A SABEDORIA DO CORAÇÃO-8 de Fevereiro de 2015

1. No 11 de Fevereiro de cada ano celebra-se, desde 1992, o Dia Mundial do Doente. Foi o Papa João Paulo II, o grande criador da Pastoral da Saúde, que instituiu este tempo de especial oração pelos doentes, colocando-os sob a protecção de Maria. Aliás, o Santuário de Lourdes, cuja festa se celebra a 11 de Fevereiro, está consagrado a Nossa Senhora, privilegiando nas suas actividades um especial cuidado com as pessoas em grande sofrimento. João Paulo II tinha criado em 1985 o Conselho Pontifício para a Pastoral da Saúde. Até aí já havia associações de médicos e de enfermeiros católicos, a FIAMC e a CICIAMS. Também já se vivia muito a Pastoral dos Doentes em todas as comunidades cristãs. Ao instituir o Conselho Pontifício para a Pastoral da Saúde, o Papa João Paulo II quis reunir todas estas iniciativas numa única acção pastoral. Pode dizer-se que foi um sopro do Espírito esta iniciativa do Papa. Ele vivera meses na Clínica Gemelli, depois do atentado sofrido na Praça de S. Pedro em 13 de Maio de 1981. Ali, apercebera-se do trabalho intenso dos profissionais de saúde. Dera-se conta que, para além dos cuidados terapêuticos, havia uma outra terapia que médicos e enfermeiros proporcionavam, a terapia do coração. É neste sentido que a Pastoral da Saúde alargou o seu campo de acção: educando para a saúde, através de uma formação eficaz; cuidando dos doentes com intervenções clínicas proporcionadas; acompanhando os doentes, sobretudo nas fases mais difíceis, dando-lhes esperança; proporcionando a todos os apoios espirituais que a acção pastoral pode oferecer. Estão a celebrar-se 30 anos da Pastoral da Saúde. Ela é indiscutivelmente uma forma explícita de Nova Evangelização. A arte de cuidar, para os cristãos, é global. Previne e cuida, acompanha e estimula, dá confiança e abre o coração ao dom de Deus, revela em todas as circunstâncias a ternura e a misericórdia de Deus, sempre presente nos tempos de sofrimento ou de angústia.

2. A sabedoria do coração foi o título escolhido pelo Papa Francisco para o Dia Mundial do Doente em 2015. O Papa tem como referência fundamental a história de Job. Job, caído na desgraça, depois de tempos de grande prosperidade, recorda toda a sua acção junto dos mais pobres: “Eu era os olhos do cego e servia de pés para o coxo” (Job 29, 15). Ao longo de toda a sua mensagem, o Papa vai referir-se a Job que, aos amigos que tentam consolá-lo, revela a verdadeira sabedoria do coração. No meio de todo o sofrimento Job nunca deixará de acreditar no Senhor, por isso ele saberá dizer “Eu sei que o meu Redentor vive, os meus olhos O irão contemplar” (Job 19, 25?). Esta confiança ilimitada em Deus, mesmo no meio de todo o sofrimento, é uma garantia de que a vida vale sempre a pena. O Papa Francisco pede então a sabedoria do coração a todos os que carregam o peso da doença, de alguma maneira unidos ao corpo de Cristo sofredor. Esta sabedoria do coração é também pedida aos voluntários e profissionais no campo da saúde para que sejam os olhos do cego e os pés para o coxo. Mas o que será afinal a sabedoria do coração?

• A sabedoria do coração é servir o irmão, isto é, estar disponível para acompanhar os pobres que pedem ajuda e sobretudo os doentes que não têm mais ninguém; não bastam as palavras por simpáticas e afectivas que sejam, é necessário o testemunho de uma assistência contínua na ajuda para o doente se lavar, se vestir, se alimentar e manter esta assistência de uma forma permanente.

• A sabedoria do coração é estar com o irmão, isto é, dar-lhe o tempo suficiente para ele se abrir, descrever as suas dificuldades, falar da sua solidão; os irmãos doentes, graças à nossa proximidade e ao nosso afecto, sentem-se amados e confortados com a presença do amigo.

• A sabedoria do coração é sair de si para ir ao encontro do irmão, isto é, colocar o outro em primeiro lugar, estar disponível para a total gratuidade, aceitar encarregar-se do outro; a caridade efectiva para com o próximo, a compaixão que compreende, assiste e promove, são da própria natureza missionária do cristão (cf EG 179).

• A sabedoria do coração é ser solidário com o irmão sem o julgar, isto é, fazer seu o problema do outro, considerando suas as dificuldades que o atormentam; sacrificar tudo para que o outro, quanto possível liberto do mal, se sinta acolhido com a ternura que vem de Deus.

Nesta mensagem o Papa Francisco pede a Maria, mãe de todos os doentes e de quantos deles cuidam, a sabedoria do coração, a paz de aliviar todo o sofrimento humano, através da oferta que os apoios espirituais oferecem. Que Maria, conclui o Papa, faça crescer em todos a verdadeira sabedoria do coração.

3. É já tradição na Comunidade Paroquial do Campo Grande celebrarmos o Dia Mundial do Doente. Não o faremos a 11 de Fevereiro, porque é uma data a meio da semana, mas será neste Domingo, dia 8. Três actividades marcarão entre nós o Dia Mundial do Doente.

• A participação nas XVI Jornadas Diocesanas da Pastoral da Saúde. Estará presente um número significativo de voluntários da Paróquia. Preside a este grande encontro pastoral o senhor Patriarca D. Manuel Clemente e o tema é apaixonante: “O acompanhamento espiritual do doente”.

• A celebração comunitária da Unção dos Doentes. O Sacramento da Unção será oferecido a várias dezenas de doentes que o querem receber para poderem retomar, rapidamente, as suas normais actividades. Este sacramento é vivido em clima de festa. Ao meio dia deste domingo toda a comunidade poderá acompanhar sacramentalmente estes membros sofredores da nossa comunidade.

• A visita aos doentes em suas casas. Grupos de voluntários com um dos sacerdotes da Paróquia irão estar com os doentes que habitualmente se sentem em solidão. Serão visitas com o sentido da festa, podendo incluir até a Comunhão e o Sacramento da Unção. O encontro com as pessoas que estão sozinhas em casa é sempre razão de grande alegria para todos.

O Dia Mundial do Doente é na nossa Comunidade Paroquial um dia de grande intensidade. Longe das pessoas se lamentarem da doença que lhes bateu à porta, a mensagem que se leva é a da sabedoria do coração. O sinal claro da mensagem de que se é portador está na certeza da partilha do amor que faz as pessoas felizes.

4. Resta pedir a cada cristão da nossa comunidade que invente a sabedoria do coração, indo visitar uma pessoa doente, levando-lhe toda a ternura de que for capaz.

Pe. Vítor Feytor Pinto - Prior

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