EM ESTILO FAMILIAR – 4 de Outubro de 2015

1. Neste dia 4 de Outubro, dia de S. Francisco de Assis, inicia-se em Roma o Sínodo dos Bispos sobre a família. Há características na maneira de viver em família: são as relações de proximidade, é a colaboração constante nos mais pequenos trabalhos, é o culto da intimidade que permite pôr tudo em comum. O nosso Bispo, o Senhor Cardeal Patriarca, ao enviar uma carta programática a todas as comunidades da Diocese teve o cuidado de convidá-las a manterem nelas essa forma de vida comunitária, ao nível do “estilo familiar”. Que grande desafio nos é pedido! Se a família é, no dizer de João Paulo II na Exortação “Christifideles Laici”, “o espaço social onde a vida nasce, cresce e se desenvolve até à felicidade de todos os seus membros” (CfL 40), ela é também, no texto da Familiaris Consortio, “uma comunidade de pessoas, ao serviço da vida, para o desenvolvimento da humanidade” (cf FC 3ª parte). Vale a pena, à luz destas visões da família, definir as características de uma comunidade cristã com estilo familiar.

. Comunidade de pessoas – ao longo da semana e, sobretudo, no dia de Domingo, passam pela paróquia inúmeras pessoas, de todas as idades, de muitas culturas, das profissões mais diversas. Mas na comunidade cristã todos somos iguais e todos nos relacionamos com amor. A diversidade é apenas um enriquecimento para a realização plena de cada um. A vida comum consagra a unidade essencial e a comunhão plena.

. Ao serviço da vida – a transmissão da vida é um valor incalculável contido no mandato criador: “crescei e multiplicai-vos” (Gn 1, 28). Na comunidade cristã é a vida espiritual que está em causa. Todos são responsáveis pela vida de comunhão com Cristo e pelo crescimento na fé de cada um. A vida verdadeira concretiza-se na educação da fé e da caridade. A maior esperança, na comunidade cristã, está em que todos cresçam e se valorizem na relação com Deus e com os irmãos.

. Para o desenvolvimento da humanidade – o Papa Francisco insiste na ideia de uma Igreja em saída, de portas abertas, para ir ao encontro de todos os homens. Só partindo para evangelizar, para levar a Boa Nova da Salvação, a comunidade cristã se realiza na sua vocação missionária. O mundo de hoje está faminto de verdade, de justiça, de liberdade e de amor. As comunidades cristãs têm de levar tudo isto ao mundo, para, se possível, construir a paz urgente e a alegria indispensável para um ambiente familiar.

.  Na felicidade conseguida para todos – dentro da comunidade cristã, as pessoas têm de contribuir para fazer os outros felizes. É claro que se torna imperioso ter-se um coração de pobre, um coração missionário, um coração aberto à construção da paz. Fazer os outros felizes é um lema para todos os membros da comunidade cristã.

Esta aposta, no estilo familiar de toda a comunidade, vai certamente transformar as nossas relações humanas e será mais fácil, assim, a relação com Deus.

2. Toda a actividade da Igreja se desenvolve à volta de três sectores: a profecia, a liturgia e a sociocaridade. É o tríplice ministério referido à Pessoa de Jesus Cristo, sacerdote, profeta e pastor. O estilo familiar que o Senhor D. Manuel Clemente propõe pode e deve ter também estas três referências. A Familiaris Consortio, de João Paulo II, di-lo expressamente quando afirma que a família se desenvolve na vida e acção da Igreja, sendo então: uma comunidade crente e evangelizadora, uma comunidade de diálogo com Deus e uma comunidade de acolhimento aos mais pobres. A comunidade paroquial tem exatamente estas mesmas características, até porque no dizer do Papa Francisco a Igreja é uma família de famílias.

. Comunidade crente e evangelizadora – a paróquia convida os seus membros a aprofundar constantemente a sua fé e exige que anunciem a Boa Nova de Jesus Cristo à cidade. Ser evangelizador é responsabilidade assumida quando “o sonho missionário deve chegar a todos”.

. Comunidade de diálogo com Deus – a paróquia é um extraordinário lugar de oração. Na igreja paroquial celebram-se a Eucaristia e os outros sacramentos. Na capelinha do 5º andar, as pessoas recolhem-se num encontro pessoal com o Senhor. É a comunidade toda que está sempre, pela oração e pela liturgia, a referir-se a Deus e ao seu Filho, Jesus Cristo.

. Comunidade de serviço aos mais pobres – no mundo que nos rodeia há imenso sofrimento. Se são muitos os carenciados que precisam de pão, de casa, de emprego, de um salário justo, há então mais que estão marcados pelo “sofrimento d’alma”, com a incompreensão, o abandono, a solidão, a incapacidade de vencer as dificuldades, até a depressão, acompanhadas tantas vezes da crise espiritual e religiosa. Todas estas pessoas precisam do amor e da ternura que só a comunidade cristã pode dar.

Estas três características devem estar muito presentes na vida da comunidade cristã, para esta se realizar como Igreja e fazê-lo ao estilo de uma família de famílias, como o Papa Francisco chama às comunidades cristãs.

3. Para se conseguir o estilo familiar na comunidade cristã, é preciso implementar alguns valores sem os quais não se consegue o espírito de família. De uma maneira simples, mas clara, podem identificar-se estes: o amor universal, a colaboração constante e a alegria serena. Uma vida comunitária constrói-se diariamente nas relações que se estabelecem de uns para com os outros, relações estas onde faz falta, de quando em quando, pedir perdão e oferecer perdão, partilhar bens e receber outros bens com simplicidade, estar pronto a recomeçar depois de alguma hesitação ou de alguma queda. Valores imprescindíveis são, então:

. O amor universal, até à comunhão na unidade. Foi Jesus que o disse: “Que todos sejam um como Tu, ó Pai, e Eu somos um.” (Jo 17, 21). Esta unidade não é possível sem o amor que vence as normais dificuldades e constrói a reconciliação e a paz.

. A colaboração constante, até à realização harmónica de todos os projetos. A partir da competência de cada um, colaborar com os irmãos permitirá a eficácia devida aos diversos programas pastorais.

. A alegria serena, até à felicidade sentida por cada um e celebrada por todos. A comunidade cristã tem de ser geradora de bem-aventurança. Nada poderá obrigar alguém a ir à paróquia. Vai-se porque ela é uma comunidade geradora de felicidade.

Amor, colaboração e alegria são valores indispensáveis na nossa comunidade paroquial do Campo Grande. Assim saibamos vivê-los.

4. Estamos no início do ano. O meu desejo é o de que aqueles que nos procuram se sintam bem entre nós, porque aqui, na nossa comunidade, têm alegria tanto em dar como em receber.

P. Vítor Feytor Pinto
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