FORMAÇÃO SACERDOTAL-16 de Novembro de 2014

1. Não há Padre nenhum que não recorde o seu tempo de seminário. Foi ali que, a pouco e pouco, se preparou para receber a ordenação sacerdotal e aceitar a missão que o Bispo lhe confiou. Quando os sacerdotes se reúnem têm sempre inúmeras histórias para contar, recordando companheiros com as características de cada um, evocando professores que jamais esqueceram, lembrando pequenos acontecimentos que marcaram as suas vidas. Até ao Concílio Vaticano II os “seminários menores” enchiam-se de crianças e de adolescentes que aprendiam a lidar com a cultura nos estudos humanitários com que ocupavam o seu tempo. Os “seminários maiores” permitiam aos jovens conhecer e aprofundar os caminhos da filosofia e da teologia, elementos essenciais para o futuro exercício do sacerdócio. Eram normalmente doze anos de estudo e de experiência comunitária, através dos quais se ensaiavam os caminhos a percorrer no sacerdócio ao longo de toda uma vida. Com a transformação da sociedade a partir da década de sessenta do século passado, e com a transformação da Igreja no pós-Concílio, a vida dos seminários alterou-se profundamente. Os “seminários menores” ficaram vazios e os “seminários maiores” encontraram também perspectivas diferentes. Há muitas razões para esta mudança.

• A escolaridade obrigatória afastou do seminário todos aqueles rapazes cujas famílias tinham como preocupação levá-los a adquirir os estudos essenciais para a vida.

• O desaparecimento das famílias numerosas sacrificou a tradição de orientar alguns dos filhos para o sacerdócio. Era o orgulho de ter um filho padre.

• A perda de fé na sociedade e uma certa quebra de espiritualidade nas famílias originou não se considerar como futuro a consagração na vida sacerdotal ou religiosa.

• A secularização generalizada reduziu a dimensão religiosa ao foro da intimidade sem se compreender o serviço à Igreja e ao mundo a que o sacerdócio convidava.

• Os objectivos no processo educativo para muitos pais e educadores passaram a ser o ter muito, o adquirir estatuto social ou alcançar postos de influência e de poder.

Tudo isto contribuiu para que os seminários se esvaziassem e que as igrejas encontrassem formas novas de motivar para a consagração e para o sacerdócio.

2. No pós-Concílio Vaticano II começou a desenhar-se uma forma nova de organização para a formação sacerdotal. Deixou-se o esquema tradicional dos três tempos de formação: os cinco de humanidades, os três de filosofia e os quatro de teologia, esquema que durara quase um século. Optou-se por um caminho diferente:

• O pré-seminário – os adolescentes e jovens que frequentam normalmente as escolas são acompanhadas nas suas famílias. Também os pais colaboram no processo vocacional deixando-se envolver pela equipa formadora que vai apoiando alguns dos seus filhos, em que se revelou a chamada de Deus.

• Os grupos de pastoral juvenil – os encontros de jovens pré-universitários ou universitários com actividade constante na paróquia, são também eles alfobre de vocação sacerdotal e primeiro lugar de formação para aqueles que vão descobrindo o apelo de Deus. A “catequese de jovens tornou-se um lugar ideal para a vocação sacerdotal.

• O seminário vocacional – é numa comunidade já voltada para o sacerdócio que muitos jovens fazem o discernimento sobre a sua vocação para o serviço da Igreja e do mundo. Ali, com a orientação também de um director espiritual, cada um avalia a chamada de Deus, aceita responder ao que o Senhor lhe pede e compromete-se para a missão que lhe venha a ser confiada. Este é um tempo de discernimento.

• O seminário teológico-pastoral – nesta comunidade de jovens e adultos já comprometidos na formação sacerdotal, se o estudo universitário de teologia é importante, as experiências pastorais nas diversas comunidades da diocese são elemento fundamental de uma aprendizagem que não é teórica, mas que habilita para uma acção constante na missão que a cada um lhe foi confiada.

No nosso Patriarcado de Lisboa temos todas estas iniciativas de formação, com o Pré-Seminário em Penafirme, com o Seminário de Nossa Senhora da Graça, com o Seminário de S. José de Caparida e finalmente com o Seminário de Cristo-Rei dos Olivais. Nesta semana toda a Diocese está em oração pelos jovens que caminham nestas experiências. Pede-se a Deus para que eles sejam “sejam servidores da alegria do Evangelho”.

3. Qualquer comunidade cristã tem de gerar vocações. A média de idade dos sacerdotes do Patriarcado ultrapassa os sessenta anos. Muitos sacerdotes têm partido ao encontro de Deus e alguns, até novos, têm sido afectados por doenças graves. Cada vez mais se sente que a messe é grande e que os operários são poucos. Tem mesmo que pedir-se ao Senhor da messe que envie operários para a sua messe (cf Lc 10, 2-3). Nesta semana dos seminários é dever de todos os cristãos forçarem o Céu para que as vocações sacerdotais aconteçam. É, porém, necessário que a comunidade se mobiliza para fazer nela nascer vocações. Há atitudes a tomar:

• Criar um ambiente vocacional através da maneira de viver dos sacerdotes, da palavra convincente dos catequistas e dos formadores de jovens e, ainda, da alegria espiritual de toda a comunidade;

• Afirmar o testemunho dos consagrados com gestos de permanente disponibilidade para quem quer que os procure; os consagrados são os sacerdotes e religiosos que com alegria estão sempre disponíveis para todos, fazendo toda a gente feliz;

• Apoiar as famílias para que nelas possam nascer vocações; dar um filho ao sacerdócio é contribuir de maneira excelente para a evangelização que a Igreja desenvolve e para a transformação do mundo que todos desejam;

• Fomentar nos grupos de jovens a importância da vocação de tal maneira que eles entendam a consagração sacerdotal não só como caminho da felicidade pessoal, mas como entrega para com Cristo e em Cristo fazer feliz toda a gente;

• Transformar a comunidade cristã numa comunidade de serviços para que os jovens que nela vivem descubram que a alegria do servir é uma forma de realização total.

A Comunidade cristã tem o dever de pedir a Cristo Sacerdote, através de uma oração intensa, que nela nasçam sacerdotes capazes de substituir os que vão envelhecendo, e que um dia lhe darão a missão sacerdotal como herança de salvação.

4. Peçamos ao Senhor da messe que a Comunidade Paroquial do Campo Grande, na proximidade do Sínodo Diocesano, se torne fértil em vocações sacerdotais e missionárias.

P. Vítor Feytor Pinto
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