1. O mundo inteiro está profundamente chocado com o que aconteceu em Paris, no passado dia 13 de Novembro. Foram sete ataques simultâneos a lugares de diversão absolutamente vulgares, na Cidade das Luzes: um estádio de futebol, uma sala de concertos, várias esplanadas e alguns cafés, tudo centros de convívio e de descontração, num serão de sexta-feira, depois de uma semana de trabalho. O resultado foi sendo conhecido pela noite adentro: 130 mortos, 352 feridos graves, alguns desaparecidos, todos vítimas de 9 terroristas, 7 dos quais imolados numa estranha atitude de vivência organizada. O problema da violência está na ordem do dia, como grande ideal político-religioso ou, simplesmente, como expressão de um revolta que consagra egoísmos sem fronteiras. É esta a geografia do problema.
. A violência do terrorismo urbano surpreende os mais pacatos cidadãos que ficam reféns de interesses obscuros. Sempre com homens e mulheres que se imolam como mártires de um ideal incompreensível.
. A violência nos transportes é muito frequente, seja nos aéreos com a explosão de aviões em pleno voo, seja nos terrestres em acidentes ferroviários ou desastres de automóvel provocados por velocidades excessivas.
. A violência doméstica tornou-se uma prática de desamor. Quantas mulheres e quantas crianças são vítimas dos maridos ou dos pais, muitas vezes por questões absolutamente ridículas.
. A violência verbal é uma constante no convívio entre as pessoas. Por divergências políticas ou até, simplesmente, por rivalidades desportivas, as pessoas são capazes de insultar-se com a maior facilidade. Os debates da televisão são disso um exemplo.
. A violência política faz parte da maneira de intervir na causa pública. Os partidos políticos, os sindicatos, as autarquias parece não sobreviverem se não ferirem de violência os adversários. Revela-se muitas vezes uma certa incapacidade de promover o bem comum.
A violência instalou-se na cidade. Será que não há alternativa para a normal relação entre as pessoas? Será que não é possível outra linguagem? Será normal esta forma de viver? A violência das palavras e das atitudes devem ser substituídas pela tolerância, pela convivência serena, pelo diálogo, pela solidariedade.
2. A violência só se vence com o amor. Se contrariar a violência é dever de cidadania, criar um clima de amor no mundo é responsabilidade de todos os cristãos. É tempo de levar à prática a oração de S. Francisco de Assis: “Senhor, fazei de mim um instrumento da vossa paz; onde houver ódio que eu leve o amor, onde houver ofensa que eu leve o perdão, onde houver discórdia que eu leve a união,…” Para vencer a violência e criar um mundo de ternura e de paz, é essencial assumir umas quantas atitudes:
. Mudança de cultura – a cultura do dinheiro, do poder, do prazer fácil gera agressividades constantes. Exige-se uma cultura em que a pessoa humana, com a sua dignidade e liberdade, ocupe sempre o primeiro lugar.
. Preocupação pelos valores humanos fundamentais – é urgente lutar pela verdade, pela justiça, pela liberdade, pela caridade e pela paz. Com razão João XXIII chamou a estes valores os pilares de uma nova civilização.
. Prioridade absoluta ao amor – só o amor verdadeiro, opção por fazer os outros felizes, poderá dar garantias de igualdade entre as pessoas. A relação universal de amor abre a porta ao perdão, à reconciliação e à unidade. Num mundo com amor, a violência desaparece. Ao contrário, a resposta com violência gera violência sempre maior.
. Gestos de paz – no mundo de hoje, é preciso afirmar que a paz é possível. Os tempos de silêncio em vez das grandes manifestações, as canções de alegria em vez dos cantos de reivindicação, a solidariedade para com os que sofrem em vez dos abandonos, a palavra proclamada nas tribunas mais altas a reclamar justiça, tudo são gestos indispensáveis para vencer a violência.
É tempo de multiplicar esforços para que todos se sintam envolvidos na preocupação comum de construir a paz. Não bastam as intenções que se repetem em cada novo atentado. Exige-se um processo de educação global para a não-violência que poderá mudar o rosto do nosso mundo. Com a intervenção de todos, em todos os lugares, o desafio da ternura, a capacidade da reconciliação, o diálogo amigo, contribuirão certamente para um mundo sem violência.
3. O que poderá cada um fazer para combater a violência e provocar, à sua volta, um clima de paz? “O que temos de fazer” perguntavam os judeus a Pedro quando este lhes anunciava a Ressurreição de Cristo, na manhã de Pentecostes. Hoje poderá perguntar-se, perante a violência o que deverá fazer o cristão? Que compromissos assumir? .
. Não ser violento nunca, nem em casa, na vida de família, nem no meio profissional, no trabalho diário, nem na relação social, com conhecidos e amigos, ao partilhar ideias nem sempre convergentes na política, no desporto ou noutros interesses.
. Ser solidário com todos os outros, sobretudo com os mais pobres, os mais vulneráveis pela idade ou pela doença, assumindo que a solidariedade consiste em viver como seus os problemas dos outros, para se empenhar a resolvê-los com toda a eficácia.
. Fazer do amor a meta fundamental para a vida, porque como diz S. Francisco de Assis: “é dando que se recebe, é perdoando que se é perdoado, é morrendo pelo outro que se vive para a vida verdadeira”.
. Assumir atitudes públicas que concorram para a promoção da paz – eis o que é exigido aos cristãos quando exercem funções de responsabilidade na vida política, social ou económica.
Vencer a violência e procurar construir uma sociedade de justiça e de paz constitui um desafio extraordinário para os cristãos.
4. Neste Dia de Cristo Rei, procurando um mundo novo, a nossa comunidade cristã, na Paróquia do Campo Grande, deve tornar-se núcleo de harmonia e de amor no atendimento, nos serviços a prestar, na alegria do dar, na capacidade de perdoar e, sobretudo, na preocupação de fazer todas as pessoas felizes.
Pe. Vítor Feytor Pinto - Prior