O SAL DA TERRA E A LUZ DO MUNDO-8 de Novembro de 2015

1. Quando há mais de 70 anos entrei no Seminário, já o meu sonho de criança era ser sacerdote. Ainda hoje me surpreendo ao pensar como, com 10 anos apenas, eu afirmava com convicção a minha vocação sacerdotal. Foram 12 anos maravilhosos, com professores excelentes, com colegas de quem ainda sou amigo (depois de 70 anos) com um ambiente cultural extraordinário e com tempos fortes de oração e de espiritualidade que não posso esquecer. Vivi no seminário três tempos diferentes: a última etapa da infância, separado durante muitos anos do convívio familiar; a adolescência, com as normais afirmações da personalidade que me tornaram muito crítico e afirmativo; a primeira etapa de uma juventude em que as grandes opções de vida se iam construindo, até à decisão de ser sacerdote. Estes longos doze anos estiveram sempre dominados pela palavra de Jesus no Evangelho de Mateus “ser o sal da terra e a luz do Mundo” (Mt 5, 13 e Mt 5, 14): o sal para dar à vida um sabor novo no ser cristão, e a luz para iluminar o mundo, isto é, todos os homens, numa réstia de esperança e de alegria. Na Semana dos Seminários, recordo a minha passagem por estas escolas da minha diocese, mas vejo como é diferente hoje a formação sacerdotal. 

. Ninguém entra no seminário aos 10 anos. Começa os estudos na escola básica, vive no ambiente da família e é apoiado pela comunidade paroquial de que faz parte.  

. Depois vem o pré-seminário, um tempo em que o jovem é acompanhado por uma equipa sacerdotal que ajuda a crescer a pequena semente da vocação sacerdotal. 

. Importante é, depois, o seminário vocacional. Enquanto se frequentam os primeiros anos de seminário, faz-se o discernimento sobre a vocação. O sonho vai-se revelando na exigência de uma chamada de Jesus: “Tu, vem e segue-me”. 

. O seminário pastoral é a última etapa da formação. Um jovem, com mais de 20 anos, estuda teologia, conhece as realidades pastorais e, em ensaios sucessivos, vai descobrindo o que é revelar Jesus Cristo e animar uma comunidade da Igreja.

Estas etapas de formação sacerdotal, no Patriarcado de Lisboa vivem-se nos três seminários: Penafirme para o apoio ao pré-seminário, Caparide com anos de discernimento vocacional e Olivais, tempo forte de formação pastoral, indispensável para o exercício do sacerdócio.

2. A semana dos seminários tem este ano um lema: “Olhou-os com misericórdia”. Com este slogan entendem-se os olhares de Jesus. Os olhares de Jesus na narrativa evangélica são de extraordinário significado. São olhares de alegria ao chamar os pescadores Pedro, Tiago, João, André e Levi, o cobrador de impostos. Todos eles O seguiram sem condições. São olhares de compreensão e de muito carinho ao encontrar-se com Nicodemos, a mulher samaritana, a pecadora na casa de Simão, a mulher adúltera, e Marta e Maria que perderam o irmão. Jesus teve um olhar mais intenso para com o jovem rico quando ele lhe disse que queria ser perfeito, para com Pedro quando cruzou com ele no Pretório de Pilatos, para com o Cireneu e com a Verónica quando subia com a cruz para o Calvário. Todos estes foram olhares de misericórdia, de compreensão e de amor. Quando Jesus chama ao sacerdócio um dos muitos jovens que passam pelas nossas igrejas ou vivem nas nossas comunidades cristãs, o seu olhar é sempre um olhar de misericórdia.

. Misericórdia para acolher, quando o jovem se dá conta de que Jesus está a chamá-lo a uma missão diferente, a missão de O amar, de O celebrar e de testemunhar o Seu amor. 

. Misericórdia para escolher, quando no meio dos estudos, das festas, dos namoros, o jovem se dá conta de que há um ideal evangelizador a que é chamado e que seguir Jesus até ao fim é o maior desafio da vida.

. Misericórdia para aceitar uma entrega sem condições, dispondo-se a um discernimento profundo, feito à luz do Espírito. 

. Misericórdia para compreender e perdoar, quando no caminho para o sacerdócio há dificuldades que parecem intransponíveis, mas chegam a vencer-se. 

. Misericórdia para acompanhar os primeiros passos, no início da missão que a Igreja confia e que deve ser levada com alegria até ao fim. 

. Misericórdia para ajudar a perseverar sempre, ainda que no sacerdócio tenha havido incompreensões, tarefas difíceis, uma grande solidão e a dureza do trabalho que ao jovem padre foi confiado.

O olhar de Jesus, com misericórdia, dá coragem para uma consagração total no serviço da Igreja e do mundo. O olhar de Jesus é uma presença constante que liberta dos medos e dá coragem para realizar até ao fim a missão sacerdotal.

3. Nesta Semana dos Seminários, aos cristãos são pedidas muitas coisas. 

. Às famílias cristãs, que facilitem a eventual.l vocação dos seus filhos. 

. Aos grupos de jovens, em pastoral juvenil, que apontem a vocação sacerdotal como caminho de felicidade e de serviço aos outros. 

. Às comunidades cristãs, que motivem em toda a vida paroquial a mobilização dos jovens, para que descubram a alegria de servir Jesus, a Igreja e o mundo através da consagração sacerdotal. 

. Às escolas católicas que não deixem de provocar uma descoberta serena da vocação, a ponto de que alguns jovens façam opção por esta vocação sacerdotal. 

. Aos sacerdotes, que dêem testemunho de uma vocação vivida na entrega total a Jesus e ao serviço da Igreja e do mundo.

A oração de todos e a partilha de ofertas para os seminários vão permitir o aumento das vocações sacerdotais, com a certeza de que novos padres irão gerar novas comunidades cristãs e um mundo novo.

4. Há tempos atrás, surgiram muitas vocações sacerdotais na Comunidade Paroquial do Campo Grande. Todos recordamos o P. César, o P. Filipe, o P. Daniel, o P. Henrique, o P. Bernardo, o P. Valter. Neste momento, há alguns jovens da nossa comunidade nos seminários diocesanos. É o tempo de rezar dizendo “Senhor dá-nos sacerdotes, dá-nos muitos sacerdotes, dá-nos muitos e santos sacerdotes”.

Pe. Vitor Feytor Pinto - Prior

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