ENVIADOS EM MISSÃO – 19 de Outubro de 2014

1. Foi a 14 de Abril de 1926 que Pio XI instituiu o Dia Mundial das Missões. Durante o Ano Santo de 1925, o Papa tinha ordenado uma centena de bispos das regiões da Ásia e da África encarregados de presidir às comunidades cristãs que ali estavam a nascer. Desenvolvia-se, então, uma expansão missionária de inegável valor. Era a missão “ad gentes”, que levaria o anúncio da pessoa de Jesus Cristo a todos os povos. Foi a partir daí que no penúltimo domingo de Outubro, em todas as comunidades cristãs, se celebra o Dia Mundial das Missões. Com a chegada de Francisco ao supremo pontificado, esta responsabilidade missionária de todos os cristãos é reafirmada com extraordinária clareza na Exortação Pastoral Evangelii Gaudium. O Papa fala mesmo da transformação missionária da Igreja que está “em saída” para ir ao encontro de todos. Por isso o grande slogan de 2014 é profundamente desafiante: “Missão, uma paixão por Jesus e por todos”. A responsabilidade missionária da Igreja e dos cristãos foi claramente afirmada no Evangelho.

• Jesus, no Monte da Ascensão, ao despedir-se dos discípulos convidou-os a partir dizendo-lhes: “Ide por todo o mundo, anunciai o Evangelho a toda a criatura, fazei discípulos em todas as nações, baptizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo” (Mt 28, 19). Foi o primeiro envio missionário.

• Aos 72 discípulos, Jesus definira claramente a missão. Iriam sem alforge nem bordão, apenas com uma túnica e umas sandálias, mas “em qualquer casa onde entrassem levariam a paz, curariam os doentes, e a todos libertariam do mal” (cf Lc 10, 5). Era a definição do objectivo do missionário. Longe de ficar-se pelas doutrinas, revelariam sinais claros de amor.

• Na Sinagoga de Nazaré, Jesus assumira a missão revelada por Isaías. A partir disso, todos os seus discípulos, possuídos pelo Espírito, “levariam a Boa nova aos pobres, a libertação aos oprimidos, a alegria a quantos estivessem em sofrimento” (cf Lc 4, 18). Ficava definida a prioridade na missão, os pobres e os excluídos.

• O sinal de que Jesus era o Filho de Deus foi sempre a cura de quantos a Ele recorriam para ser salvos. Aos discípulos de João, para revelar que era Ele o Messias, o Filho de Deus, não deu outros sinais senão estes “os coxos andam, os cegos vêem, os leprosos são curados, os mortos ressuscitam” (cf. Lc 7). Desde a primeira hora evangelizar foi intervir com gestos sociais de libertação e de paz.

Com razão o Papa Francisco faz apelo a que todos os cristãos sejam missionários, se assumam enviados a levar a Boa Nova de Jesus a toda a gente. A missão constitui o continuar da acção de Jesus no meio do mundo. Mais do que grandes teorias doutrinais, para além de numerosas regras de conduta, Jesus teve gestos de amor para todos, quem quer que fosse que o procurasse para ser salvo. Jesus oferecia sempre a salvação integral, libertava os corpos do sofrimento e abria os corações à alegria da fé.

2. Este Dia Mundial das Missões “fala-nos da paixão por Jesus”. O slogan que é oferecido à Igreja pelo Papa Francisco tem características profundamente desafiantes: não basta amar Jesus: é preciso ter paixão por Ele, uma vez que só quem está apaixonado é que fala com convicção da pessoa a quem segue. Por outro lado é necessária também uma paixão pelos outros, sejam quem forem, uma vez que “Jesus foi enviado pelo Pai, não para condenar o mundo, mas para que todo o mundo seja salvo” (Jo. 3,17). E este todo o mundo, é mesmo toda a gente. Na perspectiva do Papa Francisco toda esta acção da Igreja e dos cristãos é fonte de uma alegria intensa. Aliás, quem está apaixonado está feliz. E, na missão, a relação com Jesus e o serviço aos irmãos, como forma de evangelização, são fonte de uma alegria pascal sem limites. Diz-nos o Evangelho que todos aqueles que passaram por Jesus e O escutaram, perderam todos os medos e ficaram cheios de alegria. Muitos até estavam distantes, mas porque Jesus se fez próximo, foram contagiados com a alegria que Ele transmitia. Foi assim com a samaritana, com Zaqueu, com o homem da piscina probática, com o cego de nascença, com o cego Bartimeu, com a mulher pecadora, com Marta e Maria, com Jairo e a viúva de Naim, com toda a gente nas mais diversas situações. O contacto com Jesus trazia sempre uma alegria ímpar. Quando hoje os cristãos anunciam a pessoa de Jesus, não pedem sacrifícios, não exigem rotinas, não propõem coisas complicadas, apenas anunciam Jesus Cristo crucificado que por amor ressuscitou dos mortos. A alegria é pascal. O apelo deste Dia Mundial das Missões pede a todos os cristãos 3 coisas:

• Que queiram estar em missão, isto é, aceitem ser enviados para anunciarem Jesus a todos os conhecidos e amigos, mas também aos menos conhecidos que por qualquer razão se cruzem com eles. Estar em missão é fazer-se próximo para anunciar Jesus.

• Que tenham uma paixão por Jesus, isto é, que coloquem Jesus em primeiro lugar. Mas Jesus não é simplesmente um amigo. Ele que por amor foi enviado pelo Pai ao mundo, decidiu por amor dar a vida por todos aqueles que O amam. Quem dá a vida merece receber de quem é salvo uma entrega total, uma verdadeira paixão. Só um apaixonado por Jesus pode tornar-se missionário, falará de Jesus com tal convicção que todos vão querer segui-l’O sem condições. A paixão por Jesus contagia os outros que a Jesus acabam por abrir também o coração.

• Que sintam um amor radical por todos, isto é, que não excluam ninguém no desejo de evangelizar. A missão pede aos cristãos que falem de Jesus a toda a gente, mas dêem especial atenção aos que estão mais carentes de bens materiais (os pobres), de inserção social (os excluídos), de condições de trabalho (os desempregados), de serenidade espiritual (os que têm dúvidas e se afastaram de Deus) e até os que abandonaram completamente a dimensão religiosa da vida (os agnósticos). Uma paixão por todos esses levará o cristão a anunciar-lhes Jesus Cristo Salvador.

A mensagem para o Dia Mundial das Missões pelo Papa Francisco fala de tudo isto, mas sob o signo da alegria. Quem tem Jesus Cristo consigo e O anuncia tem possibilidade de revelar a todos que está feliz, como reza um cântico que muitas vezes se escuta: “Nada te perturbe, nada te falte, só Deus basta”.

3. Mais difícil para o missionário é conhecer o lugar concreto em que exerce a missão. Deixa-se um trabalho para cada um realizar. Qual o lugar onde eu devo exercer a missão: em casa, onde alguém está a ser marginalizado; no trabalho, onde muitos esperam o meu testemunho; na roda de amigos, onde alguns me questionam sobre a minha fé; na comunidade onde são sugeridas acções que eu poderei realizar e até em encontros furtuitos onde um ou outro abre o coração para encontrar em mim uma resposta de compreensão e até de amor?
Responder a esta pergunta é trabalho de casa para todos os cristãos que vêm à nossa comunidade paroquial.

P. Vítor Feytor Pinto
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