes da sociedade.

• No Concílio Vaticano II a Igreja apontou caminhos para o desenvolvimento económico-social, afirmando a prioridade da pessoa em todas as situações, a importância das relações humanas na comunidade e a actividade humana geradora de progresso.

• O Concílio concretizou os campos onde é preciso actuar: na família, na economia, na cultura, na política e na promoção da paz. Afirmou mesmo que na vida económico-social “se deve respeitar e promover a dignidade e a vocação integral da pessoa e o bem de toda a sociedade” (GS).

• O mesmo Concílio definiu como coordenada a ter em conta na economia actual o desenvolvimento económico ao serviço da humanidade e o seu controle, não só pelos órgãos de poder mas também pelos cidadãos.

• Afirmaram-se, então, os grandes princípios: o trabalho e as suas condições; a participação na empresa e no conjunto da economia; a superação dos conflitos e a consciência do destino universal de todos os bens.

Estes são os grandes parâmetros da acção social da Igreja. A intervenção social é da responsabilidade dos leigos colocados nas mais diversas situações da sociedade. “A eles pertence tratar da ordem temporal e orientá-la segundo Deus para que progrida” (LG 31). Por isso a intervenção social da Igreja exprime a fé de muitos cristãos.

3. O Papa Francisco desperta os cristãos para uma actividade vigorosa a favor da justiça social na economia. Na Evangelii Gaudium pede expressamente que se saiba dizer não à economia de exclusão e de desigualdade social, porque esta economia mata. É preciso dizer não à nova idolatria do dinheiro, uma vez que esta nega expressamente a primazia do ser humano. É urgente dizer não a um dinheiro que governa em vez de servir. E, finalmente, também tem de dizer-se não à desigualdade social que gera violências. Aos cristãos, na gestão dos seus bens e na participação de uma intervenção social eficaz, pedem-se exigências muito concretas:

• O rigor suficiente que permita evitar todo o desperdício.

• A transparência para que nada esteja oculto na administração dos bens.

• A simplicidade e moderação evitando despesas inúteis que não têm sentido para um cristão.

• A prioridade na preocupação com os pobres tendo em conta a sua pobreza material, mas também a sua pobreza moral e espiritual.

• A partilha com comunidades mais carenciadas e que estão em risco de se perder.

• E, finalmente, a fidelidade ao sonho de lutar constantemente por uma sociedade mais justa e fraternal.

Na nossa comunidade cristã, ao longo deste Ano Pastoral, procurar-se-á viver com estes critérios, tanto no trabalho do Centro Social Paroquial, como nas respostas pontuais que a própria Paróquia vai dando.

4. Uma pequena oração: Senhor, dá-nos um coração de pobre para sabermos acolher os mais pobres, servindo-os, partilhando com eles, introduzindo-os com amor na nossa comunidade.

P. Vítor Feytor Pinto
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