CORPO DE DEUS – 3 de Junho de 2010

“TODOS COMERAM E FICARAM SACIADOS; E AINDA RECOLHERAM DOZE CESTOS DOS PEDAÇOS QUE SOBRARAM”.

( Lc 9, 17)

I LEITURA – Gen 14, 18-20

“Melquisedec, rei de Salém, trouxe pão e vinho. Era sacerdote do Deus Altíssimo e abençoou Abraão (…)”.

SALMO – 109 (110), 1-4 (R. 4bc)

Refrão: O Senhor é sacerdote para sempre

Ou:         Tu és sacerdote para sempre, segundo a ordem de Melquisidec

II LEITURA – 1 Cor 11, 23-26

A instituição da Eucaristia

EVANGELHO – Lc 9, 11b-17

A multiplicação dos pães

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CORPO E SANGUE DE CRISTO

          Judeus, cristãos e muçulmanos crêem num só Deus. Para os judeus e para os muçulmanos, Deus é tão transcendente que lhes parece absurda a ideia da Encarnação. Nós, cristãos, também professamos a transcendência de Deus; mas acreditamos que Ele é tão transcendente que não fica diminuído para vir ao nosso encontro. Tomar a condição humana e morrer na cruz não é indigno de Deus, tem mesmo a sua marca. A Eucaristia insere-se nesta mesma lógica. Aquele que é o Infinito não se diminui ao tornar-se presente num pedaço de pão e num cálice de vinho.

          Jesus, Filho de Deus feito homem, colocou-se ao pé de nós para nos falar de Deus. Não precisou de estrado, nem de púlpito, muito menos de cátedra. Conviveu com os pobres, com os leprosos, com os ignorantes, com os marginalizados. Por isso foi capaz de dizer aos publicanos e às mulheres da rua que não estavam excluídos do Reino de Deus.

          Usou as nossas palavras, preferindo as mais simples. Sabia que os homens se não sentem felizes, e gostavam de o ser. Numa das suas primeiras pregações, disse, em todo o caso, que os felizes não são os ricos, os poderosos, os que têm tudo ao seu alcance. São, para o coração de Deus, os pobres, os que choram, os humildes, os puros de coração, aqueles que trabalham pela justiça e pela paz, mesmo enfrentando o risco da perseguição.

          Sabia que as palavras não são a única maneira de comunicar. Pousou a mão na cabeça dos leprosos, sentou à sua mesa os pecadores que nem tinham coragem para falar das suas vidas.

          As religiões, e nomeadamente a religião de Israel, realizavam cerimónias. Nelas tinha lugar importante o sacrifício, a oferta de um bem da terra de que nos desligávamos em sinal de oferta a Deus. A cerimónia mais importante entre os judeus era a Ceia Pascal. Um jantar de família, com o qual se comemorava a libertação do cativeiro no Egipto e a Aliança com Deus. Era “sacrificado” um cordeiro: desta vez para alimento de todos.

          “Antes da Festa da Páscoa” (Jo 13.1), Jesus vê que está cercado e pressente que vai morrer. O Reino tem de prosseguir. Nunca foi projecto de Jesus imitar os ditadores da Terra e tentar eternizar a sua obra construindo uma máquina política que se impusesse pela força. Espera que os que acreditam nEle e os que vão acreditar queiram unir-se numa Igreja. Nessa Igreja haverá uma hierarquia, mas o papel principal vai caber ao Espírito Santo: que convidará todos e cada um à fidelidade viva, aquela que tem origem no amor e é expressão da liberdade.

          “Antes da Festa da Páscoa”, na véspera da sua morte, Jesus ceia com os discípulos. Parecia a Ceia Pascal dos judeus. Mas era, realmente, a sua Ceia de despedida e a celebração da Nova Aliança. Jesus disse sobre o pão: “Isto é o meu corpo” e sobre o vinho: “Isto é o meu Sangue”. Disse, e nós acreditamos. Acrescentou: “Façam isto em memória de Mim” (Mt 26, 26-27; Mc 14, 22-24; Lc 22, 14-20; I Cor 11, 23-26).

          Desde o princípio, os cristãos entenderam que a recitação do Credo em comum e a celebração da Eucaristia são o alimento da fé. Em todas as missas, a Igreja invoca explicitamente o Espírito Santo para que nos dê a Eucaristia; e, ao menos implicitamente, para que torne vivas as nossas comunidades.

          Infelizmente, nós secamos a Eucaristia fazendo dela uma “obrigação dominical” e o rito mais comum para celebrar todo o acontecimento, seja triste, seja festivo. E não temos padres que cheguem para celebrar a Eucaristia de maneira mais singela com todas as pequenas comunidades que querem caminhar com o Senhor. Precisamos de mudar!

P.e João Resina Rodrigues (in a Palavra no Tempo II)

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