PASSOU PELA NOSSA PARÓQUIA FAZENDO O BEM – 06-06-2010

1.  O dia do Corpo de Deus, na nossa paróquia do Campo Grande, foi este ano diferente. Pelas 10 da manhã, no hospital de S. José, o Padre João não resistiu aos sofrimentos dos últimos meses e partiu ao encontro de Deus. Não podia ter um dia mais bonito para celebrar a ressurreição. Ele sabia que “a vida não acaba apenas se transforma e, desfeita a tenda do exílio terrestre, adquirimos no céu uma habitação eterna” (2 Cor 5,1). Então, nesta Festa do Corpo e Sangue de Cristo, o Padre João foi celebrar no Céu o banquete eterno, a Eucaristia definitiva. Ele conhece, hoje, em toda a sua plenitude, a glória do Cordeiro. A 17 de Dezembro passado, com uma queda na rua, começou o calvário do Padre João Resina. Um hematoma extensíssimo, uma cirurgia de risco e, depois, um coma de quase seis meses.

• Depois desta situação extrema, em inconsciência profunda, com total incapacidade de comunicação, sem poder responder a familiares e amigos,

• Depois de intensos cuidados médicos, no Curry Cabral, em S. José e no Hospital do Mar,

• Depois das inúmeras visitas das pessoas mais próximas que, sem grandes sinais, procuravam adivinhar sentimentos e expressões, sorrisos e angústias,

• Depois do carinho dos irmãos que o não deixaram um único momento e tudo fizeram para o trazer de novo à vida,

• Depois do Sacramento da Unção dos Doentes e das muitas orações repetidamente feitas na Comunidade Paroquial,

após todas as incertezas e as esperanças, abriram-se para o Padre João Resina as Portas do Paraíso. Vale a pena rezar: “As portas da nova cidade abrem-se para ti. Deus é Pai, é Amigo, salvar-te-á.”

2.  O Padre João nunca gostou de homenagens, nem quando se jubilou, deixando de ser professor no Técnico, nem quando completou 50 anos de Sacerdócio. Nunca quis mais que uma Eucaristia de Acção de Graças e uma refeição de amigos. Nem ‘prendas’, nem ‘discursos’, nem outras expressões de festa. É claro que não pode fazer-se agora uma homenagem póstuma. Mas é muito bom recordar o Padre João.

• Foi um sacerdote com total entrega à sua missão: em Belém, com o Padre Felicidade; na Capela do Rato em tempos muito difíceis; em S. Nicolau e em Moscavide, com responsabilidades pastorais acrescidas; aqui na nossa comunidade paroquial do Campo Grande que acumulou com a Paróquia da Cruz Quebrada; em tudo sempre o mesmo pastor.

• Foi um cientista de extraordinário rigor, desde Lovaina onde se doutorou, ao Instituto Superior Técnico onde ensinou e à Universidade Católica, com os seus vários institutos, onde ajudou a formar profissionais de qualidade.

• Foi um pensador de rara cultura publicando artigos, proferindo conferências, escrevendo livros, dando opinião, comunicando as suas reflexões que se repercutiam depois na prática de muitos.

• Foi um catequista de rara intuição, abrindo caminhos novos na transmissão da Palavra de Deus a crianças e a adultos, para a descoberta da fé cristã, como razão de viver. No Campo Grande rasgou horizontes, formou pessoas, iniciou uma catequese para o futuro, provando que ciência e fé se não contradizem.

• Foi um amigo único, no estar, no respeitar, no conviver e no servir. Se amar é fazer felizes os outros, o Padre João teve atenção com todos, relacionando-se com cada um segundo a sua cultura, a sua sensibilidade, a sua fascinação pelo belo, pela riqueza que cada pessoa trazia consigo.

• Foi um homem de oração que se perdia, noite adentro, com um pequeno grupo de amigos, a conversar com Deus, na capela do quinto andar aqui na Paróquia. Gostava muito de fazer silêncio, cultivando a intimidade máxima com o Senhor a quem deu a vida.

O Padre João foi um homem de Deus, é a síntese que resume toda a sua vida pessoal, quer na cultura, na ciência, na filosofia, quer na sua fé, no seu sacerdócio, na sua acção pastoral.

3.  Nos últimos trinta anos, o Padre João Resina foi nosso companheiro de caminho ao serviço da Comunidade Paroquial do Campo Grande. Estou certo de que não partiu. Como acreditamos na vida eterna, compreendemos a morte, o maior limite, mas cremos também na ressurreição, o maior desafio. De certeza que o Padre João junto de Deus vai acompanhar dia a dia a vida da nossa comunidade. Mais do que pedirmos para ele a paz, queremos pedir-lhe que junto de Deus peça por nós, pelo nosso trabalho e por todos os que, de qualquer maneira, recorrem à nossa comunidade.

Padre João, até breve!

O Prior – Monsenhor Vitor Feytor Pinto

Comments are closed.