VIVER EM COMUNHÃO – 3 de Maio de 2015

1. Na vida do cristão, há uma atitude que domina todas as grandes opções. É fundamental viver em comunhão com Deus e com os irmãos. Se se percorrem as páginas do Novo Testamento, este apelo à comunhão é uma constante. É muito importante amar, mas o amor é apenas um caminho para a unidade. Não se chega aí sem a justiça, o dar a cada um aquilo a que tem direito; sem o perdão, quando se reconhece que outros têm alguma coisa contra si; sem a reconciliação, a capacidade de ir ao encontro do outro para com ele reconstruir o tecido de uma relação estável. É assim que se constrói a comunhão e a unidade. Percorrendo os Evangelhos e as Cartas dos Apóstolos, encontram-se inúmeros apelos a esta comunhão com Deus e com os irmãos.

• “Que a minha comunhão convosco seja também comunhão com o Pai e com o seu Filho Jesus Cristo” (1Jo 1, 3). É o mistério da Koinonia, isto é, o empenhamento de todos na unidade. A comunhão com Deus é o suporte da comunhão fraterna e é a relação com os irmãos que testemunha a relação com Deus.

• “Que todos sejam um como eu e Tu, ó Pai, somos um só e, por isso, creia o mundo que Tu me enviaste” (Jo 17, 21). A unidade e a comunhão são a primeira exigência para a evangelização do mundo.

• “Que haja um rebanho e um só pastor” (Jo 10, 16). O projecto de Jesus em toda a Boa Nova que anunciou converge para o encontro de todos no amor recíproco e no amor do Pai.

• “Cristo nunca pode estar dividido” (1Cor 1, 13). Na comunidade de Corinto uns diziam que eram de Pedro, outros de Apolo, outros de Paulo, ou de Cristo. O Apóstolo disse que nunca Cristo poderia estar dividido.

• “Eram um só coração e uma só alma” (Act 4, 32). Desde a comunidade de Jerusalém que a comunhão era o essencial da vida dos cristãos. Por isso, punham tudo em comum e não havia necessitados entre eles.

• “Há um só Deus que é Pai de todos” (Ef 4, 6). A unidade na diversidade é uma extraordinária forma de comunhão. Todos contribuem para o bem comum.

Todas estas afirmações de Jesus e dos Apóstolos são a expressão da comunhão essencial à vida da Igreja. Neste 5º Domingo da Páscoa, a alegoria da videira reafirma e consagra a comunhão. Somos membros de Cristo que é a cepa e estamos unidos uns aos outros como ramos da mesma videira.

2. É bom ter consciência do dinamismo da comunhão. Não é fácil viver permanentemente uma relação positiva com todos. Por vezes quebra-se a unidade por atitudes de egoísmo que facilmente poderiam ser superadas. A relação fraterna torna-se assim mais difícil de manter do que a simples relação com Deus. A comunhão com Deus consegue-se pelo “estado de graça”, uma união plena com o Pai, por Cristo, no Espírito Santo. Pequeninas faltas não destroem esta relação de amor. Já S. Paulo dizia “Sois templo de Deus que habita em vós” (1Cor 3, 16). Também sabemos o que disse Jesus aos discípulos: “se alguém me amar e guardar os meus mandamentos, meu Pai o amará, viremos a ele e faremos nele nossa morada” (Jo 14, 23). Na relação pessoal com Deus, vivemos o amor. Difícil é, depois, amar os irmãos. A comunhão com os irmãos exige atitudes muito concretas:

• A justiça, o respeito pela dignidade e a liberdade de cada um em todas as circunstâncias;

• A igualdade, uma vez que, sendo filhos de Deus Pai, os homens são todos irmãos, com responsabilidade recíproca;

• O perdão, não apenas sete vezes, mas setenta vezes sete, como disse Jesus a Pedro, o que quer dizer perdoar sempre;

• A reconciliação, que no dizer de Jesus é condição indispensável à Eucaristia, porque se alguém está diante do altar e aí se recorda que há outro que consigo cortou relações, é preciso deixar a oferenda no altar para ir ao encontro do irmão que está longe;

• Até à unidade o grande sinal de que na maior diversidade é possível “no mundo” construir o bem comum.

A comunidade cristã é por excelência um lugar de comunhão. Nela todos são diferentes, nas vocações, nas funções, nos carismas, mas todos convergem para o mesmo objectivo: anunciar o Evangelho pela palavra oportuna mas, sobretudo, pelo testemunho da comunhão fraterna.

3. A comunhão na Igreja é de um valor incalculável. As primeiras comunidades cristãs viveram esta comunhão até à exaustão. “Estavam todos unidos na doutrina dos Apóstolos, na fracção do pão, na oração, na Eucaristia e punham todos os bens em comum. Não havia, por isso, necessitados entre eles. Tinham a simpatia de todo o povo e aumentava cada vez mais o número dos que acreditavam” (cf Act 2, 42-47). A comunhão eclesial hoje pede aos cristãos relações profundas de unidade:

• A comunhão com o Papa Francisco, que a todos dá lições de proximidade, aliás, o primeiro passo da Nova Evangelização;

• A comunhão com o Patriarca Manuel, que convida os cristãos de Lisboa a renovar no Sínodo Diocesano a responsabilidade evangelizadora de cada um;

• A comunhão com o Pároco em cada comunidade paroquial, porque a Paróquia é o lugar de referência do amor universal, dos crentes e dos não crentes, segundo o sonho missionário que é de todos e para todos;

• A comunhão nos grupos de cristãos que se encontram para aprofundar a fé, para fazer oração, ou para organizar acções evangelizadoras ou obras de apoio aos mais pobres;

• A comunhão na família cristã, já que ela é “Igreja doméstica”, fonte de todo o dinamismo que a comunhão evangelizadora traz consigo.

Uma relação de amor, de serviço, de partilha, de reconciliação, constitui a riqueza maior da comunidade cristã a que se pertence. Cultivar esta comunhão é exigência maior pedida aos cristãos de hoje. Era esta a inquietação do antigo pastor da diocese, D. José Policarpo, nos seus últimos anos. É esta a insistência constante do nosso pastor, D. Manuel Clemente.

4. A comunhão eclesial, depois de termos rezado sobre a alegoria da videira, constitui o grande objectivo da nossa vida em comunidade, também aqui na Paróquia dos Santos Reis Magos, ao Campo Grande.

Pe. Vítor Feytor - Prior

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