V DOMINGO DO TEMPO COMUM-8 de Fevereiro de 2015

«De manhã, muito cedo, levantou-Se e saiu.

Retirou-Se para um sítio ermo e aí começou a orar.

Quando O encontraram, disseram-Lhe: «Todos Te procuram».

Ele respondeu-lhes: «Vamos a outros lugares, às povoações vizinhas,

a fim de pregar aí também,»

 (Mc 1, 35-37)

I LEITURA – Job 7, 1-4.6-7

«Recebi em herança meses de desilusão e couberam-me em sorte noites de amargura.»

Leitura do Livro de Job
Job tomou a palavra, dizendo: «Não vive o homem sobre a terra como um soldado? Não são os seus dias como os de um mercenário? Como o escravo que suspira pela sombra e o trabalhador que espera pelo seu salário, assim eu recebi em herança meses de desilusão e couberam-me em sorte noites de amargura. Se me deito, digo: ‘Quando é que me levanto?’. Se me levanto: ‘Quando chegará a noite?’; e agito-me angustiado até ao crepúsculo. Os meus dias passam mais velozes que uma lançadeira de tear e desvanecem-se sem esperança. – Recordai-Vos que a minha vida não passa de um sopro e que os meus olhos nunca mais verão a felicidade».
Palavra do Senhor.

SALMO RESPONSORIAL – Salmo 146 (147), 1-2.3-4.5-6 (R. cf. 3a ou Aleluia)

Refrão: Louvai o Senhor, que salva os corações atribulados. Repete-se

Ou: Aleluia. Repete-se

Louvai o Senhor, porque é bom cantar,
é agradável e justo celebrar o seu louvor.
O Senhor edificou Jerusalém,
congregou os dispersos de Israel. Refrão

Sarou os corações dilacerados
e ligou as suas feridas.
Fixou o número das estrelas
e deu a cada uma o seu nome. Refrão

Grande é o nosso Deus e todo-poderoso,
é sem limites a sua sabedoria.
O Senhor conforta os humildes
e abate os ímpios até ao chão. Refrão

II LEITURA – 1 Cor 9, 16-19.22-23

«Ai de mim se não anunciar o Evangelho!»

Leitura da Primeira Epístola do apóstolo S. Paulo aos Coríntios
Irmãos: Anunciar o Evangelho não é para mim um título de glória, é uma obrigação que me foi imposta. Ai de mim se não anunciar o Evangelho! Se o fizesse por minha iniciativa, teria direito a recompensa. Mas, como não o faço por minha iniciativa, desempenho apenas um cargo que me está confiado. Em que consiste, então, a minha recompensa? Em anunciar gratuitamente o Evangelho, sem fazer valer os direitos que o Evangelho me confere. Livre como sou em relação a todos, de todos me fiz escravo, para ganhar o maior número possível. Com os fracos tornei-me fraco, a fim de ganhar os fracos. Fiz-me tudo para todos, a fim de ganhar alguns a todo o custo. E tudo faço por causa do Evangelho, para me tornar participante dos seus bens.
Palavra do Senhor.

ALELUIA – Mt 8, 17

Refrão: Aleluia. Repete-se

Cristo suportou as nossas enfermidades
e tomou sobre Si as nossas dores. Refrão

EVANGELHO – Mc 1, 29-39

Jesus quer levar a Boa Nova a toda a parte e esta sua acção é acompanhada de gestos concretos; no entanto .  perante as manifestações do povo, por esse Seu poder messiânico, procura um lugar ermo para aí orar ao Pai.

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Marcos
Naquele tempo, Jesus saiu da sinagoga e foi, com Tiago e João, a casa de Simão e André. A sogra de Simão estava de cama com febre e logo Lhe falaram dela. Jesus aproximou-Se, tomou-a pela mão e levantou-a. A febre deixou-a e ela começou a servi-los. Ao cair da tarde, já depois do sol-posto, trouxeram-Lhe todos os doentes e possessos e a cidade inteira ficou reunida diante da porta. Jesus curou muitas pessoas, que eram atormentadas por várias doenças, e expulsou muitos demónios. Mas não deixava que os demónios falassem, porque sabiam quem Ele era. De manhã, muito cedo, levantou-Se e saiu. Retirou-Se para um sítio ermo e aí começou a orar. Simão e os companheiros foram à procura d’Ele e, quando O encontraram, disseram-Lhe: «Todos Te procuram». Ele respondeu-lhes: «Vamos a outros lugares, às povoações vizinhas, a fim de pregar aí também, porque foi para isso que Eu vim». E foi por toda a Galileia, pregando nas sinagogas e expulsando os demónios.
Palavra da salvação.

V DOMINGO DO TEMPO COMUM (*)

A primeira Leitura desta missa é tirada do Livro de Job. Nada sabemos sobre o seu autor, a não ser que é um escritor poderoso, frequentador dos Livros antigos, bom conhecedor da condição humana. Terá escrito depois do Exílio, em fins do séc.V a.C.

Os Livros mais antigos da Bíblia falavam de Deus como Senhor do Povo e Senhor de todas as coisas. Era uma verdade fundamental. Mas até das verdades fundamentais se podem fazer comentários incorrectos. Houve quem começasse a dizer que, se Deus é o Senhor de todas as coisas, tudo o que acontece é decidido directamente por Ele: a vida e a morte, a saúde e a doença, a paz e a guerra, a riqueza e a miséria, … Outros quiseram concluir que, sendo Deus o Senhor do Povo Eleito, nunca o Povo podia perder uma guerra. Terceira ideia, a mais perniciosa: se Deus é Senhor, deve também ser Juiz: mas, então, as coisas duras que nos sucedem são certamente castigos.

O Livro de Job tenta corrigir estas ideias. O Autor resolve fazê-lo contando uma parábola. “Havia, na terra de Uce, um homem chamado Job…” Era um grande proprietário, profundamente honesto e humano, sempre pronto a socorrer os pobres e os infelizes, constante na fé e nos deveres religiosos. Estimado por toda a gente, era chamado para dirimir contendas e aconselhar os tribunais. Olhando para ele, os homens reconheciam que “Deus abençoa os justos”. Mas eis que caem desgraças sobre Job: num só dia, perde todos os seus bens, é informado de que os quatro filhos morreram num desastre, é atacado por uma espécie de lepra. A mulher incita-o a que se revolte contra Deus, mas ele manda que ela se cale. «Fui fiel quando era rico e feliz, continuarei fiel agora que nada tenho. Por que me terão acontecido estas desgraças, não sei, não é da minha conta.»

Infelizmente, Job tem uns amigos devotos, que se juntam para o visitar e para lhe dar conselhos: «Toda a gente sabe que os bons são premiados e os maus são castigados. Supúnhamos que tu eras santo, mas afinal deves ser um grande pecador. Não desesperes, arrepende-te e verás que Deus te perdoa.» Job responde que não será santo de altar; mas tem a consciência de que não é mais pecador que a maioria dos homens; até tem ajudado muita gente. Segue-se um diálogo de surdos.

Este encontro é muito mau para Job. Ele, que até aí aceitara sem discutir, deixa-se penetrar pela teologia dos amigos e declara que, se tudo o que acontece é decisão de Deus, então Deus é injusto. Diz coisas muito amargas e desafia Deus a que lhe explique por que resolveu esmagá-lo sem remédio. Os amigos vêem nele um caso perdido.

Finalmente, Deus manifesta-se. Primeiro, recorda a Job que não é assim que se fala com Deus, embora não se mostre ofendido. (Também não se zangará quando, um dia, Jesus lhe gritar da cruz: «Deus, por que me abandonaste?»). A seguir, Deus certifica a quem quiser ouvir que Job foi e continua a ser um grande santo. Aos amigos dele, diz-lhes que são parvos e sem compaixão, e só os não castiga porque Job vai rezar por eles. Coisa espantosa, Deus não explica a Job por que lhe aconteceram aquelas calamidades.

A intenção do Livro parece clara: em primeiro lugar, desfazer as ideias que corriam no tempo a respeito da maneira como Deus intervém nas nossas vidas e a respeito da conexão entre o sofrimento e o pecado. Não é verdade que, quando o homem sofre, isso seja um castigo determinado por Deus. Em segundo lugar, convidar os homens a abandonar esse tipo de perguntas. Como Job tinha feito de princípio, a santidade consiste em ser fiel, “no tempo da alegria como no tempo de provação”. Por que é que estes sofrem mais e aqueles sofrem menos não é pergunta que tenha resposta neste mundo. Sabemos, sim, que Deus não está ausente. Sabemos que toda a cruz se insere no mistério da cruz de Jesus, onde está a salvação.

Jesus nunca tentou esconder ou minimizar a questão do mal, mas nunca deu explicações a este respeito. Ensinou, sim, que só se vence o mal pelo amor.

(*) Uma homilia do Pe. João Resina em Fev de 2009

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