DESCANSAR É UM DEVER – 21 de Junho de 2015

1. O trabalho constitui um dos elementos mais relevantes da realização plena da pessoa humana. A par do respeito pela dignidade e liberdade de cada um, sabendo também da importância da pertença a uma comunidade, é, no entanto, a actividade humana o que melhor contribui para as pessoas se sentirem felizes. Através do trabalho, o ser humano é colaborador do projecto criador de Deus. Falando do trabalho, o Papa João XXIII, na simplicidade que lhe era própria, costumava dizer que “era preciso trabalhar, saber trabalhar, deixar os outros trabalhar e dar trabalho aos outros”. Regra lindíssima que está muito longe da prática económico-social que se vive na sociedade contemporânea. Hoje, há milhares de pessoas no desemprego, ou até com salários ínfimos, sem segurança no trabalho, sem participação na vida das empresas. Além disso, muita gente, mais do que trabalho, quer emprego e salário, como fonte de subsistência e quase, sobrevivência.

. O trabalho está consagrado na “Carta das Nações”, desde 1948, como um direito indiscutível. É que todos têm direito ao trabalho, ao salário justo e ao tempo suficiente de descanso (DH 23 e 24).

. O trabalho não é mais um castigo de Deus, como era visto no Livro do Génesis, por causa da infidelidade dos primeiros pais: “Comerás o pão com o suor do teu rosto” (Gn 3, 19).

. O trabalho é um valor indiscutível para o desenvolvimento da humanidade. É uma fonte de lucro e de produção, mas é também um factor de crescimento económico-social.

. O trabalho é razão de alegria para quem o executa, segundo a vocação a que é chamado. Pelo trabalho, a pessoa realiza-se na plenitude de todos os seus dons.

. O trabalho é também, sempre, um serviço para o bem comum. O seu resultado não é nunca para o benefício de um só; é, antes, para o desenvolvimento da humanidade. Por isso, torna-se um dever a que ninguém pode eximir-se.

A este olhar, o trabalho constitui para cada pessoa e para a sociedade inteira uma fonte de realização pessoal e comunitária. Não pode deixar de lutar-se para que todos tenham trabalho, se sintam felizes no trabalho que realizam e que esse trabalho seja eficaz, produzindo frutos em abundância numa sociedade justa e fraterna.

2. Agora, quem trabalha tem direito a refazer as suas forças. Desde a história da Criação, até Deus, diz o Genesis, ao sétimo dia descansou. Pode-se ter direito ao descanso semanal, no sábado e domingo, ao descanso privilegiado das grandes festas como no Natal e na Páscoa, e, sobretudo durante o Verão, às férias grandes que algumas vezes chegam a ser de um mês. Os dias de descanso constituem um extraordinário apelo à criatividade. É cada pessoa, ou cada família, que se organiza para aproveitar esse tempo que lhe é dado. Há muitas maneiras de preparar as férias de Verão.

. Na praia – sobretudo quando se tem crianças. A praia para onde se vai habitualmente constitui o melhor lugar para o tempo de Verão. As crianças gostam do mar, os crescidos gostam de encontrar-se com os amigos, todos organizam festas com diversões diferentes daquelas que se vivem na cidade.

. No campo – quem tenha uma casa antiga no Norte ou na Beira gosta muitas vezes de ir até lá para recordar os tempos da infância ou simplesmente manter a tradição. Aquela casa velha está cheia de histórias, as árvores que a circundam dão uma sombra magnífica que, ao entardecer, guardam conversas de uma memória que não se apaga.

. Nas termas – porque a cura pela água ajuda muito os mais velhos, também aí, num hotel simpático, com os amigos que todos os anos frequentam os mesmos tratamentos, se passa um tempo agradável para repousar depois de um ano de trabalho. Poderá aproveitar-se para agradáveis partidas de bridge ou de canasta, com uns simpáticos chás à mistura, ou até passeios pela montanha.

. Numa viagem – quantas vezes se sonhou ir a uma cidade da Europa, entrar em igrejas e castelos, visitar um lugar com muita história, ou entrar num museu para admirar obras de extraordinários autores. Umas férias assim ficarão para sempre na memória, podendo depois no regresso contar a todos como foi bela essa experiência.

. Um tempo de retiro – na vertigem do dia a dia falta o tempo para fazer silêncio e para orar. Alguns dias, com uma orientação segura, podem constituir dias de descanso completamente diferentes. A sós com Deus, num diálogo contemplativo, é possível descobrir a importância da relação com Deus, como fonte de vida para um ano inteiro.

. Uma oportunidade criadora – mesmo ficando em casa, pelas razões mais diversas, organizar o tempo que se tem disponível nas férias pode proporcionar momentos de reconciliação consigo na paz de coração e um tempo de reencontro com os outros, em contacto com os amigos que também dão sabor à vida.

Muitas outras coisas poderão dizer-se sobre a organização das férias, mas é cada um na situação de vida que é a sua, que vai descobrir uma forma de retemperar forças para quando o ano novo chegar estar disponível para realizar o programa de vida que é o seu.

3. Está muito próximo o tempo de férias. Para que resultem no descanso merecido, depois de um ano intenso de trabalho, cada um, e, sobretudo, cada família deve conseguir organizar-se a ponto de transformar esse tempo em oportunidade de encontro, de partilha, de entreajuda, de ternura, de amor, de autêntica felicidade. Em família vão procurar fazer-se mais próximos; com os amigos que têm idênticos programas vai ser fácil cimentar relações; com outras pessoas com quem se cruza no caminho há oportunidade de crescer, de se valorizar com experiências de maior interesse. Poderá perguntar-se porque estamos já a falar das férias. Por três razões muito simples:

. Porque o mês de Julho está a chegar, as crianças e os jovens já acabaram as aulas, os mais adultos já estão cansados da rotina e os mais velhos fartos de estar em casa. É tempo de sonhar dias diferentes.

. Porque é preciso programar dias tão importantes para todos, conversar com todos na família, descobrir o sonho comum, avaliar as capacidades económicas, sem despesas loucas, encontrar a melhor forma de todos se sentirem bem.

. Porque vale a pena integrar a oração nesse tempo de descanso. Nestes dias, provavelmente, pode ter-se mais tempo para Deus.

Ao fechar o Ano Pastoral, é muito bom para todos desejar-se mutuamente umas Boas Férias.

P. Vítor Feytor Pinto
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