EXULTEMOS E CANTEMOS DE ALEGRIA-5 de Abril de 2015

1. Os discípulos de Jesus e até as mulheres que o tinham acompanhado no drama do Calvário, julgavam que tinha chegado o fim. José de Arimateia e Nicodemos tinham colocado o corpo de Jesus num sepulcro novo. Muitos dos seus amigos voltavam para as suas ocupações habituais. Alguns para o exercício da pesca no Lago de Tiberíades, e dois outros para Emaús, onde tinham por certo uma pequena horta. Até Pedro e João se tinham escondido à espera de nada. Às mulheres com a sua ternura competia ir ao sepulcro levar os perfumes que tinham preparado e que faziam parte dos ritos funerários. Ao chegarem, encontraram a pedra tumular rolada e o sepulcro vazio. Apareceram-lhes anjos que lhes disseram: “Porque procurais entre os mortos aquele que está vivo? Não está aqui, ressuscitou.” (Lc 24, 5-6). Madalena pensou que tinham roubado o corpo do Senhor. Correu a dizê-lo a Pedro e João. Maria confundiu Jesus com um jardineiro, mas Jesus olhou para ela e disse: “Maria”, ao que ela respondeu “Rabuni”. Pedro e João encontraram o túmulo vazio com as ligaduras e o sudário arrumados a um canto, não se confirmando assim qualquer roubo. Reuniram-se todos na sala do Cenáculo e aí Jesus apareceu-lhes. Repetiu várias vezes, “A paz esteja convosco”, fez pousar sobre eles o Espírito Santo, até lhes deu o poder de perdoarem os pecados. A partir daí não mais tiveram medo de proclamar a Ressurreição. Se Cristo ressuscitou exultemos e cantemos de alegria. A Ressurreição não se limita apenas à vitória de Jesus Cristo sobre a morte. O Crucificado voltou à vida e com Ele tudo e todos ressuscitam também.

• A Ressurreição de Cristo, acontecimento fundante da fé dos cristãos, pode confirmar-se pelo sepulcro vazio e pelas onze aparições, não só aos Apóstolos, mas a muitos outros. Até Saulo, judeu convicto, se rendeu à Ressurreição quando Jesus lhe apareceu na estrada de Damasco. Todos compreenderam, ao estar com Jesus que Ele ressuscitara de verdade.

• A ressurreição do homem é um desafio constante para os que acreditam em Cristo Ressuscitado. Hoje, como em todos os tempos, os homens e as mulheres têm estado marcados pelo sofrimento: as doenças, os problemas sociais, opressões as mais diversas, e até a solidão. À luz da Ressurreição é urgente ressuscitar o homem, oferecer-lhe mais qualidade de vida e abrir-lhe portas à relação com Deus.

• A ressurreição dos crentes impõe-se porque só vivendo como ressuscitados podem levar uma vida nova a toda a gente. A missão dos cristãos fundamenta-se na Ressurreição de Cristo, pelo que tem como objectivo fazer que todos tenham vida e vida em abundância.

• A ressurreição da Igreja parece quase uma afirmação gratuita. Foi, porém, o Papa Francisco que afirmou na Evangelii Gaudium que a renovação da Igreja é inadiável. Então, a Igreja tem que ressuscitar, deverá superar os erros passados, vencer as tentações que por vezes a perseguem, estar em saída indo ao encontro do mundo para o salvar.

• A ressurreição das comunidades cristãs é um movimento constante na resposta que elas devem dar à cidade onde estão plantadas. Uma comunidade de portas abertas acolhe os que a procuram e vai ao encontro daqueles que precisam. Estes movimentos redentores são a mais lídima expressão da Ressurreição de Cristo.

• A ressurreição do mundo constitui desde o princípio a vontade do Pai. Ele não enviou o seu Filho ao mundo para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo, isto é para que o mundo ressuscite. Há tanto sofrimento no mundo que a ressurreição é uma urgência.

Como Cristo ressuscitou tudo e todos vamos ressuscitar. É fácil pensar numa ressurreição dos mortos, esperando a felicidade eterna. O mais importante, porém, para os cristãos, que entenderam o sonho missionário, será provocar a ressurreição em todo o tempo e lugar. A ressurreição é mais do que um acontecimento histórico, é um dinamismo de acção que tudo pode transformar. Por isso, o Ressuscitado disse aos apóstolos: “Ide e fazei discípulos em todas as nações” (Mt 28, 19). Fazer discípulos implicará provocar a ressurreição.

2. Cantemos, então, de alegria. Regozijemo-nos porque o Senhor ressuscitou. Depois do tempo da Quaresma que nos levou pelos caminhos da penitência e da reconciliação, a nossa relação com Deus e com os outros adquire novos dinamismos. Na tarde do dia de Páscoa, os Apóstolos receberam o Espírito Santo. Também nós, movidos pelo Espírito, celebramos a alegria pascal. A tradição cristã traz às comunidades e às famílias rituais simbólicos que são a expressão da alegria que nos vai no coração.

• A Procissão do Santíssimo, na aurora do domingo. Em muitas aldeias mantém-se ainda a procissão do Senhor Ressuscitado. Pelas ruas engalanadas, entre as sete e as oito da manhã, faz-se a procissão do Senhor Ressuscitado. É o Santíssimo Sacramento, em bênção pascal pelas ruas do lugar.

• O compasso, com o Cristo na Cruz a beijar. No interior, ou mesmo em alguns bairros das cidades, o Senhor é levado a todas as famílias para a bênção da casa e a protecção dos campos. Enquanto a cruz de Jesus, levada pelo sacerdote anda de casa em casa, os amigos, as famílias mais próximas, percorrem o mesmo caminho, testemunhando uma comunhão de vida que só o Espírito da Ressurreição pode provocar. O prior e os acólitos levando o crucifixo desejam de casa em casa as boas festas pascais.

• As crianças também celebram a Páscoa. Porque a Ressurreição é sinal de vida nova, os pais escondem ovos no meio das plantas dos jardins e os pequeninos com 5 ou 6 anos vão percorrendo todos os canteiros à procura da vida que está a nascer, os ovos de Páscoa que ali foram deixados. Este jogo termina, na família dos crentes, com uma oração ao Jesus Ressuscitado.

• O folar da Páscoa. Cumprindo os rituais de uma lenda antiga, no Domingo de Ramos os afilhados oferecem aos padrinhos ramos de flores. Os padrinhos retribuem, depois, no Sábado Santo, com um folar, um bolo com ovos inteiros rodeado de flores, sinal da reconciliação e da amizade.

• O jantar da Páscoa. As famílias reúnem-se neste maravilhoso dia da Primavera para celebrarem a alegria da Ressurreição. Se Jesus ressuscitou todos querem que Ele permaneça vivo nos seus caminhos nem sempre fáceis. Nesse dia vem-se de longe para celebrar a Páscoa, com os pais, com os avós, com todos os que se podem sentar à mesa comum, reafirmando a ternura e o amor sempre maior.

Exultemos e cantemos de alegria. No mundo contemporâneo pode-se ter perdido a fé, podem ser poucos os que têm uma prática religiosa assídua, pode ter havido acontecimentos que parecem deixar de fora alguns cristãos convictos. As tradições pascais reafirmam os valores cristãos que continuam a enformar toda a sociedade. Celebrar a Páscoa continuará a ser sempre uma referência cristã na vida de toda a cidade. Alegremo-nos e rejubilemos.

3. É claro que toda esta alegria é espiritual, refere-se a Cristo Ressuscitado. A Vigília Pascal é uma festa de luz e é essa Luz que é Cristo que queremos que ilumine o mundo inteiro. É a festa da água, a festa do Baptismo dos catecúmenos e nós desejamos que cada vez mais crentes recebam o Baptismo e se confirmem na fé. É a Festa da Ressurreição e todos queremos viver ressuscitados levando também a ressurreição a toda a gente. A Páscoa é a festa das festas. Nos próximos 50 dias, até ao Domingo de Pentecostes, celebramos a Ressurreição Pascal. Exultemos e cantemos de alegria no Senhor.

Pe. Vítor Feytor Pinto - Prior

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