O CAMINHO SINODAL-15 de Novembro de 2015

1. Quando D. Manuel Clemente assumiu a missão de Patriarca de Lisboa que lhe foi confiada pelo Papa Francisco, logo propôs às comunidades cristãs a realização de um Sínodo Diocesano. Considerou então que era a melhor forma de procurar a renovação profunda da Igreja, desejada pelo Papa e anunciada na Exortação Pastoral Evangelii Gaudium. A renovação da Igreja não é uma revolução doutrinal ou pastoral, é antes um regresso à matriz comunitária da Igreja em que “todos estão unidos na doutrina dos apóstolos, na fracção do pão, na oração e no facto de todos porem em comum os seus bens para não haver necessitados” (cf Act 2, 42). A partir desse momento, todos os cristãos no Patriarcado de Lisboa e todas as suas comunidades ficaram envolvidas numa caminhada sinodal. Foi proposto um tema lindíssimo: “O sonho missionário de chegar a todos”. Pretende-se viver uma Igreja em saída para ir ao encontro de todos sem excepção. Deverá levar-se a todos a Pessoa de Jesus, sabendo que “não há outro nome no qual se possa ser salvo” (Act 4, 12). A perspectiva evangelizadora, vivida em chave de missão, é o grande desafio. Para conseguir viver este caminho foram consideradas cinco etapas que pouco a pouco se vão percorrendo. São tempos de encontro comunitário para reflectir em conjunto sobre a renovação concreta da Igreja, aqui, no Patriarcado de Lisboa.

. A transformação missionária da Igreja. É este o primeiro objectivo no projecto que pretende levar as comunidades cristãs ao encontro dos programas mais variados a implementar na cidade dos homens. A Igreja vira-se para o mundo com o objectivo de o salvar.

. A crise de compromisso comunitário. É essencial o conhecimento da realidade e é preciso ter em conta que o mundo não tem sentido comunitário, vivendo no meio de egoísmos individuais e de grupo. Daí resulta a economia que mata, o culto do dinheiro que sacrifica a pessoa, as desigualdades sociais e a exclusão de muitos. 

. O anúncio do Evangelho. Numa Igreja missionária, não basta o testemunho dos cristãos. Impõe-se o anúncio da Pessoa de Jesus Cristo e, depois, a proclamação dos valores do Evangelho. O kerigma consiste em anunciar Jesus pela primeira vez. O conhecimento de Jesus, logo depois, leva a reconhecer as situações que revelam a Boa Nova de que Jesus é portador. 

. A dimensão social da evangelização. Esta é talvez a maior originalidade da mensagem do Papa Francisco para a renovação da Igreja. A intervenção social impõe a solidariedade com os mais pobres e mais vulneráveis. Assisti-los é responder ao grande mandamento do amor que o Senhor nos ditou. É que a fé sem obras é mesmo morta (Tg 2, 17).

. Evangelizadores em Espírito. Todos os que são enviados a evangelizar têm de viver intensamente a sua vida de cristãos. De facto, “só os que se deixam conduzir pelo Espírito são, de verdade, filhos de Deus” (Rm 8, 14). É o Espírito Santo que conduz o evangelizador, para ser eficaz na proclamação da Boa Nova.

É este o caminho que as comunidades cristãs têm estado a percorrer. À luz da Evangelii Gaudium, propõe-se uma renovação profunda da vida do Patriarcado, no estilo da profecia, na forma da celebração ritual e na responsabilidade de resposta aos problemas sociais de quantos procuram a Igreja.

2. Num projecto desta grandeza é bom saber as linhas fundamentais do trabalho pastoral a desenvolver, tendo em conta objectivos muito claros, acessíveis e suficientemente eficazes. Foi isto que a assembleia sinodal do clero se propôs. São seis os pontos de referência para todo o desenvolvimento sinodal: 

. O desafio da fé, visto como incondicional adesão à Pessoa de Cristo, para O viver em todas as situações e O proclamar sempre que seja oportuno. 

. A importância da comunidade, uma vez que sem a dinâmica da relação humana de qualidade, se cairia num individualismo que torna difícil a interajuda, a solidariedade, a justiça e a paz. 

. A família cristã como fundamento da sociedade, lugar de amor entre as pessoas, espaço de educação integral e, sobretudo, oportunidade de ser feliz no dar e no receber. 

. O presbitério, isto é, o conjunto dos sacerdotes “em exercício”, de quem dependem as comunidades cristãs, na unidade, no anúncio da Palavra de Deus, na Eucaristia e na acção da caridade activa. 

. A sinodalidade é a relação constante das pessoas entre si em ordem à participação de todos na Igreja que se renova. Garante também a comunhão com o Bispo e a comunhão fraterna. 

. A missão como grande objectivo da comunidade cristã, missão que no caso presente constitui o apelo indispensável ao anúncio do Evangelho, quer pelo testemunho de vida dos cristãos, quer pela afirmação da fé em Cristo Jesus, razão de ser de qualquer cristão.

Estas linhas de força obrigam-nos a estar sempre vigilantes para conseguirmos um trabalho de renovação da vida da Igreja. Nem sempre será possível levar à prática estas coordenadas pastorais. Sem elas, porém, nunca se seria capaz “de introduzir Cristo em todas as coisas”, como diz S. Paulo.

3. O Sínodo Diocesano deve ser vivido na nossa Comunidade Paroquial do Campo Grande. Tem havido grupos que reflectem à luz dos guiões que nos chegam da coordenação diocesana. Vão surgindo ideias inovadoras que revelam a criatividade pastoral necessária para a Igreja e para o mundo. Levantam-se questões a que se pretende dar resposta. O essencial do nosso caminho sinodal pode, porém, referir-se a quatro pontos fulcrais: 

. A comunhão plena nas relações humanas e nos compromissos pastorais que se vão desenvolvendo. O acolhimento de todos como forma de abrir a comunidade a quantos a procuram, sabendo que há aqui muito para dar e muito para receber. 

. A missão evangelizadora, com a consciência de que todos são responsáveis pelo anúncio de Jesus Cristo Salvador quando realizam programas pastorais, criam ambiente fraterno, desenvolvem acções sociais e procuram ir ao encontro dos problemas da cidade. 

. A oração renovada quer na vida litúrgica de toda a comunidade, quer na espiritualidade de cada um assente na Palavra de Deus e expressa na sincera preocupação pelos outros.

Viver o Sínodo Diocesano é um desafio que o Patriarca, D. Manuel Clemente, nos fez. Vamos participar nele repensando a vida da nossa comunidade e também avaliando a verdade. da nossa vida cristã. Nos organismos, nos movimentos, nos grupos paroquiais, aceitemos pôr em questão o que fazemos e somos para, a partir daí, contribuirmos para uma Igreja renovada, à imagem do Papa Francisco, e que toda a gente entenda.

Pe. Vítor Feytor Pinto - Prior

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