1.  Quando chega o mês de Julho  todos procuram organizar a sua vida para poderem disfrutar de uns dias de descanso. Durante muito tempo chamou-se a esse período do ano as “férias grandes”.  Ao longo de séculos, no mundo rural, o repouso semanal estava reservado para cada domingo. Aliás, cumpria-se assim o que o Livro do Genesis chama  o sétimo dia, em que Deus,  depois de completar a Criação, descansou. Os trabalhadores do campo que lidavam com a terra nos seis dias da semana, ao domingo  paravam todas as suas actividades  e dedicavam o seu dia a ir à Missa e a estar com a família.   Não havia, porém, para esses um tempo de férias. Veio depois a era da industrialização. O trabalho nas fábricas era muito violento .Para além da tarde de sábado e de domingo como repouso semanal, tornou-se necessário criar um mês de descanso, essencial para a rentabilidade de quantos ao longo do ano estavam “agarrados” às máquinas. No mundo actual, com os movimentos de defesa dos trabalhadores, o fim-de-semana tornou-se indispensável, o sábado e o  domingo completos. No Verão reservaram-se pelo menos 22 dias para sair dos ambientes normais de trabalho, regressando-se depois à actividade quotidiana que é pedida a cada cidadão. Foi a este tempo que se passou a chamar “férias”. Três notas importantes caracterizam estes dias diferentes:

.É um tempo para si próprio  –  as pessoas precisam de alterar as suas rotinas, procurar  outros lugares, encontrar outros amigos. Toda  esta mudança de  ambientes, no período de férias, permite pôr de lado as preocupações do dia-a-dia para descansar o corpo e o espírito. Assim, cada um pode sentir-se  melhor no regresso a casa para um novo ano de trabalho.

.É um tempo para os outros –  durante o ano  não se tem grande oportunidade  para estar com muitos familiares e amigos.  Sobretudo no meio urbano passa-se  pelos outros sem sequer  se  dar por eles. A vida é uma correria constante. Em férias tudo é diferente. O tempo livre constitui tantas e tantas vezes oportunidade para estar com gente  que pela sua cultura, pela sua sensibilidade e até pela originalidade  que tem, acaba  por tornar-se uma relação importante no bem-estar que se procura. Estas relações são diferentes, mas a riqueza que se recebe delas é essencial para valorizar  a vida. 

.É um tempo para Deus  –  quando se está mais livre, até pelo simples contacto com a natureza, sente-se  que  Deus  está  perto.  Ele,  como  diz  o  profeta  Elias,  não  vem  na  tempestade  de  uma actividade intensa, vem na brisa da tarde que sopra  no alto dos montes, ou no murmúrio do mar junto à praia. A oração é mais que ocupação do tempo, é  silêncio que oferece a paz indispensável a qualquer recomeço. O diálogo com Deus e as respostas de Deus na sua Palavra relembram  valores extraordinários que com facilidade se esquecem ao longo do ano.

Compreende-se facilmente que as férias são indispensáveis para o equilíbrio de cada um, para a harmonia das relações humanas, para a descoberta de novos  horizontes, para a alegria que  vai dominar a vida no regresso ao trabalho diário.

2.  Onde e como fazer férias? Há famílias que se organizam todos os anos da mesma maneira. Têm casa na praia ou no campo e ali convivem os avós, os pais, os filhos, os netos, numa relação da maior intimidade que respeita, porém, a originalidade de cada um. Quem vive no mundo do trabalho conversa muitas vezes com os outros sobre as várias experiências em tempo de férias. Começa, então, a sonhar com esses dias que vai passar longe do escritório, da escola, do hospital ou da empresa. Alguns,  porém, por razões diversas não podem sair da casa onde vivem. Conseguem algumas fugas até ao mar, privilegiam uma visita a alguns museus, ou até se organizam para estar com as pessoas, vizinhos ou outros, que se sentem mais sós.  São inúmeras as  maneiras de passar os dias de férias:

.Algum tempo na praia  –  sobretudo quando na  família se tem crianças e  jovens, a  praia é essencial para a saúde  e para a alegria colectiva que os grupos de férias contêm.  O tempo da praia não é só a areia e o mar. Organizam-se inúmeros passeios, participa-se em festas marcadas por um “mote” comum, reúnem-se as pessoas nas esplanadas que se enchem ao fim da tarde com as crianças a brincar e os adultos a conviver. 

.Uns  dias  no  campo  –  há  muita  gente  que  para as  suas  férias  prefere  o regresso  à  casa  da infância. Ali, o tempo está invadido por inúmeras recordações. As histórias não se esgotam. Numa espécie de regresso ao passado, recorda-se todo o caminho da vida. Às vezes o campo proporciona  também  momentos  muito  especiais  como  os  das  vindimas,  em  que  todos participam  na  colheita  das  uvas,  pisando-as  depois  no  lagar,  até  à  fermentação  que  irá proporcionar um vinho saboroso.

.Uma viagem  –  nos nossos dias é muito agradável conhecer novas terras. Pode ser dentro de Portugal,  onde  cada  região  tem  segredos  próprios  que  não  podem  perder-se.  Por  vezes organiza-se  um  passeio  a  um  país  da  Europa,  ou  a  outros  mundos.  É  oportunidade  para conhecer novas culturas alicerçadas na história de cada região que se visita. Então não se pode perder  um  monumento,  um  museu,  um  ambiente  com  as  suas  ruas  e  praças  absolutamente originais.  Por vezes estes passeios fazem-se com a família. O caminhar em comum torna-se uma forma de maior comunhão e mais amor.

.Um retiro – os crentes por vezes escolhem alguns dias de  férias para o silêncio. Recolhem-se num mosteiro, procuram um orientador, seguem algumas páginas do Evangelho e, assim, na maior intimidade com Deus,  refrescam a mente e o coração. Se, como diz o Papa Francisco, “ser cristão é um caminho de libertação”, alguns dias de retiro permitem a libertação do próprio “eu” e a possibilidade de caminhar ao encontro de Deus e dos irmãos.

Há muitas  outras maneiras de fazer férias, mas estas deverão estar sempre dominadas pelo descanso do corpo e do espírito, pela serenidade e pela paz interior e, sobretudo, pela disponibilidade conseguida para o regresso à actividade normal de cada dia.

3.  As férias podem proporcionar  a oportunidade para coisas necessárias que a actividade habitual deixou para trás. Vale a pena pôr em dia a leitura de livros que continuam fechados na mesa de trabalho ou na mesinha  de  cabeceira;  arrumar  a  casa  com  pequenas  alterações  que  a tornem  mais  confortável;  visitar alguns  amigos  que  quase  foram  esquecidos  na  roda  do  ano;  pôr  “papéis”  em  ordem,  muitos  deles amontoados na secretária ao longo dos meses; e, até, ir ao ginásio, praticar desporto, ir ao restaurante. Não esquecer, porém, que nas férias é necessário reservar um tempo, diariamente, para falar com Deus.

4.  Nestes meses de Julho e Agosto todos partem para férias, cada um à sua maneira. O grande objectivo é o regresso ao trabalho com mais energia, com maior capacidade de servir, com a grande alegria de viver. A Paróquia  do  Campo  Grande  está  a  renovar-se  profundamente.  Regressando  de  férias  poderá  cada  um perguntar-se: como vai colaborar?
Boas férias!

P. Vítor Feytor Pinto