O mundo de hoje vive constantemente preocupado com os problemas económico-financeiros. Não é só no mundo da política e das empresas em que o problema dos orçamentos e do controle de despesas chega a escravizar toda a gente, preocupados exclusivamente com o que gastar e como gastar. A sociedade de consumo tornou as coisas materiais como paradigma do desenvolvimento e de todo o bem-estar. É com os dinheiros que se alimentam as vaidades. A qualidade de vida classifica-se pelo tipo de coisas que se possuem ou que se consomem. O ter tornou-se quase o único valor a considerar no viver comum em sociedade. A liturgia de hoje contraria esta mentalidade economicista convidando a reflectir sobre os valores cristãos que deverão enformar a vida toda. As coisas são sempre relativas. Elas estão ao serviço do homem e não o homem ao serviço das coisas. Tudo isto está bem claro nos três textos da Palavra de Deus que a liturgia hoje oferece. Coelet avisa que a tentação da vaidade torna infelizes todas as pessoas, “vaidade das vaidades, tudo é vaidade” (Co 1, 2), é afirmação que classifica a preocupação dos humanos marcados pelas dores, pelos cuidados, pelas preocupações. Liberto das vaidades, o ser humano torna-se mais simples, mais capaz de aceitar o que é difícil, mais revestido de uma coragem que lhe permite recomeçar sempre, vencendo as situações mais duras. Se se deixar dominar pela vaidade acabará por perder tudo.
É este o aviso do Evangelho ao contar a parábola do homem que teve um campo com um rendimento extraordinário. Pensou poder dormir descansado porque as colheitas tinham sido abundantes. Não esperava, porém, vir a morrer nessa mesma noite. O Evangelho previne dizendo da necessidade de ter critérios diferentes porque “o que preparaste, para quem será? Assim acontece a quem acumula para si, em vez de se tornar rico aos olhos de Deus” (Lc 12, 21).
S. Paulo aos Colossenses pede então, aos cristãos, que vivam com critérios diferentes “se ressuscitaste com Cristo, buscai o que é do Alto, amai o que é do Alto, vivei segundo aquilo que são os critérios de Deus” (cf Col 3).
A liturgia deste domingo convida a apreciar o valor das coisas não, segundo os critérios dos homens, mas segundo os critérios de Deus
Monsenhor Vitor Feytor Pinto
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«AMIGO,
QUEM ME FEZ JUIZ OU ÁRBITRO
DAS VOSSAS PARTILHAS?»
(Lc 12, 14)
I LEITURA – Co (Ecle) 1, 2; 2, 21-23
Critica, um tanto amarga, das concepções tradicionais a respeito do bem e do mal.
Leitura do Livro de Coelet
Vaidade das vaidades – diz Coelet – vaidade das vaidades: tudo é vaidade. Quem trabalhou com sabedoria, ciência e êxito, tem de deixar tudo a outro que nada fez. Também isto é vaidade e grande desgraça. Mas então, que aproveita ao homem todo o seu trabalho e a ânsia com que se afadigou debaixo do sol? Na verdade, todos os seus dias são cheios de dores e os seus trabalhos cheios de cuidados e preocupações; e nem de noite o seu coração descansa. Também isto é vaidade.
Palavra do Senhor.
SALMO RESPONSORIAL – Salmo 89 (90), 3-6.12-14.17 (R. 1)
Refrão: Senhor, tendes sido o nosso refúgio
através das gerações. Repete-se
Vós reduzis o homem ao pó da terra
e dizeis: «Voltai, filhos de Adão».
Mil anos a vossos olhos
são como o dia de ontem que passou
e como uma vigília da noite. Refrão
Vós os arrebatais como um sonho,
como a erva que de manhã reverdece;
de manhã floresce e viceja,
de tarde ela murcha e seca. Refrão
Ensinai-nos a contar os nossos dias,
para chegarmos à sabedoria do coração.
Voltai, Senhor! Até quando…
Tende piedade dos vossos servos. Refrão
Saciai-nos desde a manhã com a vossa bondade,
para nos alegrarmos e exultarmos todos os dias.
Desça sobre nós a graça do Senhor nosso Deus.
Confirmai, Senhor, a obra das nossas mãos. Refrão
II LEITURA – Col 3, 1-5.9-11
«Aspirai às coisas do alto»
Leitura da Epístola do Apóstolo São Paulo aos Colossenses
Irmãos: Se ressuscitastes com Cristo, aspirai às coisas do alto, onde Cristo está sentado à direita de Deus. Afeiçoai-vos às coisas do alto e não às da terra. Porque vós morrestes e a vossa vida está escondida com Cristo em Deus. Quando Cristo, que é a vossa vida, Se manifestar, também vós vos manifestareis com Ele na glória. Portanto, fazei morrer o que em vós é terreno: imoralidade, impureza, paixões, maus desejos e avareza, que é uma idolatria. Não mintais uns aos outros, vós que vos despojastes do homem velho com as suas acções e vos revestistes do homem novo, que, para alcançar a verdadeira ciência, se vai renovando à imagem do seu Criador. Aí não há grego ou judeu, circunciso ou incircunciso, bárbaro ou cita, escravo ou livre; o que há é Cristo, que é tudo e está em todos.
Palavra do Senhor.
ALELUIA – Mt 5, 3
Refrão: Aleluia. Repete-se
Bem-aventurados os pobres em espírito,
porque deles é o reino dos Céus. Refrão
EVANGELHO – Lc 12, 13-21
Jesus condena o procedimento do homem rico e avarento para quem o único motor da vida é o dinheiro.
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
Naquele tempo, alguém, do meio da multidão, disse a Jesus: «Mestre, diz a meu irmão que reparta a herança comigo». Jesus respondeu-lhe: «Amigo, quem Me fez juiz ou árbitro das vossas partilhas?». Depois disse aos presentes: «Vede bem, guardai-vos de toda a avareza: a vida de uma pessoa não depende da abundância dos seus bens». E disse-lhes esta parábola: «O campo dum homem rico tinha produzido excelente colheita. Ele pensou consigo: ‘Que hei-de fazer, pois não tenho onde guardar a minha colheita? Vou fazer assim: Deitarei abaixo os meus celeiros para construir outros maiores, onde guardarei todo o meu trigo e os meus bens. Então poderei dizer a mim mesmo: Minha alma, tens muitos bens em depósito para longos anos. Descansa, come, bebe, regala-te’. Mas Deus respondeu-lhe: ‘Insensato! Esta noite terás de entregar a tua alma. O que preparaste, para quem será?’. Assim acontece a quem acumula para si, em vez de se tornar rico aos olhos de Deus».
Palavra da salvação.