NO GRANDE CENÁCULO DO ANO SACERDOTAL – 13-06-2010

CARTA DE ROMA

Queridos Amigos,

1. Escrevo de Roma, onde estou a participar num encontro de sacerdotes que marcará o fim do Ano Sacerdotal. Como sabem, este ano foi considerado “Jubilar”, pois nele se comemoram os 150 anos da morte do santo Cura d’Ars, modelo de sacerdote. O Papa Bento XVI quis encerrar o ano sacerdotal com um “grande cenáculo”, tempo de fraternidade, de reflexão e oração. Estamos quase 8.000 sacerdotes, dos cinco continentes, representando umas centenas de países. Não podem imaginar a alegria que sentimos, estando lado a lado, padres mais novos e mais velhos, padres diocesanos e religiosos, padres cheios de vida e outros já cansados por inúmeros caminhos. Durante estes três dias em Roma, 9, 10, 11 de Junho, reunimo-nos em duas das Basílicas de Roma: S. Paulo fora de Muros e S. João de Latrão. É nesta que estou a viver cada momento deste grande encontro.

A Basílica de S. João de Latrão é a cátedra da Diocese de Roma, o que a coloca acima de todas as Igrejas do mundo. É aqui que se reúnem 50% dos 7.500 padres inscritos neste “cenáculo”. Temos três grandes temas de reflexão:

· Conversão e missão – Só um coração radicalmente convertido ao Senhor Jesus Cristo, em caminho de santidade, será capaz de viver a missão de ir por todo o mundo anunciar a Boa Nova. O próprio Jesus dissera a Pedro: “E tu, uma vez convertido, confirma os teus irmãos” (Lc 22, 32).

· Invocando o Espírito Santo com Maria, em fraterna comunhão – “O amor está difundido nos nossos corações, pelo Espírito Santo que nos foi dado” (Ro 5,5). Esta certeza cria relação de amor no presbitério, de tal forma que nenhum sacerdote fica sozinho, quanto ao serviço do Reino, com Maria Mãe de Jesus.

· Com Pedro, em comunhão eclesial – A vida, na comunidade cristã, é uma vida em comunhão. “Que a minha comunhão convosco seja também comunhão com o Pai e seu Filho Jesus Cristo” (1 Jo 1,3). Esta densidade da unidade eclesial é parte integrante do sacerdócio, também ele gerador de unidade.

No último dia, na Praça de S. Pedro, celebraremos a Eucaristia com Bento XVI. É o momento mais alto deste nosso cenáculo.

2. A ideia da comunhão sacerdotal é a marca destes dias do Ano Sacerdotal. De facto, no dia da ordenação sacerdotal, o padre afirma a sua comunhão com o Bispo e, através dele, a sua união a todo o presbitério. “Prometes-me obediência e reverência” pergunta o Bispo, ao que o jovem padre responde: “Prometo”. Esta obediência e reverência outra coisa não são do que a entrega da inteligência e da vontade na missão que ao padre é confiada. Esta comunhão total é indispensável, é o grande sinal da unidade. Ao longo da minha vida tenho sentido, de muitas formas, o desafio desta comunhão total.

· Recordo o Bispo que me ordenou, D. Domingos, Bispo da Guarda. Chamou-me para trabalhar com ele. Acompanhei os seus sonhos, as suas esperanças, como as suas desilusões e sofrimentos. Foi um tempo de entrega total.

· Recordo o Padre Manuel, depois Bispo de Nampula. Durante seis anos, em trabalho lado a lado, recriei o sacerdócio e descobri as alegrias do serviço radical aos outros. Como ele me disse, em cartão que me enviou: “Nunca queiras nada, serve sem medida”.

· Recordo também o Padre Armindo, que um dia me acolheu no Campo Grande e me aceitou para celebrar, em cada domingo, a Eucaristia do Campo Grande. E a comunhão foi tal que acabei por ficar, para continuar o milagre da Igreja na cidade.

· Recordo ainda o Padre João, que agora nos deixou. Durante duas dezenas de anos foi confidente a quem confiava dificuldades, mas foi também exigente no pensar e sonhar ministério, e foi sobretudo exemplo de desprendimento, de pobreza, de disponibilidade total.

Falar de comunhão sacerdotal reclama descobrir quem nos ajudou a caminhar e, ao mesmo tempo, reclama também saber a quem podemos apoiar nas sendas do sacerdócio.

3. Nestes dias de Roma, o cenáculo é sobretudo um tempo de retiro espiritual e de oração comprometida. Três marcas podem ficar do ano sacerdotal:

· A referência constante à pessoa de Jesus. A vida sacerdotal não assenta em doutrinas ou preceitos, radica na pessoa viva de Jesus que dá sentido a todos os momentos do sacerdócio. A minha vida está n’Ele.

· A fidelidade à missão. Só o amor é garantia de fidelidade. E porque se ama o que se é e o que se faz, a eficácia da missão está garantida. Assim eu saiba amar.

· A oração pessoal intensa. Sem tempos de intimidade com Deus, sem a experiência vital de Deus, não é possível ser fiel e realizar a missão que me é confiada.

Esta trilogia simples pode ser a conclusão a tirar deste cenáculo sacerdotal que agora se abriu em Roma e a que eu tenho o privilégio de participar.

4. Queridos Amigos, durante esta semana no centro da cristandade terei sempre presente a nossa comunidade paroquial de Campo Grande. Desejo que continuemos unidos, pedindo ao Senhor que nos dê sacerdotes, para que a nossa missão possa chegar mais longe.

Muito unido no Senhor Jesus Cristo.

O Prior – Monsenhor Vitor Feytor Pinto

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