(Lc 10, 41-42)
I LEITURA – Gen 18, 1-10a
A hospitalidade de Abraão é recompensada por Deus.
SALMO – 14 (15), 2-3a. 3cd-4ab. 5 (R. 1a)
Refrão: Quem habitará, Senhor, no vosso santuário?
Ou: Ensinai-nos, Senhor: quem habitará em vossa casa
II LEITURA – Col 1, 24-28
“Agora alegro-me com os sofrimentos que suporto por vós e completo na minha carne o que falta à paixão de Cristo, em benefício do seu corpo que é a Igreja.”
EVANGELHO – Lc 10, 38-42
Marta e Maria
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A Tradição cristã apoiou-se no texto deste Evangelho para afirmar que a “vida contemplativa” é mais nobre que a “vida activa”. Mas comecemos por ler o texto.
As irmãs Maria e Marta convidaram Jesus para jantar. O Evangelho de S. João diz que Jesus era amigo desta família (Jo, 11-5). Quando Ele chega, Maria senta-se a seus pés a ouvi-lo, Marta continua afadigada na cozinha. “Interveio então e disse: «Não Te importas que minha irmã me tenha deixado só a trabalhar? Diz-lhe que venha ajudar-me!»O Senhor respondeu-lhe: «Marta, Marta, tu te inquietas e te agitas por muitas coisas; no entanto pouca coisa é necessária, até mesmo uma só. Maria, com efeito, escolheu a melhor parte, que lhe não será tirada».
Há quem entenda a palavra “pouca coisa é necessária” como significado que só o diálogo com Deus é fundamental; e há quem pense que Jesus está a dizer a Marta que basta um prato para jantar. Como quer que seja, diz-lhe que dê por terminado o trabalho da cozinha e venha conversar. Foi para conversar com elas que Ele aceitou o convite.
Põe-se então a pergunta: que é que o Senhor mais agradece, que façamos obras ou que conversemos com Ele?
Talvez a resposta não possa ser taxativa. Toda a relação, e também a relação com Deus alimenta-se de aspectos complementares. “o amor e uma cabana” morre por falta de condições materiais. Um casamento em que só se pense no aumento da riqueza sossobra por falta de amor.
Jesus gastou tempo e energia a anunciar o Reino de Deus; mas encontrou tempo para manter vivo o diálogo com seu Pai e com o Espírito Santo, encontrou tempo para estabelecer a amizade com os homens e mulheres que encontrou no seu caminho. E pede o mesmo de nós.
Há momentos privilegiados em que pode cessar tudo menos a relação pessoal. Isso acontece no amor humano e pode acontecer na oração. Maria senta-se aos pés de Jesus para O ouvir, Jesus gostaria que Marta fizesse o mesmo. Na branda crítica que lhe dirige, convida-a a imitar a irmã. Por outro lado, como ficou dito, esses momentos privilegiados não dispensam o cuidado de construir a vida. Há o trabalho, há o empenhamento com os pobres, há a luta por mais justiça e mais paz, …
Em geral, rezamos pouco: não temos tempo; e ninguém nos ensinou a rezar. Todavia, aqueles que começaram e insistiram em rezar (cristãos e não cristãos) descobriram que a oração é como que “um tesouro escondido num campo” (cf. Mt 13, 44). E, em alguns, cresce o sonho de um dia “vencer tudo” e comprar esse campo.
Tendo havido, dentro e fora do cristianismo, homens e mulheres que enveredaram por um caminho de consagração a Deus, em que a oração – contemplação tem um lugar de relevo. Acho pouco importante averiguar se são ou não são os mais perfeitos. Felizes deles, em todo o caso, se enveredaram por este caminho sem zangas contra a condição humana e, nesse espaço a sós com Deus, foram aprendendo a parecer-se mais com Ele. Depois houve alguns que nos explicaram o Evangelho de maneira convincente e singela, houve alguns que se dedicaram aos pobres com extrema generosidade…
Na Igreja precisamos de ter, ao mesmo tempo, uma imensa consciência da nossa condição imperfeita e um extremo respeito pelos dons que se manifestam nos nossos irmãos. De vez em quando, há vidas que nos deslumbram. Sem deixar de reconhecer que somos todos pecadores, apetece-nos dar glória a Deus por essas vidas.
P.e João Resina Rodrigues (in a Palavra no Tempo II)