Começo com uma pergunta: já pensaram no que é isso da esperança?
Pensar a sério, sem a tratar apenas como um enunciado ou uma categoria, mas como uma realidade que desafia, que dá luta. Uma realidade que em determinados momentos, feridos pela dureza daquilo que enfrentamos, nos obriga a revolver as entranhas de tudo em que acreditamos e pode até chegar ao limite de escapar-nos.
Ultimamente, descobri que a esperança não é uma realidade fácil, que não emerge a pedido, que rasteja tantas vezes pelo chão lamacento da dúvida, do medo, do desespero. Profundamente incarnada nas circunstâncias em que vivemos, ela é tão frágil, como o é também essa vida que experimentamos.
Um ideal de esperança incorruptível, sem oscilações, que paladinamente se autoapregoa, dificilmente convence. A esperança navega no mar da humildade, da pequenez, da indigência, da contrição, da crucifixão…
A esperança é a confiança que quem está afundado na escuridão tem no amanhecer. É, tantas vezes, sentir nas costas o chicote na tarde da Paixão, tentando não deixar de pensar na manhã da Páscoa. É um não arredar o pé da fidelidade, é a capacidade de viver a tensão do presente com todo o seu realismo, sem anestesia ou paliativos, mas de coração aberto à promessa do futuro.
Com porto seguro na fé de que Deus habita a história vencendo a morte com a vida, ela alimenta-se de todos os raios de luz que encontra pelo caminho, recolhe-os avidamente, constrói com eles a base de segurança de que é capaz a nossa humanidade marcada pelo sofrimento, a perda, a privação.
Em quantas vidas a esperança começa como um mar violento, uma batalha aberta com o que somos, com as expectativas que alimentámos e com os sonhos que ainda sonhamos, para depois se ir transformando em mar sereno, fazendo emergir a humildade e grandeza de alma, a gratidão e a generosidade, o perdão e a paz?
Quem anda à luta com a esperança reza como quem respira, ama como quem não tem tempo, vive a verdade como se não houvesse mais nada.
Quem anda à luta com a esperança, não suporta que dela fale quem nunca pensou muito nisso.
Padre Hugo Gonçalves