XIV DOMINGO DO TEMPO COMUM – 4 Julho de 2010

 «IDE (…).  NÂO LEVEIS BOLSA NEM ALFORGE NEM SANDÁLIAS (…). QUANDO ENTRARDES NALGUMA CASA; DIZEI PRIMEIRO : “PAZ A ESTA CASA”».

(Lc 10, 3-5) 

I LEITURA – Is 66, 10-14c

A alegria da salvação: «Farei correr para Jerusalém a paz como um rio».

SALMO – 65 (66), 1-3a. 4-5. 6-7a. 16e. 20 (R.1) 

Refrão: A terra inteira aclame o Senhor         

II LEITURA – Gal 6, 14-18

Tudo é vão, fora da relação com Cristo. E o encontro com Jesus Cristo faz-se na cruz

EVANGELHO – Lc 10, 1-12. 17-20

Quem quiser anunciar Jesus Cristo liberte-se primeiro da bolsa e do saco. E seja homem de paz.

Para leitura dos textos  litúrgicos clique aqui 

XIV DOMINGO DO TEMPO COMUM 

           Em 587 a.C., Jerusalém é destruída, o Templo é arrasado, a população é deportada para a Babilónia. 50 anos depois, um novo rei liberta os judeus e convida-os a reconstruir Jerusalém. Mas o povo perdeu a confiança e a alegria, gasta-se agora em pequenas querelas. Surge um novo profeta a unir as vontades e a semear a esperança. Nada sabemos a respeito deste profeta, senão que os contemporâneos viram nele um novo Isaías. Os capítulos 55 a 66 do Livro de Isaías são, realmente, as intervenções deste novo profeta. É dele a palavra da Primeira Leitura, que às vezes cantamos  na missa das crianças: “A paz vai correndo como um rio…” (Is 66,10-14).

          A Segunda Leitura é o remate da Epístola aos Gálatas: nenhum cristão ponha a esperança nas práticas da Lei antiga: “Longe de mim encher-me de glória a não ser na cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo.” (S.Paulo ditava as epístolas e, às vezes, como neste caso, escrevia o remate com o seu próprio punho). (Gal 6,14-18).

          O Evangelho conta que Jesus, nos últimos meses da sua estada neste mundo, enviou em missão um grupo numeroso de discípulos (“setenta e dois”, número porventura simbólico). Tinha a consciência de que eles sabiam pouco, mas confiou na sua generosidade. São significativas as recomendações que lhes faz: não levem bolsa, nem alforge, nem sandálias; não gastem tempo com as infinitas conversas de cortesia que os judeus tinham ao encontrar conhecidos; aceitem a hospitalidade que lhes for oferecida, não procurem outra melhor; cuidem dos doentes; e anunciem que o Reino de Deus chegou. (Luc 10,1-20).

          Hoje, estamos presos das nossas comodidades; vamos de automóvel ou avião; nem sempre distinguimos o que é um consumo inteligente e justo de meios de comunicação e o que é a propaganda segundo os critérios do marketing. Temos demasiado senso político, a ponto de vendermos a sobrevivência de pequenas comunidades pelo preço da tolerância relativamente a comunidades maiores. Não nos convencemos ainda de que o serviço dos doentes e dos pobres não é uma manobra de simpatia, é a própria essência da vida cristã. Parece que nem nós mesmos acreditamos suficientemente que o Reino chegou.

          A pergunta é velha de vinte séculos: como se anuncia o Reino de Deus? Não custa responder que é fazer como Jesus. Mas os contextos são diferentes. Paulo, Agostinho, Bento, Francisco de Assis, Domingos, Inácio de Loyolla, Francisco Xavier, Teresa de Jesus, Vicente de Paulo, Teresa de Calcutá, … , deram respostas, certamente parcelares,  fundamentalmente correctas.

          Como eles, temos de entender o projecto de Jesus e entender os anseios, as dificuldades, as carências e as tentações dos homens e mulheres, das crianças, dos jovens, dos adultos e dos velhos do nosso tempo. Como eles, temos de perder a vaidade e falar com simplicidade e limpidez. Como eles, temos de aceitar o triunfo e a derrota, a aceitação e a rejeição, como acidentes sem valor. Uma só coisa nos interessa, servir o Senhor e servir os irmãos, amar o Senhor e amar os irmãos.

          Importa não atraiçoar nunca a verdade, mesmo em coisas mínimas, na esperança de aplanar o caminho. Mas importa igualmente não fechar o caminho aos corações rectos apresentando como sendo de Cristo coisas que não passam de tradições humanas. A Epístola aos Gálatas recorda que o grupo cristão conservador fechava o caminho à conversão dos pagãos insistindo na circuncisão e em interditos alimentares – que talvez tivessem sido úteis na peregrinação pelo deserto. A questão é saber se não conservamos ainda hoje prescrições com motivações deste tipo.

Pe.João Resina (in Palavra no Tempo II)

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