A ALEGRIA NA MISSÃO – 26 de Outubro de 2014

1. A alegria é um fruto do Espírito Santo. S. Paulo, na Carta aos Gálatas, considera que há duas maneiras ser livre: a liberdade dos instintos, que provoca rixas, brigas, discórdias e contendas, destruindo a harmonia e a paz; e a liberdade dos filhos de Deus, que conduz à alegria, ao amor, à bondade, à solidariedade e à realização de cada um no lugar que é o seu. O evangelizador que anuncia Jesus Cristo Ressuscitado, na missão que lhe é confiada, encontra sempre razões de esperança na alegria de viver. Contam-se duas histórias maravilhosas: a de um missionário, sacerdote, que no Norte de Moçambique, em plena guerra civil, acompanhava os perseguidos, era solidário com os que eram abandonados às portas da morte e, até, viveu nas prisões para onde foi atirado por fazer o bem. Regressado a Portugal, depois de 18 anos de missão, o seu sonho é sempre voltar a Lifidzi onde foi missionário. Foi ali que viveu a alegria mais verdadeira. Também a irmã Rita, doroteia, se dedicou ao cuidado dos doentes de uma leprosaria. Já regressou há quase 20 anos, com idade avançada continua a querer voltar a esse mundo difícil onde a sua alegria foi total. Estas podem ser histórias que se repetem por todo o lado com os cristãos que se comprometem numa acção missionária que tem por objectivo levar a todos a alegria de Cristo Ressuscitado. O Papa Francisco refere esta alegria fruto do Espírito logo no princípio da Evangelii Gaudium. A alegria na missão, diz o Papa, perpassa por toda a Palavra de Deus.

• Abraão, chamado por Deus da sua terra para uma missão extraordinária, a da fundação do Povo de Israel, celebra a alegria ao oferecer um sacrifício no Monte Mória, lugar que Deus lhe indicara (cf Gn 12, 1-3).

• Moisés percorre com o Povo os caminhos da liberdade, através de um deserto cheio de perigos. Exalta depois a alegria quando no Monte Nebo vê a Terra da Promessa “onde corre o leite e o mel”. Ele respondera com alegria à chamada de Deus (cf Ex 3, 10 e 17).

• Jeremias é conhecido como o profeta das lamentações. Ele não esconde, porém, a alegria por saber que Deus o escolhera para preparar o Povo que iria viver o difícil tempo do Cativeiro da Babilónia (cf Jr 1, 7).

• Jesus partilha a sua alegria com todos aqueles a quem cura, a quem dá o pão, a quem conforta, a quem n’Ele põe esperança. Quando diz “vai em paz”, esta expressão soa à dádiva da alegria a que todos têm direito.

• Os 72 discípulos foram anunciar a paz a todas as cidades e aldeias e vieram contar a Jesus, com grande alegria, que não só os doentes eram curados como até os demónios “caíam do céu como um raio” (Lc 10, 17-20?).

• Pedro e os outros Apóstolos na manhã de Pentecostes, tomados pelo Espírito, anunciaram com alegria a todo o povo de Jerusalém que Cristo estava vivo, vencera a morte (cf Act 2).

• Paulo, nas suas cartas, não se cansa de testemunhar com alegria que viu o Senhor e que O anuncia, ressuscitado, como Salvador para toda a humanidade.

Todos os cristãos são chamados a evangelizar, a ser missionários. Qualquer que seja a missão que lhes é confiada, exercê-la é sempre fonte de uma enorme alegria. É o Espírito Santo, possuindo-os, que os apoia na missão dando-lhes não apenas a eficácia, mas também a beleza do que se diz e a alegria que se vive.

2. A transformação missionária da Igreja é o ponto de partida para uma presença das comunidades cristãs no mundo de hoje. Durante muito tempo, sobretudo em séculos passados, a Igreja parecia ser portadora de virtudes negativas como: a resignação, a tristeza, um certo medo, até uma certa humildade confundida com a hipocrisia. Parece que a grande preocupação era preparar para a morte, para depois, no céu, adquirir a Bem-Aventurança. O próprio mistério de Cristo centrava-se quase exclusivamente no peso da cruz. Não poderia continuar a ser assim. A partir do Concílio Vaticano II abriram-se janelas de esperança, sobretudo no conceito da Igreja (Lumen Gentium) e na relação da Igreja com o mundo (Gaudium et Spes). O Papa Francisco, ao falar da renovação da Igreja, quer-lhe restituir o rosto do Ressuscitado, e a ressurreição de Cristo é a fonte da alegria. O essencial da transformação da Igreja é definido pelo Papa Francisco no nº 17 da Evangelii Gaudium. O que propõe o Papa?

• A reforma da Igreja em saída missionária: é uma Igreja de portas abertas que vai ao encontro de todos para lhes anunciar a pessoa de Jesus.

• A Igreja vista como totalidade do povo de Deus que evangeliza: não são só bispos e padres que anunciam o Evangelho. São todos os baptizados que proclamam Jesus através do seu testemunho cristão e da sua palavra oportuna.

• A inclusão social dos pobres: os mais pobres e que mais sofrem não podem estar à margem da Igreja, fazem parte dela e integram-se através dos apoios materiais e espirituais que a comunidade cristã lhes proporciona.

• O diálogo social para a paz: o novo nome da paz é desenvolvimento. E, só através da promoção humana de cada homem e mulher, se torna possível a superação das desigualdades e se criam condições para vencer todas as formas de violência.

• As motivações espirituais para o compromisso missionário: não é fácil anunciar Jesus Cristo sem uma adesão incondicional à pessoa de Jesus na fé, e a fé alimentada na Palavra de Deus e na oração continuada.

Este é quase um programa do Papa Francisco para a Igreja nos próximos 10 anos, tal a vastidão das situações e problemas que envolve. Uma coisa, porém, é certa, é que esta transformação missionária da Igreja se não faz sem a participação de todos os cristãos.

3. Todos os cristãos são chamados a sair da própria comunidade, a ter a coragem de alcançar todas as periferias que precisam da luz do Evangelho. Numa comunidade cristã, para chegar a todas estas periferias, todos têm uma responsabilidade, uma tarefa a realizar, sejam catequistas, com crianças ou adultos, sejam animadores em grupos de jovens, sejam formadores preparando para os diversos sacramentos, o Baptismo, o Crisma, o Matrimónio, sejam simplesmente leigos responsáveis na família, no trabalho, no grupo social, ou até na actividade económica e política. Ser missionário é sempre motivo de uma grande alegria.

P. Vítor Feytor Pinto
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