PARA QUE DEIS FRUTO E O VOSSO FRUTO PERMANEÇA-10 de Maio de 2015

1. Neste tempo pascal já passaram os frios do Inverno. As árvores cobriram-se de folhas verdejantes e começam a despertar botões de flores com as cores mais variadas. É o tempo da Primavera. Todos estes sinais de beleza revelam, porém, uma espera. É preciso dar fruto e fruto em abundância. A natureza constitui um desafio para os cristãos. Depois de uma quadra de penitência, a Quaresma, celebra-se com alegria a Páscoa da Ressurreição. Não pára aqui, porém, o caminho que é preciso percorrer. O grande objectivo é provocar a ressurreição em todos e em todas as coisas, através de uma vida nova que se converte em frutos. Pela presença dos cristãos no mundo, é o mundo inteiro que pode renovar-se. Lendo o Evangelho deste 6º Domingo da Páscoa, facilmente se compreende que não basta querer evangelizar. É preciso que cada um se prepare para levar a boa notícia de Jesus ressuscitado a toda a gente. Jesus, no Evangelho de João, diz quais as condições de quem tem por missão evangelizar.

.“Permanecei em mim e eu permanecerei em vós” (Jo 15, 4) – de facto, ninguém pode dar o que não tem. E se não se estiver unido a Cristo, numa união plena, não se pode levá-l’O aos outros. Aliás, a fé não é outra coisa do que “a plena e perfeita comunhão com Cristo”. É preciso levar isto até às últimas consequências.

.“Que a minha alegria esteja em vós e a vossa alegria seja completa” (Jo 15, 11) – aceitar a missão de evangelizar é muito mais do que uma obrigação, é uma razão de viver. Por isso cada palavra, cada gesto, cada atitude do evangelizador é sempre fonte de alegria.

.”Amai-vos uns aos outros como eu próprio vos amei” (Jo 15, 12) – o mandamento novo repetido várias vezes por Jesus, tornou-se o paradigma do cristão. Só se é verdadeiramente cristão quando se ama sem condições. Um amor universal que não exclui ninguém, um amor que não tem preço e é sempre gratuito, um amor que tem como único objectivo fazer os outros felizes.

.“Não vos chamo servos mas amigos” (Jo 15, 15) – a relação com Cristo ultrapassa a simples dimensão do serviço. O amor para com Ele, o ser amigo d’Ele, envolve um compromisso que em situação alguma pode ser sacrificado. Na evangelização anuncia-se aquele que se ama e que é razão de vida.

.“O maior amor está em dar a vida por aqueles que se amam” (Jo 15, 13) – esta é a radicalidade do amor. Jesus viveu-a até à condenação à morte e à ressurreição. Ele deu a vida e recuperou-a para garantir mais vida para todos. O cristão dá a vida e em Cristo Ressuscitado anuncia a vida que é fonte de felicidade.

.“Tudo o que pedirdes ao Pai em meu nome Ele vo-lo dará” (Jo 15, 16) – de facto, a relação pessoal com Deus na oração abre caminhos de evangelização que superam as dificuldades e perspectivam a esperança de serem eficazes. É a relação pessoal com o Pai, por Cristo que facilita o anúncio do Redentor e Salvador.

Sem estas perspectivas, de que fala Jesus no seu Evangelho, será impossível dar fruto e fruto em abundância. Este tempo pascal é uma nova Primavera que permite aos cristãos prepararem-se, com toda a exigência, para realizarem, em si e na comunidade, “o sonho missionário que é de todos e para todos”.

2. Só pela evangelização é possível dar fruto. Desde o Baptismo que o cristão é chamado a ser apóstolo, a não guardar para si o Bem que no Sacramento recebeu. Na Confirmação o óleo do Crisma, óleo perfumado com bálsamo, chama a um testemunho eficaz que seja para os outros razão de uma grande descoberta, a de que Cristo é Redentor e Senhor. A Reconciliação e a Eucaristia garantem o perdão e a comunhão essencial ao evangelizador. Com o coração purificado aceita-se o Corpo e o Sangue de Jesus que são remédio e alimento para a vida do cristão que se torna assim capaz de revelar aos outros o Jesus que dá sentido à sua vida. Todos os outros Sacramentos exprimem a fé, a fortalecem, para, na situação concreta da vida, os cristãos se tornarem capazes de anunciar a salvação. Marcados pelos Sacramentos poderá perguntar-se como poderão evangelizar.

.Pelo testemunho cristão, isto é, pelo acolhimento e compreensão de todos, pela solidariedade com os mais pobres, pela comunhão de vida e de destino com o povo de que se faz parte. Esta maneira de estar interpelará todos os outros que poderão perguntar o porquê de tal coerência de vida.

.Dar razão da esperança que há em si é para o cristão uma forma de vida. Ele não se deixa dominar pelas cargas negativas que pode sofrer ou que lhe são anunciadas. O cristão sabe que todas as dificuldades podem ser vencidas. Nas “4ª vigílias da noite” ele sabe que Jesus vem ao seu encontro. Por isso, a sua atitude de evangelizador é sempre a da serenidade e da paz.

.Em qualquer casa onde entrardes dai a paz. Este apelo de Jesus aos discípulos é norma de vida para o evangelizador. Quem anuncia Jesus Cristo acolhe, escuta, aponta caminhos, respeita as opções, pacifica. Missão extraordinária.

.Dar a Boa Nova aos pobres, a libertação aos oprimidos, a alegria aos que sofrem, tudo isto pede a atenção ao outro a quem se serve com generosidade, com o desejo de bem fazer. É assim que se constrói o mundo novo que começa com a reconciliação e a alegria do dar.

.Anunciar o Evangelho é confessar a fé sem medo, é anunciar Jesus Ressuscitado com convicção, é afirmar valores com coragem. A partir daí tudo se torna diferente, tudo é melhor.

É nesta dinâmica de acção que o cristão, com a sua fé consciente e o seu compromisso missionário, procura dar fruto e fruto em abundância. É de notar, porém, que Jesus disse alguma coisa mais: “Que este fruto permaneça” (Jo 15, 16). O cristão, com simplicidade, continuará acompanhando aqueles que por si chegaram à verdade do Evangelho, conheceram a pessoa de Jesus e querem atingir a salvação.

3. O Papa Francisco define em 5 palavras, na Evangelii Gaudium, o dinamismo do evangelizador: primeirear, anunciando Jesus Cristo sem medo; envolver, introduzindo o crente na comunidade de amigos; acompanhar, fazendo caminho com o outro até à sua afirmação cristã, já sem condições; frutificar, com a garantia de que o anúncio do Evangelho foi recebido, levando à prática cristã; e festejar, celebrando com todos os outros cristãos o grande acontecimento da conversão do outro que se encontrou com Jesus Cristo pelo Evangelho.
Na nossa Paróquia do Campo Grande todos deverão querer dar fruto em abundância e que este fruto permaneça.

Pe. Vítor Feytor Pinto Prior - Prior

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