UMA ALIANÇA PARA SEMPRE – O tempo da Quaresma, em chave de conversão, supõe que o cristão se dispõe a reencontrar-se com Deus numa atitude de radicalidade. É, de alguma maneira, fazer na caminhada quaresmal, uma nova aliança com Deus, reafirmando a decisão de percorrer sempre os caminhos do Evangelho. Se para Jesus chegou a hora, como diz o Evangelho, também para o cristão chegou o tempo de ver Jesus e com Ele se identificar plenamente. No Evangelho, alguns gregos vão ter com Filipe para lhe dizer: “queremos ver Jesus”(Jo 12, 21). Isto significava que queriam conhecer Jesus, eventualmente para o seguir. O tema da aliança reafirmada é um tema incontornável no tempo da Quaresma. Será que cada cristão vive ao ritmo da aliança que no Batismo Deus firmou com ele? Para dar resposta a esta questão vale a pena ler os textos da Palavra de Deus deste domingo. Em Jeremias reflete-se a aliança universal de Deus com os israelitas, já que têm a Lei gravada no seu coração (1ª leitura). Em Hebreus percebe-se que é necessário um sinal da aliança e que esse sinal não pode ser outro senão a Pessoa de Jesus Cristo (2ª leitura). Finalmente, no Evangelho compreende-se que a morte é fonte de vida e que a morte de Jesus é o caminho para a Vida verdadeira que cada cristão celebrará na ressurreição prometida. “Se o grão de trigo não morrer não pode dar fruto” (Jo 12, 24).

1. A aliança de Deus com Israel
Repetidas vezes Deus firmou aliança com o seu povo. Em Abraão, na noite da libertação do Egipto, no Monte Sinai, no reinado de David, após a Babilónia e muitas outras vezes. O povo era infiel e Deus nunca se cansou de perdoar. Apesar das revoltas contra Javeh, a Lei continuava gravada na alma do povo. Por isso o Senhor pôde dizer: “Eu serei o seu Deus e eles serão o meu povo” (Jr 31, 33). Esta fórmula da aliança, outra coisa não era do que o perdão radical. O fundamento da aliança é apenas o amor incansável de Deus.

2. Chegou a hora
O Evangelho deste domingo é de uma riqueza espiritual invulgar. Primeiro, alguns gregos queriam ver Jesus e pediram ajuda a Filipe e a André. Para dar-se a conhecer, Jesus tem para os discípulos e para os outros, mensagens de extraordinária importância reveladas em três momentos da sua vida: a certeza da morte, o serviço da sua causa e a vontade expressa do Pai. O mistério da sua morte “se o grão de trigo não morrer não pode dar fruto”, é este o desfecho final da sua vida, antes da ressurreição. A importância do serviço: “quem me quiser servir, vai aceitar perder, porque quem ama a sua vida acaba por perdê-la, e quem dá a sua vida é quem ganha de verdade” (cf Jo 12, 25). Abandonado completamente ao querer do Pai, Jesus sabe que chegou a sua hora e aceita-o incondicionalmente, sabendo, porém, que do alto da cruz atrairá todos a Si (cf Jo 12, 32). Estas três ideias permitem compreender que a hora de Cristo é também a nossa hora. Pela sua morte, a todos Ele dá a vida. Ele é o sinal da Aliança.

3. Cristo é o sinal da aliança nova
A Carta aos Hebreus completa, para os homens de hoje, a ideia do Evangelho. De facto, Cristo é o sinal da Nova Aliança, por isso relaciona-se com o Pai em súplicas constantes, para que o homem seja salvo. Aceita o sofrimento como forma de obediência ao Pai e assume-se como causa da salvação. Por Cristo, com Cristo e em Cristo o novo povo de Deus firmou uma aliança eterna e é nela que todos são salvos.

Monsenhor Vítor Feytor Pinto

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LITURGIA DA PALAVRA:

SE O GRÃO DE TRIGO, LANÇADO À TERRA, NÃO MORRER, FICA SÓ;

MAS SE MORRER, DARÁ MUITO FRUTO”

(Jo 12, 24)

I LEITURA – Jer 31, 31-34

“Todos eles Me conhecerão (…). Porque vou perdoar os seus pecados e não mais recordarei as sua faltas.”

Leitura do Livro de Jeremias
Dias virão, diz o Senhor, em que estabelecerei com a casa de Israel e com a casa de Judá uma aliança nova. Não será como a aliança que firmei com os seus pais, no dia em que os tomei pela mão para os tirar da terra do Egipto, aliança que eles violaram, embora Eu tivesse domínio sobre eles, diz o Senhor. Esta é a aliança que estabelecerei com a casa de Israel, naqueles dias, diz o Senhor: Hei-de imprimir a minha lei no íntimo da sua alma e gravá-la-ei no seu coração. Eu serei o seu Deus e eles serão o meu povo. Já não terão de se instruir uns aos outros, nem de dizer cada um a seu irmão: «Aprendei a conhecer o Senhor». Todos eles Me conhecerão, desde o maior ao mais pequeno, diz o Senhor. Porque vou perdoar os seus pecados e não mais recordarei as suas faltas.
Palavra do Senhor.

SALMO – 50 (51), 3-4.12-13.14-15 (R. 12a)

 Refrão: Dai-me, Senhor, um coração puro. Repete-se

Compadecei-Vos de mim, ó Deus,
pela vossa bondade,
pela vossa grande misericórdia,
apagai os meus pecados.
Lavai-me de toda a iniquidade
e purificai-me de todas as faltas. Refrão

Criai em mim, ó Deus, um coração puro
e fazei nascer dentro de mim um espírito firme.
Não queirais repelir-me da vossa presença
e não retireis de mim o vosso espírito de santidade. Refrão

Dai-me de novo a alegria da vossa salvação
e sustentai-me com espírito generoso.
Ensinarei aos pecadores os vossos caminhos
e os transviados hão-de voltar para Vós. Refrão

II LEITURA – Hebr 5, 7-9

“Apesar de ser Filho, aprendeu a obediência no sofrimento“.

Leitura da Epístola aos Hebreus
Nos dias da sua vida mortal, Cristo dirigiu preces e súplicas, com grandes clamores e lágrimas, Àquele que O podia livrar da morte e foi atendido por causa da sua piedade. Apesar de ser Filho, aprendeu a obediência no sofrimento e, tendo atingido a sua plenitude, tornou-Se para todos os que Lhe obedecem causa de salvação eterna.
Palavra do Senhor.

ACLAMAÇÃO ANTES DO EVANGELHO – Jo 12, 26

Refrão: Louvor a Vós, Jesus Cristo,
Rei da eterna glória. Repete-se

Se alguém Me quiser servir,
que Me siga, diz o Senhor,
e onde Eu estiver, ali estará também o meu servo. Refrão

EVANGELHO – Jo 12, 20-33

Jesus anuncia aos discípulos a sua morte e glorificação.

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João
Naquele tempo, alguns gregos que tinham vindo a Jerusalém para adorar nos dias da festa, foram ter com Filipe, de Betsaida da Galileia, e fizeram-lhe este pedido: «Senhor, nós queríamos ver Jesus». Filipe foi dizê-lo a André; e então André e Filipe foram dizê-lo a Jesus. Jesus respondeu-lhes: «Chegou a hora em que o Filho do homem vai ser glorificado. Em verdade, em verdade vos digo: Se o grão de trigo, lançado à terra, não morrer, fica só; mas se morrer, dará muito fruto. Quem ama a sua vida, perdê-la-á, e quem despreza a sua vida neste mundo conservá-la-á para a vida eterna. Se alguém Me quiser servir, que Me siga, e onde Eu estiver, ali estará também o meu servo. E se alguém Me servir, meu Pai o honrará. Agora a minha alma está perturbada. E que hei-de dizer? Pai, salva-Me desta hora? Mas por causa disto é que Eu cheguei a esta hora. Pai, glorifica o teu nome». Veio então do Céu uma voz que dizia: «Já O glorifiquei e tornarei a glorificá-l’O». A multidão que estava presente e ouvira dizia ter sido um trovão. Outros afirmavam: «Foi um Anjo que Lhe falou». Disse Jesus: «Não foi por minha causa que esta voz se fez ouvir; foi por vossa causa. Chegou a hora em que este mundo vai ser julgado. Chegou a hora em que vai ser expulso o príncipe deste mundo. E quando Eu for elevado da terra, atrairei todos a Mim». Falava deste modo, para indicar de que morte ia morrer.
Palavra da salvação.