X DOMINGO DO TEMPO COMUM – 6 de Junho de 2010

«JOVEM, EU TE ORDENO: LEVANTA-TE».

(Lc 7, 14)

I LEITURA – 1 Reis 17, 17-24

A ressurreição (ou talvez a cura) duma criança pelo profeta Elias.

SALMO – 29 (30), 2.4-6. 11-12a. 13b (R. 2a)

Refrão: Eu vos louvarei Senhor, porque me salvastes.

II LEITURA – II Gal 1, 11-19

S. Paulo insiste com os gálatas: não lhes não lhes pregou a sua interpretação, ou a interpretação dos Apóstolos, transmitiu-lhes o que ouviu ao próprio Cristo.

EVANGELHO – Lc 7, 11-17

A ressurreição do filho da viúva de Naim

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X DOMINGO DO TEMPO COMUM

          A primeira Leitura fala da ressurreição do filho de uma viúva, cerca de 900 a.C., pelo Profeta Elias; O Evangelho narra a ressurreição do filho de uma viúva, em Naim, por Jesus.

          A vida é para todo o ser humano o primeiro dom, a condição de todos os outros dons. Mas nós, cristãos, acreditamos mais: acreditamos que esta vida é o início de uma vida que não terá fim.

          Partindo da ideia de que a duração desta vida é desprezável em comparação com a vida eterna, houve cristãos que resolveram “ignorar” os bens da Terra e aplicar-se aos bens do Céu. Inversamente, houve sempre aqueles descrentes para quem esta vida é a única coisa segura e a ocasião, que não se repetirá, de obter alguma felicidade.

          Parece-me que o evangelho não apoia nenhuma destas duas perspectivas. Quando Jesus ressuscita aquele jovem, filho único da viúva de Naim, apoia a convicção espontânea de que a vida é um bem. Mas o mesmo Jesus ensina que de nada vale ganhar o mundo inteiro e perder, depois, a verdadeira vida (Cf. Mc 8, 36).

          Note-se bem que Jesus nunca ensinou que o homem pode comprar a vida eterna fazendo “obras religiosas”, desligadas do contexto humano. A este respeito, é fundamental o capítulo 25 do Evangelho segundo S. Mateus. Jesus comunica-nos antecipadamente o “ponto” do exame final: há-de vir um dia julgar os homens, porá uns à sua direita, outros à sua esquerda. E dirá aos da sua direita: “Vinde, benditos de meu Pai, tomai a posse do Reino que vos está preparado desde a criação do mundo. Porque tive fome e destes-me de comer, tive sede e destes-me de beber, estava sem casa e acolhestes-me, estava nu e destes-me roupa, estive doente e visitastes-me estive preso e fostes ver-me”. E aos da esquerda: “Afastai-vos de mim, malditos, … porque tive fome e não me destes de comer, …”. Uns e outros hão-de perguntar-Lhe: “Senhor, quando é que te vimos com fome…?”, uns e outros ouvirão a resposta: “Sempre que o fizestes (o não fizestes) ao mais pequeno dos meus irmãos, foi a mim que o fizestes (o não fizestes)!”. Este texto só aparentemente ignora a “religião”: é que Deus recebe o amor aos nossos irmãos como amor a Ele próprio. Este texto, que indica o caminho da vida eterna, é, ao mesmo tempo, a consagração da vida mortal: é aqui aqui que damos ou deixamos de dar pão a quem tem fome, é aqui que nos vamos tornando parecidos, ou definitivamente diferentes, de Jesus Cristo. Julgo, de resto, que este texto não contém uma enumeração taxativa. é importante amar os pobres, é também importante amar aqueles que já são nossos a título de família ou de amizade, aqueles com quem constituímos uma comunidade de trabalho ou comunidade política. E é a qualidade dessa relação que nos aproxima ou nos afasta de Deus. Digamos mais: não são “duas” vidas, a deste mundo e a vida eterna. É uma vida, que começa e se define aqui, e depois desabrocha na eternidade.

          Para o cristão, a grande referência não são os enunciados dos catecismos, é a vida e a morte de Jesus da Nazaré. Jesus viveu uma existência singelamente austera, diferente da austeridade violenta de João Baptista. Conviveu com os seres humanos, na amizade e na limpidez. Não desafiou a morte, mas aceitou-a como risco constante. Viveu uma relação total com o seu Pai; mas, tanto quanto podemos adivinhar, sóbria e, às vezes, envolta em escuridão. Não negociou. Não negociou políticas com os poderosos da Terra, nem negociou a salvação dos homens com seu Pai. Viveu a direito, amou “até ao fim” (Jo 13, 1). Pagou a factura: o preço que se cobra neste mundo a quem viva sem negócio.

P.e João Resina Rodrigues (in a Palavra no Tempo II)

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